Almeida Garrett, feito Visconde por decreto de D. Pedro V, escritor e dramaturgo, ministro e mulherengo, um perfeito dândi, mas, em simultâneo, revolucionário activo nos anos 20 e 30, tendo participado na Vilafrancada, no desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto, reunia as condições ideais para ter deslumbrado o Papa Hemingway na sua descoberta de Portugal e ser, talvez, o herói o ‘at least one’ de uma das citações, mas já o nome de Barata Feyo não me dizia muito…
Depois de termos deixado o nosso ‘cicerone’ do Hospital que insistiu em dar o número do telemóvel à Cristina “…para o caso de precisar alguma coisa aqui do Porto!” avançámos para a Ribeira onde nos instalámos num restaurante que a ‘Foxy Lady’ já conhecia e que me disse ser do Rui Veloso.
Quando eu me comecei a alongar com considerações acerca da estadia de Garrett em Inglaterra, a sua descoberta de Shakespeare e Walter Scott, as visitas aos castelos feudais e ruínas góticas, Cristina atalhou, com a rudeza habitual que, quase, roçava, a indelicadeza” Bem, isso agora não interessa nada…quer saber o que eu descobri aqui acerca do tal Barata Feyo?”
Perdido nas minhas considerações sobre uma das maiores figuras do romantismo português que tinham incluido, inclusive, piadas do tipo ‘ Garrett vestia calções à inglesa…e a inglesa ria-se muito enquanto ele lhos vestia!’ não me apercebera que, do outro lado da mesa, a ‘head hunter’ sacara do seu minúsculo e branco computador e já descobrira alguns dados acerca do autor da janela do hospital.
“ Salvador Barata Feyo, escultor, nasceu em Moçâmedes em 1899, cinquenta anos depois veio viver para o Porto onde criou, entre outras obras, a estátua de Almeida Garrett que se situa em frente à Câmara Municipal do Porto, na Praça General Humberto Delgado, ao cimo da Avenida dos Aliados, que foi inaugurada em 1954…”
As coincidências sucediam-se…
Mais uma ligação entre Barata Feyo e Almeida Garrett para além de duas outras a unirem-no ao escritor norte americano.
“ O ano de nascimento do escultor, 1899, é o mesmo do nascimento de Hemingway e a data de inauguração da estátua de Garrett,1954, é a mesma em que este ganhou o Nobel da Literatura…”recordei eu, recorrendo aos meus conhecimentos acerca do criador imortal de ’O velho e o mar’.
“Coincidências a mais, não lhe parece?” cortou Cristina.
Nesse momento tocou o telemóvel.
Depois de uma breve e sussurrada conversa, entremeada por sorrisos, a minha companheira de aventuras informou-me que era o tal Gavião a dizer-lhe que já era seguro que na manhã do dia seguinte iríamos receber a cópia das citações de Hemingway.
Resolvi ignorar a informação…
Uma hora depois, duas almas penadas ( Cristina e eu próprio) andávamos às voltas da imponente estátua do autor do ‘Frei Luís de Sousa’, tentando vislumbrar algum detalhe, algo de insólito que nos conduzisse à próxima pista…
O frio intenso tolhia-nos os movimentos, mas não a intensidade com que observávamos todos os recantos do bronze envolto num manto esvoaçante.
Na figura, onde os ângulos rectos e as linhas direitas transmitiam uma imponência que não correspondia às representações iconográficas mais conhecidas do escritor, nada de estranho ou misterioso era visível.
Só quando estávamos quase a dar por terminada a nossa pesquisa é que reparei numa pequena placa com uma citação do retratado.
“Se na nossa cidade há muito quem troque o B pelo V, há muito pouco quem troque a Liberdade pela Servidão.
Almeida Garrett"
segunda-feira, 1 de março de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O Almeida Garrett não me interessa, tive que o ler no 5º ou no 7º ano do liceu para passar a Português, 'caganda chatice.
ResponderExcluir:-(
(gimme Antero, Camilo Pessanha, Ferreira de Castro et al anytime...)
Agora se estivéssemos a falar da Garett do Estoril, que ainda por cima deixou de ser um buraco escuro e continua a ter o melhor bolo-rei do país e arredores, então é outra estória...
:-)
Então, e as cenas tórridas???!!!
ResponderExcluir