sábado, 13 de fevereiro de 2010

O patinho feio

Os colegas troçavam do miúdo.
Chamavam-lhe o marreco.
Corcunda de Notre Dame...
Passavam-lhe a mão, pela elevada protuberância que tinha nas costas.
Não o deixavam jogar futebol nem à apanhada.
Nunca o convidavam para as festas de aniversário ou para ir com eles à praia.
Riam-se-lhe nas, e das, costas.
O miúdo ia ficando cada vez mais triste.

Sem niguém com quem partilhar aquela angústia, que lhe colocava uma bola na garganta.
Sem cúmplices, nem amigos.
Com vergonha de se despir frente aos colegas nas aulas de ginástica, onde era ridicularizado em dobro.
Até mesmo os professores sorriam-se dos seus gestos desajeitados, do seu andar, aos tropeções, do seu ar de patinho feio.

Até que um dia desistiu.
Percebeu que não iria aguentar mais.
Que se fartara de tanta humilhação e escárnio.
Subiu ao cimo do prédio onde vivia. Aproximou-se do beiral.
Nove pisos mais abaixo, as pessoas aperceberam-se que algon de errado se estava a passar.
Todos começaram a apontar para cima .

O miúdo despiu a camisa.
Sentiu o vento frio arripiar-lhe  pele
Respirou fundo e abriu os braços.
Depois deixou-se cair no abismo.
A queda demorou breves segundos.
As asas poderosas irromperam-lhe das costas, brancas, imensas...
Sentiu uma força súbita a puxá-lo para cima.
Sem saber como, começou a bater as asas e elevou-se nos ares.

Cá em baixo, rasteiro ao chão, o povaréu irrompeu em aplausos ...

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