Tantas pistas, tantas mortes violentas, tantas situações que pareciam indicar uma realidade mas que no final, como que por artes de magia, indiciavam precisamente o contrário, estavam a deixar-me confuso.
E depois a forte pancada que, poucas horas atrás, me atingira com estrondo não ajudava mesmo nada a concentração de que, no momento, tanto precisava.
Mas recuemos até ao momento da descoberta do cadáver da pobre Vanessa.
A partir desse momento, senti da parte do Comendador Salcedas uma premência em pôr-me a andar dali para fora.
Chamou-me à parte e sentamo-nos em dois cadeirões de couro envelhecido num recanto do seu escritório mobilado com pesados móveis de mogno rodeados por óleos de pintores de renome.
Com palavras breves, o que era estranho nele, elogiou-me o trabalho, obrigou-me a receber um chorudo cheque como compensação pelos danos físicos e morais sofridos e chamou o motorista com ordens a que me levasse até ao Porto, ao Aeroporto Sá Carneiro, onde um bilhete de avião estaria à minha espera.
Às minhas tentativas de tentar perceber o que se passara, onde estariam a governante e a minha amiga Cristina, sentia que já a podia chamar assim, respondeu com um lacónico “ Elas hão-de aparecer…”
Quando entrei para o carro que me levaria de volta à capital nortenha, reparei que o automóvel da ‘Foxy Lady’ não se encontrava estacionado no local onde esta o deixara. Significaria isso que ela o tinha utilizado numa fuga precipitada ou que alguém o levara dali para fora ?
E se Vanessa fora assassinada, quem roubara da garagem o carro de colecção do Salcedas?
Foram essas e muitas outras perguntas que ocuparam a minha cabeça durante a curta viagem aérea que me fez regressar à minha cidade de origem.
Nem a forte turbulência que se fez sentir à chegada, me conseguiu distrair daquela saga de violência e incongruências em que me vira envolvido.
Não me senti com coragem e ânimo para ir para casa sózinho.
Dei a morada da Flor do Bairro onde fiz uma entrada triunfal saudada com exclamações de alegria por parte de quase todos os presentes.
Depois de tudo o que me acontecera, era bom ver caras conhecidas, sentir o cheiro habitual à carne assada da Dona Rosa e, até, ouvir as graçolas sempre repetitivas do meu amigo Cabeleira:
“É pá, vens cá com umas olheiras! Isso é que foi trabalhar no turno da noite…”
E a Dona Rosa, pressurosa “ Doutor Nuno, posso trazer um Caldinho Verde? É acabado de fazer…” Inclinando-se para passar um pano pelo tampo da mesa, murmurou-me ao ouvido “ …a Rosinha tem andado muito preocupada consigo!”
O desaparecimento da Cristina está a preocupar-me. E essa Rosinha o que vai querer?
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