segunda-feira, 12 de outubro de 2009

No covil da Fera

21

No interior da limusine, para além do motorista, separado por
um vidro fumado, encontravam-se, já, quatro homens.
Sérgio Cassino, bem bronzeado, de fato escuro e camisa branca
aberta no peito, Verlic Ustinov, cuja elevada estatura
fazia a viatura parecer pequena, de jeans de marca
e camisa de seda preta, vendo-se pela abertura da mesma
vários espessos cordões de ouro,
Hans Hahn, com o seu olhar enviesado, vestido
como para uma reunião de banqueiros na Suíça
e Miltinho do Pagode, com a sua habitual t-shirt preta,
que lhe realçava os, poderosos e bem definidos, músculos.
Nenhum, com excepção de Sérgio, pareceu muito contente
com estes dois novos passageiros que, agora,
vinham partilhar com eles aquele espaço.
Deolinda e Teo, sentaram-se lado a lado,
aguardando o início das hostilidades.
“-Bebem alguma coisa? Cerveja? Champagne?”
perguntou-lhes um cordial Sérgio, dirigindo
o seu sorriso deslumbrante em direcção de Deolinda.
“ – Você não é portuguesa de Portugal, pois não? Angolana?”
Farta de responder a esta pergunta, Deolinda satisfez-lhe a curiosidade:
“- Nasci nos arredores de Lisboa, mas a minha mãe é cabo verdiana”.
Parecendo ficar satisfeito com a informação,
Sérgio recostou-se no banco de pele.
“- E então julgavam que a boba da minha mulher me conseguia passar a perna?”.
Vendo que os dois lusitanos permaneciam em silêncio,
debruçou-se de modo a aproximar-se a poucos centímetros do rosto
de Teo e numa súbita explosão de violência gritou-lhe:
“- Desde o dia em que vocês foram paquerar para o Bairro Alto que sei todos os vossos passos , seus babacas.”
Teo tentou salvar a face “- Não há nada de namoros, é só trabalho”.
“- Então você é ainda mais idiota do que eu pensava”
cuspiu-lhe o milionário” e hoje meteu conversa com Miltinho, que nem tinha reparado em você”.
Miltinho, sentindo-se criticado indirectamente, olhou Teo com ódio.
“- Só que, quando você o deixou sem resposta,
ele se lembrou de quem você era e seguiu seu taxi”..
E terminou, sorrindo outra vez “ – Mas como seguia você, perdeu,
também, minha mulher de vista”.
Velic e Hans exibiam sorrisos irónicos, enquanto Miltinho
parecia prestes a esmurrar Teo e a praticar
as piores sevícias à atraente morena que, como ele já esperava,
tinha despertado o interesse do patrão.
Teo, tentando não se preocupar muito com o seu futuro próximo,
que se adivinhava negro, olhou disfarçadamente
os seus companheiros de viatura.
Hans Hahn, aparentando uma palidez doentia,
observava tudo com um sorriso de quem se satisfaz com a infelicidade alheia.
Miltinho expelia ódio pelos olhos, prestes a estrangulá-lo com as mãos poderosas.
Sérgio, alternava os momentos de boa disposição com as cóleras
mais repentinas, enquanto olhava os joelhos redondos de Deolinda.
E Velic, de mangas arregaçadas olhava-o com curiosidade.
Foi então que Teo reparou numa pequena tatuagem,
no pulso deste último, que até aí lhe passara despercebida
– um pequeno galo de cor preta…

3 comentários:

  1. Ó homem! Despache lá isto! Estamos em pulgas.
    Coitada da moça Deolinda, ali no meio daqueles marmanjos...

    ResponderExcluir
  2. Bem, agora com esta tatuagem em forma de galo parece-me que já faltou mais...

    ResponderExcluir
  3. Johnny, acho que Hans Hahn, com o seu olhar enviesado, vestido como para uma reunião de banqueiros na Suíça é uma para ti...


    Só na medida em que 'Hans' é uma forma de dizer Johann, e Hahn quer dizer Galo em alemão... ´tás lixado.

    :-]]


    _________________________________________________________


    Jaime Varela, adorei o milionário a 'cuspir-lhe'.

    :-)




    On another note:

    Ainda hoje estou para saber o que é mais insultuoso, ""babaca" ou "bocó"... e já agora, como é que cada um deles se traduz para 'tuguês'...

    ResponderExcluir