segunda-feira, 8 de março de 2010

XLIII - A caça ao Tesouro

Comecei a repetir em voz alta as novas pistas encontradas.

“Livro amarelo…desta janela…vento e rocha.”

Cristina, a Impaciente, manifestou o seu desagrado “ Mas isso não faz qualquer sentido…” E, penso que a tentar imitar-me, pôs-se a dizer“ Yellow Book…yellow book…”

Só quando o silêncio se instalou por mais uns segundos é que me apercebi que ela, de olhos muito abertos, apontava uma mesa redonda junto a uma das janelas. Sobre a mesa, de madeira de cerejeira polida, um enorme volume encadernado num tecido de cor amarela chamava a sua, a nossa, atenção. Levantámo-nos os dois, num atropelo.

O livro tinha como título “Across the river and into the trees.O autor, claro, era esse mesmo…Ernest Hemingway.

Senti que estávamos, finalmente, na direcção certa. Foi a minha vez de avançar mais um passo.Do outro lado do rio, por entre as árvores…desta janela !!!” Precipitámo-nos para a janela que, como todas as outras, se abria sobre o rio.

Só que a vista desta tinha uma particularidade…

Enquanto que das outras apenas se viam vinhas e o rio, desta …do outro lado do rio, via-se um conjunto de três árvores de porte. Três carvalhos seculares… “Into the trees…”

Cristina já abanava furiosamente uma pequena sineta, pousada em cima da mesma mesa.

Não tenho a certeza se queria ver, de novo, a tórrida Vanessa, nos tempos mais próximos, mas senti-me um pouco decepcionado ao ver que quem ocorreu ao chamamento foi a governanta.“Os senhores chamaram?”

“ De quem são as terras do lado de lá do rio?” e antes mesmo de ouvir a resposta, a sempre acelerada ‘Foxy Lady’ fez a segunda pergunta “…e como é que se pode passar para o lado de lá?”

D. Gertrudes, sempre com o seu sorriso de fada boa, respondeu com uma calma que lembrava um mordomo inglês.“ Todas as terras ao redor, pertencem ao Senhor Comendador.”

Enquanto esperava a segunda resposta, pensei que o Salcedas sabia escolher o pessoal – a filha dos emigrantes, além das qualidades que eu comprovara ( e certamente, também o Comendador) falava em job descriptions, e esta matrona era possuidora de genes britânicos.

Mas a resposta já vinha a caminho “ Para cruzar o rio o Ti Jaquim pode levar-vos na lancha…” uma pausa teatral “…do Senhor Comendador, claro…”

Claro…

Levámos cerca de meia hora a reunir, com a ajuda preciosa do Ti Jaquim, as ferramentas e utensílios que julgámos poderem ter alguma utilidade na continuação das nossas pesquisas. Pás e enxadas, cordas, lanternas, uma bússola, uma lupa…quando chegámos a esta parte da lupa, olhei para a Cristina e desatámo-nos a rir.

A tensão existente desde o meu quiproquó nocturno, desvanecera-se, finalmente.

A D. Gertrudes, entretanto, pensando que iríamos partir para algum pic-nic à sombra das árvores, preparara-nos um cesto forrado a chita, com baguetes com alface e carne assada, um termo com café e outro com sumo de laranja, peças de fruta, enfim, um banquete.

Por fim, embarcámos na moderna lancha a motor que estava ancorada num pequeno cais, em direcção aos três carvalhos que se erguiam imponentes, na outra margem do Douro.

Quando olhei o solar, que ficava para trás, vi a Vanessa na varanda, a falar ao telemóvel…

3 comentários:

  1. E tem sempre de haver uma comidinha, pois é? ou um pequeno almoço a preceito, ou um almoço à beira mar, ou um piquenique (adoro piqueniques, com cesto de verga e toalha aos quadrados)...Nada como um gourmet a escrever.
    E essa Vanessa? ainda vai dar que falar...

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  2. Mais estranho do que a lupa, é a bússola!
    E cá para mim, a Vanessa a falar ao telemóvel, também tem água no bico...

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