Parece que a chuva não nos larga.
A chuva, o vento e o frio fustigam Portugal, a Europa e o Hemisfério Norte de uma forma inusitada.
Basta ver televisão para nos darmos conta que o fenómeno não é só português.
Por toda a partes, os campos estão alagados, os rios transbordam dos seus leitos tradicionais, tudo está empapado em água.
Poderão dizer o que quiserem, mas será muito difícil não associar tudo isto às alterações climáticas para que os meteorologistas e os ecologistas nos têm vindo repetidamente a alertar. Estamos habituados a que nos falem destas coisas e que imediatamente, nada aconteça.
É que os avisos têm sido oportunos e enquanto tal, feitos com antecedência suficiente para que mudássemos os nossos hábitos e práticas.
Feliz ou infelizmente, o nosso planeta tem o seu próprio tempo de reacção e as repercussões só aparecem quando os factores em presença (os previstos e eventualmente outros que ainda não medimos) se conjugam. É por isso difícil prever a dimensão que as coisas tomam.
Isto, para além das perturbações geradas pelo próprio planeta: não esqueçamos que o potente sismo do Chile da passada semana terá provocado um desvio do eixo terrestre de cerca de oito centímetros.
Isso são coisa que não se podem (pelo menos por agora) prever e muito menos controlar.
Mais: não podemos sequer prever quais as repercussões que tal desvio poderá vir a ter nas condições ambientais da própria Terra, nem quando.
Aqui vivemos e esse é o preço que temos de pagar.
E seria só esse, se a espécie humana, graças à sua incrível inteligência, curiosidade e capacidade de transformação, não tivesse ela própria originado alterações incomensuráveis, à escala do próprio planeta.
É por isso que os desequilíbrios ecológicos se fazem sentir mais onde as condições ambientais foram mais fragilizadas.
Vejamos a Ilha da Madeira onde parece ter sido prática corrente a ocupação do leito de cheia das ribeiras: enquanto não há chuvas anormais, isto é, enquanto os leitos de cheia não são precisos, tudo se passa no melhor dos mundos.
É quando as condições são anormais, como este ano, que a tragédia bate à porta: impossibilitada de ocupar todo o leito de que necessita para dar vasão a toda a água que choveu, porque este foi indevidamente ocupado, a água salta fora dele e transforma-se num monstro disforme, imprevisível e incontrolável.
Claro que aí já não estamos só em presença de água, mas de uma massa de água misturada com terra e tudo o que de indevido foi construído nesse território que não podíamos ocupar porque fazia parte do sistema de defesa da própria Terra.
O mesmo aconteceu em França há dias: perguntam-se os franceses porque é que lá há mais de setenta mortos e em Portugal e Espanha, com exactamente a mesma tempestade, só houve um total de três.
Acho que têm de se ser um pouco mais precisos e perguntar por onde passou a tempestade e que condições físicas encontrou por onde passou.
Tal e qual como na Madeira: que saibamos, embora tenha chovido o mesmo por toda a ilha, foi sobretudo na baixa da cidade do Funchal, e na Ribeira Brava (este nome deve querer dizer alguma coisa…) que houve os mais graves problemas.
Valerá então a pena perguntar porque não aconteceu no resto do território e creio que a resposta se encontra na transformação desregrada da Natureza provocada pelo Homem.
Ou seja, não foi só de chuva que se fez a catástrofe, mas da incúria e da inconsciência transformadora do próprio Homem.
E é com isso que é urgente aprender, ou os mortos de agora terão morrido em vão.
A melhor forma de homenagear os que perderam as suas vidas ou as viram irremediavelmente transtornadas, é aprender com os erros cometidos.
Exija que todo o território seja coberto por regras de ordenamento paisagístico.
Exija que existam planos de ocupação e utilização do território.
Cumpra e faça cumprir as regras urbanísticas.
Cumpra e faça cumprir as regras de construção dos edifícios.
Se não entende porque existem as regras que estão em vigor, pergunte porque existem e exija respostas claras e completas.
É para salvaguarda de todos nós que o deve fazer.
É sobretudo para salvaguarda das condições de vida e segurança física dos filhos e netos que nos seguirão que deve exigi-lo.
Temos de viver em harmonia com a Natureza e o planeta que habitamos porque, já o sabemos, se houver guerra, é ele que ganha.
Fernando Pinto
sábado, 6 de março de 2010
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È exactamente como o Fernando dix, nada a acrescentar.
ResponderExcluirCuidado, não devemos cair nos exageros.A natureza tem uma sabedoria, bem comprovada ao longo de milénios que ainda mal nos foi revelada.
ResponderExcluirNa verdade, o Homem tem abusado e continua a cometer graves erros contra a Natureza, está mesmo aprendendo da forma mais trágica mas a controvérsia que os fundamentalismos provocam, em nada beneficiam a boa aceitação pela Humanidade,de teorias mais ponderadas e sensatas.
Em suma, sou frontalmente contra quem anuncia o fim do mundo...
Alarmismo é uma coisa.
ResponderExcluirAlertas como este, bem fundamentados, são outra coisa completamente diferente...
O que o Fernando nos está a dizer é que TODOS, sem excepção, temos obrigação de exercer ACTIVAMENTE a nossa cidadania - esta palavra está muito gasta, mas não encontro outra melhor - alertando, cumprindo regras e fazendo com que sejam cumpridas.
ResponderExcluirSou fumadora e, há muitos anos, alguém me chamou a atenção para o facto de não dever deixar as pontas dos cigarros na areia das praias.
A mim, nunca me tinha ocorrido que era um procedimento errado...
Hoje, há cinzeiros nas praias e sinto-me mal pelo comportamento que tive...
Às vezes, uma palavra é o suficiente...