quinta-feira, 4 de junho de 2009

Chama-se Luz

Chama-se Luz e nem os pais (melhor dizendo, a mãe) nem os padrinhos (melhor dizendo, o padrinho) sabiam quanto aquele nome a caracterizaria.
Sim porque Luz era uma mulher daquelas que onde quer que chegasse iluminava.
A Luz tinha uma luz que lhe vinha de dentro, daquela força que se sentia, mesmo que se mantivesse em silêncio, a um canto, sem se mexer.
Era alta a Luz, loira, de cabelos longos, olhos castanhos quase transparentes.
No rosto oval sobressaía o nariz. Um nariz que marcava, que não se podia ignorar.
Era um nariz redondinho, que facilmente ganhava brilho (coisa que a Luz odiava e que tentava combater com a borla de pó de arroz).
Era quase um nariz infantil que desligado do rosto seria… grotesco, mas que colocado na sua posição era uma referência que acentuava a luz da Luz.
Naquele dia… naquele fim de dia a Luz vestia-se para o jantar.
Olhou-se no espelho e sorriu à imagem (que simpaticamente lhe sorriu também).
A Luz vestia já calça de veludo “cotellet” dum creme indefinido mas que rimava muito bem com as botas de verniz preto que assomavam por debaixo da calça.
O reflexo no espelho mostrou-a nua da cintura para cima.
Os seios redondos espetavam-se para diante um pouco arrepiados de frio.
Luz olhou a camisa preta em “voile” de seda transparente.
Hesitou um momento e vestiu-a; Sentiu o tecido correr-lhe a pele e os bicos dos seios cresceram mais.
Sorriu agradada com a sua figura.
Pensou nas caras dos colegas, no jantar de Natal da empresa.
Imaginou o que seria o dia seguinte.
Questionou-se sobre a resistência do patrão às pressões que a mulher, a Dona Quitéria haveria de fazer, sobre aquela desavergonhada que fora ao jantar toda nua…
A dona Quitéria e a sua beatice.
Fealdade e dinheiro, o muito dinheiro que justificava o seu casamento pobre e sem filhos.
Depois lembrou-se do Mário, aquele colega do departamento de compras que havia já algum tempo lhe “ arrastava a asa…”
Depois tirou a camisa, vestiu o soutien preto, vestiu uma espécie de sombra negra e de novo a camisa.
Voltou a olhar-se no espelho…
Decididamente gostava mais da versão anterior.
Na casa de banho maquilhou-se.
Penteou os longos cabelos, vestiu o casaco comprido e saiu em direcção ao restaurante onde se realizaria o jantar de Natal.
Mas a luz da Luz continuava a brilhar sem que ela para isso nada fizesse.
Contos do Feeling Estranho

6 comentários:

  1. Gostei bastante, principalmente da sensualidade subjacente.
    E tudo o que se relaciona com seios
    ( redondos, bicos de seios, etc)agrada muito ao meu...intelecto.

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  2. Até que o Pedrito está virando safadito...

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  3. Não sei se será fácil a um escritor homem meter-se na cabeça de uma mulher, mas o Mr.Feeling conseguiu-o.Congratulations.

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  4. Margarida Ferreira dos Santos4 de junho de 2009 às 10:18

    Não sei se de facto o conseguiu...
    Não será fácil para um homem "meter-se na cabeça de uma mulher" e vice-versa, embora a toda a hora façamos esses ensaios, mesmo que pouco conscientes.
    De qualquer modo Feeling Good! Boa descrição destas particularidades femininas, que implicam certamente, julgo eu, observações atentas e regulares :-)

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  5. O que mais gosto nos seus contos é de facto o feeling estranho que nos deixa. Os finais surpreendem-me sempre pelo inacabado das situações. E será que Feeling Estranho é um homem?

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  6. Se a mocinha fosse eu, com fio dental e sem soutien a estória ia ficar mais caliente !!!

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