domingo, 7 de junho de 2009

O pequeno grande Estratega

Adorava jogar jogos de estratégia.
Passava horas à volta do tabuleiro do Risco.
A avançar com exércitos de cores variadas.
A invadir países, novos continentes.
A destruir castelos e praças fortes.
A afundar navios, a atingir aviões.
Quando ficava senhor do Mundo
sentia-se o maior.

Descobrira, há pouco tempo, o Age of Empires.
Começar do nada.
Ir construindo exércitos e fortalezas.
Alargando as fileiras, destruindo adversários.
Eliminar todos os outros impérios.
Até ficar um único, o seu.
Aí inchava como um peru,
impante de orgulho.

Também gostava da Batalha Naval.
Dar cabo das esquadras inimigas.
Descobrir a localização das embarcações.
Atirar-lhe com petardos para cima.
Deixá-los a apodrecer no fundo dos oceanos.
Que, no caso, eram páginas quadriculadas.
Cheias de anotações.
Códigos que só ele percebia.

Na escola, todos gozavam com ele.
Porque era baixinho e gordalhufo.
Com um caracol no meio da testa
e uma barriguinha já proeminente.
Quando as miúdas lhe dirigiam palavra
ele, tímido, não sabia o que fazer com as mãos
que escondia, onde calhava.

Mas sabia que um dia ia-se vingar.
Todos aqueles vermes rastejariam a seus pés.
As mulheres persegui-lo-iam.
Os artistas quereriam retratá-lo.
Ia ter um Império a que chamaria só seu.

Entretido por estes sonhos,
Nem deu pelo passar das horas.
A voz da Mãe despertou-o dos devaneios.
- Vem já para a mesa, Napoleão ! - gritava ela - estou farta
de te chamar, Napoleão Bonaparte !!!

Ernesto E. Minguêi

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