A minha paixão pelo Rio de Janeiro é incontornável.
Apesar de todos os contrastes sociais que se encontram nessa cidade, de toda a violência que se vive nos morros e nos condomínios elegantes, da superficialidade de muitos dos seus habitantes, da corrupção latente, dos atentados urbanísticos, o Rio é a minha cidade de adopção.
Se sou lisboeta por nascimento e gosto, embora já tenha gostado mais, sou carioca da gema por escolha e afecto.
Vivi nessa terra, que sempre me recebeu de forma calorosa, três anos muito importantes da minha vida, e a ela já regressei por inúmeras vezes, em trabalho e lazer, as últimas das quais com os meus filhos a quem o ‘bichinho’ carioca já atingiu, igualmente.
É indiscutível ser o Rio de Janeiro uma cidade lindíssima no aspecto natural- as suas praias e baías, os seus morros e florestas, as ilhas e as lagoas.
Também, as belezas criadas pelo Homem, como o Corcovado, os arcos da Lapa, a Catedral, o Jardim Botânico ou o Bondinho para o Pão de Açúcar, o Calçadão…ajudam a que se torne realidade o apelido de Cidade Maravilhosa.
Mas outras cidades como Hong Kong ou Paris, Nova Iorque ou Veneza, têm, igualmente, pontos de atracção únicos e incomparáveis.
O que torna o Rio inimitável e profundamente carismático, são as pessoas que nele vivem. A alma da cidade assenta nos cariocas…
Donos de botecos e casas de sucos, chegados há décadas de Trás-os-Montes, retirantes fugindo à pobreza do Nordeste, gringos reformados ou fugitivos da Justiça, misturam-se com os verdadeiros naturais, formando um melting pot irrepetível.
Nas imensas e variadas praias que acompanham todo o litoral da cidade, banqueiros jogam vólei com os porteiros dos condomínios de luxo, policiais e bicheiros dividem uma água de coco ou celebram a vitória do Flamengo com um chôpe estupidamente gelado.
Mas com tudo isto, estou a afastar-me do tema principal…os Táxis.
Quando, anos atrás, vivi no Rio ainda o metropolitano era um estaleiro imenso e motivo de piada para a irreverência carioca.
Chamavam-lhe a Jaquéline Onassis ‘o buraco mais caro do Mundo’…
Nessa altura, como morava em Botafogo e trabalhava no Centro, utilizava a mais das vezes, como meio de transporte, o ónibus.
Aí podia optar pelo ‘quentão’ mais popular, mais frequente e mais barato ou pelo ‘frescão’ que , como o nome indica, tinha ar condicionado.
As viagens de ónibus, para além da aventura que era percorrer o Aterro em alta velocidade, na tentativa de ultrapassar os veículos das companhias concorrentes, eram sempre motivo para contacto com elementos representativos das camadas populares tendo, conhecido nessas breves viagens de quinze, vinte minutos muitas pessoas engraçadíssimas.
Mas, isso, agora, não vem ao caso…
Só a partir das viagens, em trabalho ou turismo, mais recentes, é que, como o tempo escasseia e a Cidade Maravilhosa se tornou, ainda, mais perigosa, passei a usar o táxi como meio de transporte preferido.
E numa dessas vezes, em que estava acompanhado da mulher e filhos, para além de uma cunhada e duas outras amigas, é que me aconteceu esta cena que, a recém vitória da Escola de Samba Unidos da Tijuca no Carnaval do Rio, me trouxe à memória.
Alugámos uma Kombi de cerca de dez lugares, com motorista, e, assim, podíamos ir para todo o lado juntos, o que, para além de mais económico, era muito mais agradável.
O motorista era um jovem de trinta e poucos anos, muito simpático e educado, que, no segundo ou terceiro dia de andar connosco às voltas, da Floresta da Tijuca ao Corcovado, nos disse ser músico da Bateria dos Unidos da Tijuca, convidando-nos a assistir, nessa noite, ao Ensaio da Escola de Samba, perto da Praça Mauá.
E, assim, lá foi uma grupeta de tugas, para uma noite absolutamente surrealista. Depois de termos recolhido a mulher do taxista e a sua filha, uma adolescente linda que, veriamos depois, era destaque de uma das alas da Escola, chegámos à zona onde o Ensaio se realizaria. Uma série de barracões, bancadas, carrinhas a vender cachorros quentes e refrigerantes, tudo rodeado de um esquema de segurança, digno de um concerto da Madonna.
Entretanto, o jovem motorista dublê de músico que já nos tinha dito ser o Presidente dos Unidos um patrício de nome Francisco Horta, foi falar com ele e, de imediato, fomos convidados a assistir ao espectáculo no camarote presidencial, enquanto milhares de pessoas se espalhavam por bancadas improvisadas ou, mais simplesmente, viam o desfile em pé.
Na altura, em que lhe fui agradecer o convite, o Presidente ao apertar-me a mão perguntou-me, olhos nos olhos " É Major, não é ?" Fiquei sem saber o que responder, para não desmontar a ficção que o nosso taxista carioca lhe tivesse contado.
E lá ficámos aassistir ao ensaio, por entre camelôs e bicheiros, garotas de programa e mafiosos, vedetas das novelas e socialites que, durante toda a noite, vinham pedir a benção ao Presidente tuga ( ...não, não me refiro ao Cavaco!) que agora conseguiu o prémio máximo no Carnaval carioca.
Nota do"Galo": Esta mesma historia, embora mais resumida, já a contei aqui, esta semana. O desejo de a desenvolver e incluir na rubrica Bandeiradas provocou esta duplicação pela qual peço, desde já desculpa, aos leitores repetentes.
domingo, 21 de fevereiro de 2010
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Se sou lisboeta por nascimento e gosto, embora já tenha gostado mais, sou carioca da gema por escolha e afecto.
ResponderExcluirOnde poso assinar em baixo ? Nasci na Lapa-Estrela.
Mas vivi básicamente noutros lugares...
No Rio, apenas um ano, "minha zona" era a Gávea, o Jardim Botânico, Botafogo e Humaitá. O autocarro, perdão ónibus era o 12, dava básicamente a volta à cidade, portanto nunca precisei muito e táxis, mas lembro-me que havia uns que eram melhores que os outros, azúis e amarelos.
Acho que cheguei a entrar no metro, limpo, limpinho, mas aquilo não ia a muito lado.
Depois descobri o prazer de andar a pé, mas atenção o Rio é enorme...
Praias no Rio eram por postos, eu ia para o fundo, em frente ao Leblon, mas andei por outras, no Flamengo, no Leme e até fui à Barra, mas não achei grande graça...