O Laboratório é a oficina da Ciência. Nesse santuário asséptico de prodígios e de mistérios tudo pode acontecer: os êxitos, os desaires, as refregas. A procura é por via de regra mais atractiva que a descoberta. Porque a descoberta representa o fim de um curso maravilhoso, laborioso, desassossegadamente incerto, desaguando no sossegado estuário da certeza. Grita-se Eureka! uma vez, nos dias seguintes não há grito nem ânsia. Cessa o efeito hipnótico da espera, o êxtase do ensaio, a fervilhante "neurose" que, levada ao extremo, fixou no universo cinematográfico e literário a figura portentosa do "cientista louco".
Os "postulados" paródicos que se lerão a seguir resultam da enriquecedora vivência que mantenho com os "cientistas de oficina" a quem devo tanto de conhecimento e de descoberta no domínio quase sempre bem humorado da investigação científica.
Ao contrário dos clérigos, nenhum cientista nos dirá:
«... com isso não se brinca!...»
1
A experiência científica (a Dona Experiência, como lhe chama o meu amigo Felice Brotero) não suporta que a desnudem sem longos preliminares e tentativas azaradas. Mas é vulnerável à persistência massacrante. Um dia, no limiar da desistência iminente do investigador, a Dona Experiência acabará por interpelar cumplicemente o cão do Doutor Pavlov:
– Vá lá!, põe-me essas glândulas a salivar, de contrário nunca mais saímos disto!
A experiência científica (a Dona Experiência, como lhe chama o meu amigo Felice Brotero) não suporta que a desnudem sem longos preliminares e tentativas azaradas. Mas é vulnerável à persistência massacrante. Um dia, no limiar da desistência iminente do investigador, a Dona Experiência acabará por interpelar cumplicemente o cão do Doutor Pavlov:
– Vá lá!, põe-me essas glândulas a salivar, de contrário nunca mais saímos disto!
2
Para que uma experiência científica seja «bem sucedida» é necessário que o resultado configure em absoluto o contrário do esperado e que, no final, os investigadores ponderem: «Experimentemos agora fazer ao contrário».
Para que uma experiência científica seja «bem sucedida» é necessário que o resultado configure em absoluto o contrário do esperado e que, no final, os investigadores ponderem: «Experimentemos agora fazer ao contrário».
3
Da actividade científica resultam invariavelmente benefícios e malefícios. Estes, após aturadas pesquisas poderão converter-se em benefícios. Estes, em consequência de uma intensiva utilização pela sociedade humana poderão converter-se em malefícios. Estes, após aturadas pesquisas poderão converter-se em benefícios. Estes, em consequência...
Da actividade científica resultam invariavelmente benefícios e malefícios. Estes, após aturadas pesquisas poderão converter-se em benefícios. Estes, em consequência de uma intensiva utilização pela sociedade humana poderão converter-se em malefícios. Estes, após aturadas pesquisas poderão converter-se em benefícios. Estes, em consequência...
4
A Ciência, ao contrário do que parece, não é uma varinha mágica. Mas inventou uma que, ligada à electricidade, consegue remexer líquidos e transformar sólidos em papas. Sem electricidade não existiria a varinha mágica. Os líquidos teriam de ser remexidos pelo braço humano – que, esse, sim, é mágico: move-se sem ser preciso ligá-lo à electricidade. Mas é verdade que, se ligarmos o braço directamente a uma tomada eléctrica, funciona mais vigorosamente. Isso já nada tem que ver com magia. É Ciência.
A Ciência, ao contrário do que parece, não é uma varinha mágica. Mas inventou uma que, ligada à electricidade, consegue remexer líquidos e transformar sólidos em papas. Sem electricidade não existiria a varinha mágica. Os líquidos teriam de ser remexidos pelo braço humano – que, esse, sim, é mágico: move-se sem ser preciso ligá-lo à electricidade. Mas é verdade que, se ligarmos o braço directamente a uma tomada eléctrica, funciona mais vigorosamente. Isso já nada tem que ver com magia. É Ciência.
5
Quando se proporcionar, o leitor experimente cortar ao meio um coração humano. Observe a sua secção dividida em quatro partes, com dois aurículos e dois ventrículos, tal e qual o interior de um tomate. Tal e qual. Poderá inverter as fases da experiência, cortando ao meio um tomate. Vai dar ao mesmo mas não é tão emocionante.
Quando se proporcionar, o leitor experimente cortar ao meio um coração humano. Observe a sua secção dividida em quatro partes, com dois aurículos e dois ventrículos, tal e qual o interior de um tomate. Tal e qual. Poderá inverter as fases da experiência, cortando ao meio um tomate. Vai dar ao mesmo mas não é tão emocionante.
Vou só dixer duas coisas rápidas:
ResponderExcluirP.F tu fazes imenso sentido, mas isto é a i-net, e aqui a capacidade de síntese é uma virtude, não um defeito...
Temos a imensa sorte de ter como ministro da Ciência (ou lá o que é...) um gajo fabuloso (que precisava disto como eu preciso de aprender laociano) , de seu nome Zé Mariano.
Poderíamos estar condenados a criaturas como o Só Cenas Parvas, ou Sucena Paiva, ou lá como diabo ele se chama.
Two cents...
:-)