Não tenho por hábito andar a vasculhar nas gavetas do passado.
E, muito menos, arrumá-las.
Com algumas, tenho mesmo o cuidado de nunca as abrir.
As teias de aranha e pó acumulado poder-me-iam provocar alguma alergia, é melhor que se mantenham assim. Fechadas.
Também não tenho curiosidade em ir espreitar as gavetas do futuro.
Não me interessa saber o que vai acontecer amanhã.
O que vou fazer, onde vou estar, e como, daqui a dez anos.
Por isso, mantenho-me nas gavetas do presente.
Com essas tenho uma relação permanente.
Que passa pelo fabrico de novas gavetas quase todos os dias.
Ideias que tenho que guardar.
Projectos em fase de criação, gestação ou realização.
Gavetas com sonhos, que são as mais leves e ficam colocadas na parte de cima da cómoda.
Gavetas com preocupações, mais pesadas, que ficam lá em baixo, quase junto ao chão.
Algumas cheias de cor, luz e gargalhadas.
Outras mais sombrias, escuras e frias.
Gavetas com sentimentos, com afectos, com amor e amizade.
Só de tocar-lhes ficamos com as mãos, e a alma, aquecidas.
Gavetas de gestão corrente. De dias de festa.
Gavetas profissionais, com arquivos de folhas A4.
Muitas com livros, fotos e receitas.
Todas com pedaços de vida.
Da minha Vida, que transborda das gavetas, que escorrega pela madeira da cómoda, que corre em direcção ao rio, ao mar.
Que se evapora para as nuvens, em busca do sol.
Da minha Vida, que nunca consegui prender em gavetas...
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Quando quiseres, troco todas as minhas gavetas por um punhado das tuas...
ResponderExcluir:-)
"Da minha Vida, que transborda das gavetas, que escorrega pela madeira da cómoda, que corre em direcção ao rio, ao mar.
Que se evapora para as nuvens, em busca do sol."
Magnífico man, you rock !!
Muito bom. Gostei muito deste texto.
ResponderExcluirTodos nós temos gavetas e ás vezes muito desarrumadas...
Galo/João, estamos mesmo a caminho da data e parece que já começou com as comemorações:)
ResponderExcluirAo acabar de ler este texto estava arripiado.
ResponderExcluirBravo!!!!
E que comemorações são essas, Quimera? É que sou muito curioso...
Senhor Galo pode parar com esse sofrimento recordatório...o passado nas nossas gavetas só muito depois dos 65 nos irá servir. Até lá é para a frente e de vez em quando para o lado se a companhia o merece que devemos olhar !Arrumadas ou desarrumadas são rico património, disso ninguem duvida!
ResponderExcluirEscrito como me dá prazer!
ResponderExcluirConciso, incisivo, com a poesia ao peito!
Parabéns Galo nosso!
Não me parece que o texto seja recordatório ou de sofrimento.
ResponderExcluirAntes pelo contrário é todo voltado para o presente, para as novas ideias e projectos.
Força Galo !!!
Um Galo no presente que se baseia na experiência das gavetas do passado para ir projectando as gavetas do futuro.
ResponderExcluirOlá Adri! é que já ontem o Galo postou "a caminho dos 65", por isso suspeito que até cumpri-los, sejamos brindados -e ainda bem - com uma alusão à "época". Será? :)
ResponderExcluirTambém tenho as minhas gavetas.
ResponderExcluirQuase nunca lá vou e, quando vou, confronto-me apenas com um presente rico, como o teu, embora menos "diversificado"...
E é muito boa a certeza de que estamos presentes, nas gavetas um do outro!
E, por favor, vai guardando estes textos soltos, nas tuas gavetas...
Vcs são é todos maluquinhos...
ResponderExcluirEssa de ir às gavetas... não 'tá com nada.
A menos que sejam realmente masoquistas ou uma m#$%&a outra qualquer...
Jezzuzz Khhtristú, anada cá abaixo ver istù, e se fixeres o favor, dá-me cabo d'estes gajús...
;-)
James...
ResponderExcluirMas tu até querias trocar as tuas gavetas pelas do "Galo"???!!!
Tu não sabes reconhecer uma brincadeira de outra coisa qualquer, ou também estavas a brincar (as if...)
ResponderExcluir:-)
???!!!
ResponderExcluir