sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Plasma - Fábula Mural

Aquele homem tinha-se empenhado todo para poder
comprar o enorme plasma que ocupava agora
mais de metade da parede da sala,
qual mural electrónico se tratasse.
Tinha mais de 1,5m de écran, som estéreo envolvente,
oito colunas para graves e agudos, gama de 400 tons,
capacidade para mais de 830 canais.
O pior foi o preço. Pediu dinheiro aos amigos.
Meteu vales, sobre vales no emprego...
Claro que ao chegar ao fim do mês,
e depois de descontarem os vales,
pouco sobrava do ordenado.
E, ainda por cima, agora cada vez que ligava o aparelho,
a sua depressão ia-se acentuando, mais e mais,
Andava nervoso, desconfiado, infeliz.
Só se viam fábricas a fechar.
Pessoas despedidas. Manifestações.
O poder de compra em queda livre.
Roubos e tiroteios. Uma desgraça.
Ou então, novelas pífias, concursos para débeis mentais,
discursos de circunstância, entervistas previsíveis.

Naquela tarde, estava ele a olhar, meio absorto,
para mais uma indústria de Mangualde
a pôr fim à sua actividade, quando tocaram à porta.
Foi abrir. Eram dois matulôes da empresa de Crédito.
"- O senhor já não paga as prestações há mais de três meses..."
Não soube o que responder.
"- Viemos buscar o plasma." E sem mais delongas,
entraram sala dentro, retiraram o aparelho
e lá foram escada abaixo.

Durante uns dias andou atarantado.
Depois recomeçou a ler, a ouvir música, a escrever,
a falar com os amigos. A cozinhar uns petiscos.
A trabalhar com mais vontade e alegria.
Enfim voltou, de novo, a ser feliz.

Moral da história : Há Vales, que vêm por Bem.

3 comentários:

  1. jº.gostava de ter palavras, mas só tenho é inveja de não saber escrever assim...genialº.

    ResponderExcluir
  2. Realmente se as pessoas não perdessem o poder de escolher o que ver na televisão,que também tem programas interessantes,e guardassem tempo para os amigos, para a leitura e para outras actividades seriam mais felizes, com certeza.

    ResponderExcluir
  3. Mais uma fábula,short story,ou como lhe quiser chamar exemplar de uma capacidade de síntese invulgar.Nem uma palavra a mais nem a menos.Para quando a publicação de uma recolha dos textos do blog?Pode reservar-me um exemplar autografado?

    ResponderExcluir