sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
XXIII - O palacete de Sintra
A decoração misturava mármores com mobiliário clássico, muitos veludos e dourados, lado a lado com telas enormes dos nomes mais sonantes da Arte portuguesa e peças de design internacional.
Uma escadaria larga ligava ao andar superior, mas um cordão de cetim, atravessado, impedia a passagem.
Grupos de quatro, cinco pessoas, conversavam, espalhados pelo enorme salão e pela biblioteca contígua.
Mulheres elegantemente vestidas misturavam-se com homens de meia-idade de smoking ou, nas raras excepções, em que eu estava incluído, alguns mais novos apresentavam-se de fato escuro e gravata.
O anfitrião multiplicava-se de grupo para grupo, exuberante e loquaz, não perdendo a ocasião de, perante um público onde a riqueza por metro quadrado era muito elevada, enunciar as qualidades dos seus trabalhos plásticos, esculturas, cerâmicas…
Banqueiros e empresários, nomes conhecidos do teatro e da televisão, jornalistas, cruzavam-se com governantes actuais, ex-ministros, juízes e, no geral, representantes de todos os grupos poderosos da sociedade portuguesa, para além de inúmeros espanhóis, muitos dos quais igualmente conhecidos embora eu, que não sou leitor da Hola, não os conseguisse identificar.
Mas, mais uma vez, Cristina 'Foxy Lady' mostrou os seus conhecimentos.
"Aquela velhinha, toda encarquilhada, é a Duquesa de Alba com o seu chevalier servant, o outro, mais além, é o Miguel Bosé, ‘cantante’ e filho de dois monstros sagrados em Espanha, o toureiro Luis Miguel Dominguin e a actriz de cinema Lucia Bosé."
Relembrar Dominguin fez-me recordar Hemingway e a sua paixão pelas touradas, embora preferisse Ordonez, cunhado e rival do primeiro.
E já que estávamos em maré de touradas, lá estava um ex-ministro caído em desgraça pelos 'corninhos' impetuosos, em alegre cavaqueira com um conhecido dirigente desportivo nortenho.
Noutro canto, vários elementos de uma família ligada à Banca, mantinham-se um pouco afastados do bruáá geral.
Um ex-director geral de uma emissora televisiva, acompanhado da sua controversa e expansiva mulhe,r fez uma entrada triunfal em cena, distribuindo sorrisos e cumprimentos pelos presentes.
Nesse momento, reparei num estranho casal que descia a escada, numa pose com um toque hollywoodesco.
Confesso que reparei primeiro na figura feminina...
Uma mulher magra, de feições aristocráticas e sorriso fascinante.
Até a longa boquilha e a écharpe, colocada sobre os ombros com negligência, acentuavam o seu ar de personagem viscontiana.
Um grupo de homens amaneirados, mas sem exageros de mau gosto, saudou o seu aparecimento, com efusão.
"Marquesa ! Marquesa! Venha para o pé de nós..."
Só quando ela se aproximou dos seus admiradores, que logo a envolveram com elogios à beleza do vestido, do penteado, da cor do baton, eu sei lá...é que reparei que a pessoa com quem ela partilhara a descida da escadaria era, nem mais nem menos, que o 'nosso' Comendador.
O seu aparecimento, já aguardado, fez-me recuar ao telefonema da véspera à noite, em que ele ficara profundamente admirado ao reconhecer a voz inconfundível de Cristina, quando esta o atendeu, de minha casa.
Com o à vontade que lhe é peculiar, esta desembaraçou-se bem da questão ao dizer que me acabara de conhecer na 'Estrela do Bairro' e que tinha vindo até minha casa, juntamente com outros vizinhos do bairro, para me cantarem os Parabéns a Você.
Para mim, que só faço anos em Junho, este adiantar do aniversário não me fez grande moça, mas demonstrou-me, mais uma vez, que nem tudo o que a 'Foxy Lady' diz, corresponde necessariamente à verdade.
Nessa altura, a Cristina passou-me o telefone e disse-me, tapando o bocal:
“ O Comendador telefonou-lhe para o convidar para a reunião de amanhã, em Sintra, mas diz que como nós já nos conhecemos então seria óptimo irmos os dois…”
E, lá estávamos nós, no meio de bispos e generais, milionários e políticos, artistas com várias etiquetas e personagens de quadrantes e coloridos variados.
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A Amante Misteriosa
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"Uma mulher magra, de feições aristocráticas e sorriso fascinante.
ResponderExcluirAté a longa boquilha e a écharpe, colocada sobre os ombros com negligência, acentuavam o seu ar de personagem viscontiana."
Oh diabo, espero que não seja aquela 'coisa' recauchutada da Lili Wtf...
;-)
E desculpinhas môço, se eu cá te estiver a fazer grande mossa...
:-))
Só faltava mesmo uma Condessa, perdão uma Marquesa...:)
ResponderExcluirMas essa senhora tem que aparecer em todo o lado?
ResponderExcluirSe não fôr rosa-cruz é, pelo menos, maçonaria...
ResponderExcluirVeludos e dourados. Se também tiver vermelho, o ambiente é mesmo "viscontiano"!
MTH...
ResponderExcluirÉ melhor ter cuidado porque, ou eu me engano muito, ou, um dia destes, ainda vai aparecer...também!!!