A vista sobre o Douro era deslumbrante.
Sentados na enorme varanda de madeira que, como um deck sobranceiro ao mar, se projecta da casa tradicional, mas confortável, onde iríamos passar os próximos dias, erguemos os copos cheios de um verde borbulhante, num brinde silencioso, ao êxito da nossa investigação.
As vinhas com cuidadosos desenhos geométricos desciam em socalcos até ao rio, formando uma escadaria digna de uma qualquer superprodução faraónica.
Para o outro lado, os espigueiros e eucaliptos, vigilantes soldados, pareciam aguardar ordens.
A nossa chegada à casa fizera-se sem problemas.
As indicações transmitidas pelo Comendador Salcedas à sua colaboradora tinham-se revelado perfeitas e minuciosas, apanágio de tudo aquilo em que o empresário se metia.
Toda a propriedade era, aliás, um bom exemplo do profissionalismo que o Comendador gostava de imprimir aos seus diversos empreendimentos.
Desde o portão eléctrico que nos foi aberto quando anunciámos o nome pelo intercomunicador até à renovada mansão, passando pelas áleas de acesso, bem pavimentadas e sem uma folha caída no chão, tudo parecia saído directamente de um excelente folheto promocional.
Imaginei que deveria ter sido grande o investimento feito na propriedade recentemente, pois, estou certo que o seu anterior dono, o tal pintor/poeta, presumível amante do escritor, não a teria mantido, certamente, com aquele grau de cuidado.
À entrada do casarão aguardavam-nos três pessoas – D. Gertrudes, a governanta da casa, solteirona simpática a lembrar uma qualquer fada boa de filme de desenhos animados, Vanessa, moçoila roliça e sorridente, filha de emigrantes, como soubemos mais tarde, encarregue dos quartos e restantes trabalhos domésticos e o Ti Jaquim, responsável pelas vinhas e por toda a exploração agrícola da propriedade, velhote com a cara retalhada por décadas de um sol impiedoso e com as mãos enluvadas em artroses.
Os nossos dois quartos, amplos e acolhedores, com luz a entrar em cascata pelas amplas janelas abertas sobre a paisagem estonteante, tinham uma porta de comunicação entre eles, o que provocou um sorriso à Cristina “ Não fique com ideias, Nuno, vou fechar à chave do meu lado e encostar uma cómoda à porta…”
Não resisti a uma alfinetada ”Porquê? Tem medo de não conseguir resistir à tentação ?!???”
A minha provocação não mereceu qualquer tipo de resposta da minha ‘sócia’ que se enfiou nos seus aposentos a pendurar roupas e, com certeza, a expor uma bateria de cremes e perfumes nos mármores da casa de banho privativa que, cada um dos quartos, possuía.
Fui o primeiro a chegar à varanda, onde, agora, nos encontramos.
Em cima da mesa, via-se um frapê com uma garrafa de Alvarinho. Ao lado um cesto com diversos tipos de pão e uma travessa, bem recheada de queijos e enchidos. Um Porto vintage, marcava, igualmente, presença.
O Cabrito ainda me preenchia, plenamente o estômago, mas o vinho verde matou-me a sede que todas aquelas curvas do acesso me tinham provocado.
Depois de contemplar, quase boquiaberto, aquela visão panorâmica, recordei a conversa que tivéramos depois de sairmos do restaurante e durante a viagem até ao local onde, agora, nos encontrávamos.
Mal entrara no carro, e com o tom assertivo que lhe era habitual, a Cristina perguntara-me “ E o Nuno lembra-se das outras frases?”
Por acaso até me lembrava, embora, na altura, não tivesse ligado às incorrecções…
Lentamente, para não omitir palavra, fui dizendo “As you get older it’s harder to have heroes, but at least one, is sort of necessary…” e “An intelligent man is sometimes forced to be drunk to spend time with his fools at the hospital” e depois acrescentei “..na primeira temos a mais ‘ at least one’ e na segunda, a palavra excedente é “hospital”.
A conclusão da ‘Foxy Lady’ foi curta e rápida” E o que é que isso significa ?!???”
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
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Isto vai dar pano para mangas. Estou convencida que esta Cristina não...nem sai de cima.
ResponderExcluirSituada, de novo, no enredo, faço a mesma pergunta que a Cristina:
ResponderExcluir"E o que é que isso significa??!!"...
Para além do Alvarinho!
Esse comendador deve ser vizinho aqui dos Champalipalhas ...
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