segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

XXXIII - As citações de Hemingway

Nunca a voz da ‘Foxy Lady’ me soou tão oportuna...
Quem não pareceu gostar da interrupção foi o inspector Gonçalves que, de sobrolho carregado, lhe lançou uma série de perguntas.
"E quem é a senhora ? De onde é que conhece o Sr…Dr.Nuno? E, já agora, como é que sabia onde é que nos havia de encontrar?”
Cristina, puxou de uma cadeira, sem necessitar de qualquer tipo de autorização, sacou de um cigarro que acendeu, tranquila, e só , depois de tragar profundamente, se prontificou, sem grandes pressas, a responder.
“Chamo-me Cristina de Almeida, sou’ caçadora de talentos’, mas não pense que trabalho para os ‘Ídolos’…”
O sarcasmo da sua voz não passou despercebido ao pobre do inspector, que não encontrava posição confortável na cadeira.
“ Eu e o aqui o Nuno, somos vizinhos e conhecidos de longa data…” sinal para a D.Rosa a pedir uma ‘italiana’ curta, como era seu hábito”...temos um tipo especial de ‘amizade colorida’, não sei se me entende ?”
Ao imaginar as cenas escabrosas que o inspector estaria a visualizar, compreendi o seu nervosismo galopante.
Mas a minha recente amiga,‘amiga colorida’ infelizmente apenas na sua versão, continuou.
“ Esta noite passamo-la juntos, em várias ‘comemorações’ mas o Nuno levantou-se mais cedo e quando eu acordei verifiquei que o maroto me tinha deixado sozinha…”
Apagou o cigarro no cinzeiro e bebeu o café num trago.
“…logicamente, conhecendo os hábitos do meu ‘amigo’, o primeiro local onde o procurei foi aqui no ‘palácio’ da D.Rosa…”

Por falar em D.Rosa, esta estava escutava estarrecida toda aquela catadupa de novidades. Suicídios, assassinatos, amizades coloridas…era excesso de informação.
Entretanto, alguns dos clientes habituais tinham já chegado e escolhido lugares estratégicos junto ao balcão, sem perderem pitada da conversa.
Pelo canto do olho, mas sem dar nas vistas, apercebi-me que o Telmo Tipógrafo trocava segredos com o Professor Meireles.

Foi nessa altura, que o inspector Gonçalves na tentativa de ganhar, de novo, protagonismo sacou de um papel e colocou-o em cima da mesa.
Tratava-se de uma fotocópia com várias frases em inglês…
Comecei a ler.
“…for a war to be just, three conditions are necessary – public authority, just cause and a lot of money.”
Mas havia várias outras.
“…An intelligent man is sometimes forced to be drunk to spend with fools at the hospital.”
Tive tempo de ler uma terceira, antes do inspector recolher o papel e metê-lo no bolso do casaco.
“…As you get older it is harder to have heroes, but, at least one, is sort of necessary…”
Apesar da fotocópia meio sumida, a caligrafia era claramente reconhecível.
Estávamos perante frases célebres, citações escritas pelo próprio Ernest Hemingway.

E foi isso mesmo que transmiti ao inspector ‘fuinha’, que, já de pé, não pareceu ficar muito impressionado com a minha erudição.
“ Bem, por agora é tudo, mas não se afaste de Lisboa, sem me comunicar para onde vai…”
Antes que eu respondesse, a voz da ‘ Foxy Lady’ fez-se ouvir, de novo.
“…Então fique, desde já, a saber que hoje mesmo vamos partir para uma quinta no Douro…” e, sublinhado com uma risada brejeira “…em honey moon!”

O inspector, resmungando, dirigiu-se para a porta não sem antes ditar a última ordem ”…está bem, pode ir….mas deixe o seu número de telemóvel com o comissário Antero.”

Antero era o tal brutamontes que ficara à porta…

2 comentários:

  1. Sentido de oportunidade esta Cristina Almeida.
    E será que vão mesmo até ao Douro?

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  2. E com pulseira electrónica?!
    Grande Cristina...

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