domingo, 29 de março de 2009

Porque não estás?

Contavas, com graça,
os teus sonos irrequietos
das noites dos primeiros
tempos, quando ainda
faltavam quatro horas
para que
também eu acordasse.
Lembro o cheiro da tua pele,
a doçura dos teus abraços,
a alegria transformada em sorriso com que os lábios beijavam todos os dias.
Como um ribeiro fresco arrefecias a minha vontade de tudo querer fazer ao mesmo tempo.
Lembro-me de ti nas minhas primeiras guerras vitoriosas, nos jogos em que ganhava sempre e só mais tarde descobri que estavam viciados por amor.
Vivo agora um rio vazio quando sinto a tua ausência, quando estás esquecida no teu mundo que já não é nosso, quando me atiras com palavras até então desconhecidas ou quando caminhas sem me querer ao teu lado.
Convivo mal com a bicicleta cor de sangue que me deste e ainda tenho, com o Taihti pintado por Gaugin ou Diego Rivera que tu sempre adoraste, com as fotografias de Marraquexe repletas de cores e cheiros diferentes que ambos fizemos.
Lembro-me de ti, Mãe, sempre, mas já não suporto a dor das recordações. Quero-te!
Procuro-te continuamente e perco as forças, perco o ânimo, pergunto-te, pergunto-me porque não estás?

Quin

8 comentários:

  1. Um micro Conto carregado de realismo, saudade e tristeza.

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  2. Melancolia e saudade, embrulhadas em breves, embora curtas, palavras.
    Aplaudo de pé.

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  3. Só pode ter sido escrito por uma mulher...
    Gostei, mas soube-me a pouco.Continue.

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  4. Sensibilidade à flor da pele. Adorei.

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  5. Muito melhor que o Quin do Lápis.
    Não sei porque é que dizem que só pode ser de uma mulher!?!
    Os homens só sabem falar de"Gaijas"?????

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  6. Como se compreende pelo seu comentário, que só podia ter sido escrito por um homem, o Conto só podia ter sido escrito por uma mulher.

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