O Urso escolheu o 'Mel', como é natural...
'Honey', de Semih Kaplanoglu,
ganhou a 60.ª edição do Festival de Berlim.
A melhor guloseima que se pode dar a um urso é mel.
Por isso não espanta ninguém que, mesmo fora da lista de favoritos ao Urso de Ouro, Honey, o poético filme do turco Semih Kaplanoglu, tenha adocicado a sensibilidade do júri do Festival de Berlim presidido por essa personalidade visionária e naturalista que é o realizador Werner Herzog.
Honey até passou aparentemente despercebido com uma projecção de imprensa menos cheia que o habitual, e uma conferência de imprensa a meio gás, já que à mesma hora se projectava L'illusionniste, a animação de Sylvan Chomet, a partir de um argumento de Jacques Tati, que estava extra-competição.
Honey é um daqueles filmes épicos onde não são necessárias muitas palavras, como aliás nos dois outros que compõem esta finalização da trilogia de Yusuf (Egg, 2007, e Milk, 2008), uma história contada de trás para a frente sobre a vida do poeta da Anatólia, aqui no seu primeiro ano de escola primária.
Yusuf é agora uma criança de sete anos (uma terna interpretação do pequeno Bora Altas, que esteve em Berlim de urso de peluche ao colo) que vive numa casa rodeada pela floresta, um lugar de uma misteriosa beleza, que lhe rouba o pai.
The Ghost Writer, o hitchcockiano ensaio de Roman Polanski, à partida o grande favorito, ganhou o Urso de Prata de Melhor Realizador, com o realizador ausente e recluso no seu chalet suíço.
Um prémio justo para um bom filme e um realizador habituado a resolver com genialidade as grandes intrigas sobre o mal, desta vez num brilhante thriller político baseado num romance do Robert Harris.
Dois grandes vencedores desta edição foram: If Want to Whistle, I Whistle, de Florin Cerban, a intensa história da tentativa de fuga de um jovem recluso de um campo correccional, que confirma a espantosa vitalidade do cinema romeno, ao arrecadar o Prémio Alfred Brauer e o Grande Prémio do Júri; e Grigory Dobrygin e Sergei Puskepalis, a dupla que compõe o elenco de How I Ended this Summer, o thriller polar do russo Alexey Popogrebsky, que ganhou ex aequo o Urso de Prata de Melhor Actor.
O júri não se esqueceu de premiar a espantosa fotografia de Pavel Kostomarov com o Urso de Prata da Melhor Contribuição Artística.
O cinema oriental não saiu mais uma vez de mãos vazias da Berlinale, começando pelo Prémio de Carreira atribuído ao decano realizador Yoji Yamada.
Justo foi igualmente o Prémio de Melhor Actriz para Shinobu Tarajima em Caterpillar, brilhante drama antiguerra de Koji Wakamatsu, que bebe muito no cinema de Nagisa Oshima.
A bela história de amor e família Apart Together, do chinês Wang Quan'an, o filme de abertura desta 60.ª edição, teve o Urso de Prata de Melhor Argumento.
Resumindo: uma competição muito equilibrada e sólida nos seus valores, que mantém a militância política e social a que nos habituou, mas que perdeu algum glamour de outros tempos, desde que os Óscares passaram a realizar-se no primeiro domingo de Março.
José Vieira Mendes (Berlim)
domingo, 21 de fevereiro de 2010
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