sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Blog da Transilvânia

Um blog é uma espécie de vampiro.

Todos os dias, precisa de sangue novo.
Alimenta-se de ideias, imagens, textos, piadas, citações
sem nunca estar completamente satisfeito…

A sua voracidade, a sua obsessão pelo líquido vital
pode manifestar-se a qualquer momento.
Altas horas da noite, já a lua cheia brilha lá fora,
ou de madrugada, quando a neblina deixa a relva coberta de geada
e as sombras ficam, ainda mais, fantasmagóricas.

Quando um blog morde no pescoço de alguém,
autor, comentador, seguidor, simples leitor,
este fica agarrado para sempre,
ou quase sempre, dependendo da força da dentada
e do veneno do vampiro, perdão, do blog

Quando estamos a ver um filme, interrogamo-nos se já estará no Youtube.
Quando nos rimos com um anúncio, tentamos descobrir um link.
Quando lemos um artigo, fazemos copy paste.
Quando nos oferecem um livro, scannerizamos a capa.
Quando almoçamos num restaurante, perguntamos se têm website.

Já não escrevemos aos amigos a perguntar como estão.
Mandamos-lhe o último cartoon, o mais recente artigo do Mário Crespo.
Já não telefonamos a ninguém a convidá-lo para jantar,
enviamos um pedido para ser nosso ‘friend’ no Facebook.

Não oferecemos flores, mas partilhamos o Farmville.
Não contamos a última trica, a não ser pelo Twitter.
Não alimentamos um peixinho dourado, mas temos o Fishville.
Não cantamos em conjunto, porque cada um possui o seu Ipod.
Não recordamos, mais tarde, as nossas imagens
porque estão todas arquivadas no computador.

Voltando ao blog.
É muito difícil acabar de vez com o bicho.
Igualzinho ao caso do vampiro.
Neste, usava-se dentes de alho, cruzes e estacas de madeira.
Esperava-se que a criatura adormecesse.
Na calma de um qualquer ataúde acolchoado.
E depois, pé ante pé, com o sangue a gelar–se-nos nas veias
lá lhe dávamos o tratamento mais adequado…

Mas, dizem as vítimas do personagem,
que mesmo, depois do desaparecimento da criatura maléfica,
fica uma sensação de vazio, de falta da dose diária,
de saudade…das dentadas no pescoço.

É só por isso que ainda não matei este blog
Mas, um dia destes vou comprar uma estaca de madeira,
um crucifixo, uma réstia de alhos…

Ou, então…desligo, simplesmente, o computador da tomada.

4 comentários:

  1. T'arrenego Santanás, vade retro !
    E se algo acontecer ao blog...a fogueira será acesa, a inquisição condenará sem apelo o autor do acto impensado ou mal pensado !
    Portanto bloguistas da capoeira, às armas em defesa do emplumado, em defesa da capoeira, em defesa do nosso muro das lamentações !!!!

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  2. Pah... como diria o José Cardoso Pires, 'aguenta-te à bronca e não dês de frosques'...

    :-)

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  3. Não queremos o computador desligado da tomada!
    Queremos este sangue novo, todos os dias!
    Quêm nos avisa...

    Um texto magnífico!

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  4. Margarida Ferreira dos Santos28 de fevereiro de 2010 às 09:20

    O sentir do blog addicted numa descrição crua com uma incursão lúcida no mundo das "novas relações" que actualmente encanta uns e atormenta outros tantos.
    Felizmente identifico-me muito pouco nesse mundo,mas sinto e pressinto que é assim que está, cheio de ligações, nem sempre enriquecedoras, nem sempre verdadeiras, por vezez perigosas.
    Tento estar cada vez menos nas redes sociais, blogs, chats, apenas quando alguma coisa ou alguém vale realmente a pena.
    O Blog da Transilvânia é um exemplo disso mesmo e do que pode perdurar no tempo. Desligar o computador da tomada não acabará nunca com o sangue novo, porque não é essa a sua fonte...

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