sábado, 6 de junho de 2009

Com cumprimentos da Gerência

Carlão Veloso era um belo homem. E sabia-o. Alto, musculado, passava horas na academia. Nem um grama de gordura. Abdominais definidos.
Roupa escolhida a dedo. Ternos por medida.

Carlão Veloso era um mulherengo. E gostava de o ser.Via bem como as secretárias o miravam. Cochichando umas com as outras.
Contando, ou sonhando, casos com ele.

Carlão Veloso era um vendedor. E, talvez, o melhor. Vendia apartamentos de luxo. A dondocas. A mulheres ricas, mas enfastiadas.
Lindas de morrer, mas carenciadas e solitárias.

Carlão Veloso era casado. E bem casado. A Martinha era linda de morrer. Cheínha. Deixava loucos, os homens, quando passava.
Mas ela nem ligava, só pensando no Carlão.

Já o Carlão…não perdia uma. Trepava com secretárias, gostosas, novinhas.
Com socialites, quarentonas. Com a directora de vendas, a Laurinha.
Com a dona do botequim. Com a massagista. Até com a síndica do seu condomínio na Tijuca.
Traçara já mineiras e gringas de passagem pelo Rio, estudantes em viagem de fim de curso, ou estagiárias da Telebrás.

E todas no Motel Paraíso. Mesmo na Barra, depois de São Conrado.
Um motel pequeno, com espelhos no tecto, cama redonda,
jacuzzi e filmes eróticos.

A de hoje, era dona de uma cobertura na Lagoa.
Casada com um industrial do Ceará, que, rodeado de mulatinhas quase púberes, ia fazendo visitas cada vez mais espaçadas à Cidade Maravilhosa.

Como de costume, o sexo foi selvagem e desenfreado com um certo sabor a repetição.
Carlão olhou disfarçado as horas.
Ups…tão tarde. Não podia abusar da sorte.
Martinha confiava nele completamente. Acreditava nos seus serões , jogos de sinuca e de birita com os amigos, mas nunca se sabe…

Calculava que ela o estaria esperando com um sorriso, depois de um serão passado com alguma vizinha no cinema do bairro ou na sorveteria da esquina, mas não queria exagerar.

Com a conta, vieram dois Bombons de Cereja Paraíso, oferta personalizada do Motel.
Como sempre, os deu de oferta à sua companhia passageira.
Ela sorriu agradecida.

Chegou em casa, muito depressa. Naquela hora quase não havia trânsito.
Viu as luzes da sala apagadas e um reflexo ténue no dormitório.
Se despiu e avançou pé ante pé.
A Martinha já dormindo, com um sorriso radioso no rosto de madona italiana.

O candeeiro de abat jour iluminando a pequena mesa de cabeceira.
No tampo da qual, dois Bombons de Cereja Paraíso
pareciam rir bem na cara do Carlão.

A Dama do Lotação

4 comentários:

  1. Quem com ferro mata...com ferro morre.
    Muito bom.

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  2. Fartei-me de rir a imaginar a cara do Carlão.
    E a Martinha com um sorriso radioso...pudera.
    O pior vai ser quando o Carlão descobrir que o motivo do sorriso foi a vizinha de cima.

    Palmas para a Dama do Lotação, mais uma Grande entre as inúmeras Grandes.

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  3. Exclente, o conto, o Carlão e a pequena.Eu sempre aconselho muito cuidado aos que gostam de "pular o muro"...coisa que nunca farei.

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  4. Muito divertido e com um toque bem tropical.
    Será que a nossa brasileira...?

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