quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

XXXVI - Detectives amadores

Gostaria de ter tido uma resposta pronta, na ponta da língua mas, na realidade, com apenas aquelas três pistas, não ia conseguir chegar a lado nenhum…

‘A lot of money’, poderia estar relacionado com o ‘tal’ hipotético tesouro. Era, possivelmente, a mais evidente.
Por seu lado, ‘hospital’ ( …mas qual?) talvez indicasse um local.
Finalmente, o ’at least one’ referindo-se a um ‘herói’ era completamente criptado…
Mas nunca fui homem de me deixar abater com a primeira, nem com a segunda, dificuldade.
“ Talvez, se tivéssemos acesso às restantes frases que estavam no papel” avancei eu, como que pensando em voz alta ”…tudo isto se tornasse mais perceptível !”
Com a energia que fazia parte do seu ADN, Cristina sacou, num gesto enérgico, do seu telemóvel hi-tech.
“Isso é para já…”
Levantou-se, marcou um número e começou a falar, debruçada sobre o varandim.
Os raios de sol em contraluz realçavam-lhe o desenho bem torneado das ancas.
Por segundos, esqueci a vista deslumbrante das vinhas do Douro e contemplei embevecido, aquela beleza mais, digamos, humana…

Quando se voltou a sentar, a ‘Foxy Lady’ trazia o olhar brilhante das ocasiões especiais.
“ Amanhã teremos acesso a uma cópia do papel que o tal inspector Gonçalves lhe mostrou hoje de manhã…” e perante o meu ar, certamente, surpreendido “ tenho amigos bem instalados, em quase todos os sectores.”
Parecendo um pouco desiludida com a minha aparente falta de curiosidade não resistiu a acrescentar “…este a quem liguei, agora, é o Mário Gavião…o ‘fantasma’ do Cantinho de São Pedro”.
O mesmo com que a vira aos segredinhos pelos corredores da mansão de Sintra, pensei eu para com os meus botões.
Mas resolvi não acrescentar nada, para não azedar o clima…

Aproveitámos o resto da tarde para percorrer a casa, na vã esperança de encontrarmos uma passagem secreta, uma arca guardada no sótão, mais um manuscrito que tivesse passado despercebido aos olhos cobiçosos do Comendador Salcedas, qual o quê…

A casa tinha sido, estava certo disso, passada a pente fino.
As únicas referências à passagem de Hemingway por aquelas paragens eram diversas fotografias emolduradas, do barbudo escritor ostentando sempre o seu sorriso varonil, na companhia dos trabalhadores das vinhas, ele próprio de calças arregaçadas a pisar as uvas, ou, então, com uma caçadeira de dois canos, juntamente com outros caçadores, entre os quais se podia vislumbrar, em segundo plano, o tal poeta/pintor com quem teria tido o hipotético romance.
Numa outra, via-se o laureado com o Nobel da Literatura, com a perna engessada, mas sempre com o seu eterno sorriso, à porta de um hospital…

Hospital? Espera lá…
Olhando com mais atenção, o nome da unidade hospitalar, era perfeitamente legível na placa da parede – Hospital de São Francisco.
Voltei-me para a minha companheira de viagem.
“ O que é que lhe parece darmos uma saltada até ao Porto?”

5 comentários:

  1. Mário Gavião? Excelente! O galo devia sugerir nomes para o contra informação:)

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  2. Vivi quatro aninhos no Porto, recomendo a Foz, ou o Pinheiro Manso...

    ;-)

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  3. ...bar da praia de Ourigos! E vamos ver o desenrolar deste romance naquelas magníficas paragens!

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  4. Porque é que só pensam em comer?!

    (...)sorriso varonil(...), um encanto!

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  5. Penso que se trata de "estar" e não, "COMER"!

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