O regresso á Quinta do Coto fez-se num silêncio quase total.
Eu ia entremeando pensamentos acerca das inúmeras e incompreensíveis pistas que já tínhamos, com outros momentos em que uma pesada sonolência me fazia cair a cabeça, para logo acordar sobressaltado quando uma curva mais apertada, seguida pelo chiar de pneus, o que era uma das marcas registadas da forma de condução da ‘Foxy’, me despertava, de novo, para vida.
Cristina, de olhos fixos na estrada sinuosa, guiava com a intensidade que sempre punha em tudo o que fazia. Calada, a fumar ininterruptamente, cigarro atrás de cigarro.
Como os vidros do carro permaneciam fechados, devido ao frio da noite gélida, o fumo parecia formar uma nuvem de neblina, com o cheiro da nicotina a colar-se-me à pele e à roupa como uma película mal cheirosa.
Os hábitos de fumadora inveterada da minha ‘partner’ estavam a fazer com que eu não sentisse a mínima vontade de acender um cigarro.
Desde que saíramos de Lisboa, dera apenas uma fumaça na varanda da herdade para logo, rapidamente, apagar o cigarro.
Quando chegámos a ‘casa’ olhei o relógio. Duas e um quarto…
Não era de estranhar que estivesse cansado e com sono.
Subimos a escadaria, que dava acesso ao andar dos quartos, e despedimo-nos à porta dos nossos aposentos contíguos.
“ O Mário prometeu-me que amanhã, logo cedo, vamos ter cá a cópia das citações…” despediu-se a Cristina, sem disfarçar um bocejo”…aproveite para pôr o sono em dia.”
A pressão do chuveiro do meu box era fortíssima e enorme o caudal da água. Exactamente como eu gosto…
Demorei largos minutos a esfregar-me com uma luva de crina que encontrei num cesto de vime, cheio de acessórios de banho, óleos e utensílios de massagem.
Não me lembro de me ter enfiado na cama nem de ter adormecido, mas esta última parte não é de estranhar porque tenho um sistema qualquer de interruptor que, quando atinjo a inclinação de 45º me desliga completamente, de modo a atingir a almofada, quase sempre, em estado de sono profundo.
Poucas, foram as vezes, na minha vida, em que me revolvi na cama, durante mais do que três, quatro minutos, com problemas em adormecer.
Talvez, nos dias após o divórcio da Marta, quando a minha vida e planos sofreram uma reviravolta de 180º ou nas semanas que se sucederam ao acidente em que os meus pais perderam a vida, quando eu era ainda adolescente, mas em poucas outras circunstâncias…
Outra característica minha é que, apesar de todos sonharmos habitualmente, segundo dizem os entendidos, eu quase nunca consigo recordar um sonho que tenha tido.
Os eventuais pensamentos oníricos que possam povoar a minha mente durante o descanso nocturno, desvanecem-se totalmente com o acordar matinal.
Mas não foi esse o caso desta noite…
Lembro-me, perfeitamente, dos mínimos pormenores da minha fantasia, erótica, como convém…
A ‘Foxy Lady’ e eu próprio amávamo-nos, com sofreguidão, num areal totalmente desconhecido. Ao longe, como uma melopeia repetitiva, o ruído das ondas…
Ocasionalmente, grupos de pessoas passavam por nós, sem nos dedicarem um só olhar.
O que, também, não parecia perturbar ou preocupar as nossas manifestações de afecto…
Nesse momento, algo me fez despertar completamente e interromper o agradável sonho.
Alguém, tentando não fazer barulho, abrira uma das portas do quarto e cruzava a habitação na direcção da minha cama …
terça-feira, 2 de março de 2010
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Será desta?
ResponderExcluirPelo título deste episódio, até parece!
ResponderExcluirMas nunca se sabe quando é que o Galo vai abrir mais um corredor para esta história...