"Ao cair da noite, por vezes, sinto uma tal melancolia
que me assalta o desejo de fugir.
Nesta obra descrevo algumas dessas escapadelas.
Fui a cidades - Granada, o Cairo, Istambul - onde o Islão
havia sido ou era importante.
Embora tenham sido as mais surpreendentes não me limitei a elas.
Lá fora, visitei Hong Kong, Macau,Oxford, Londres, Edimburgo,
Hay-on Wye, Dorset e Yorkshire;
cá dentro, Évora, o Porto, o Algarve, Fátima, o Barroso e Tomar.
Por fim, não resisti a falar de Lisboa, a cidade onde nasci e cresci."
Maria Filomena Mónica
Eu gosto da Maria Filomena Mónica, mas...
Acho alguma piada à sua aristocracia de berço, já fora de moda,
à sua sobranceria intelectual, aos apelidos sonantes que gosta
de mostrar conhecer ( Don Juan Carlos, para ela Juanito,
os seus apaixonados Fernando Domecq
e Henrique Mora-Figueroa, entre outros...)
ao seu snobismo em relação às massas que ousam viajar
para os mesmos locais, onde antes só a fina flor se passeava, mas...
Como viajante, a MFM é o oposto de mim.
Enquanto eu procuro, em cada viagem, em cada visita,
encontrar elementos diferenciadores, aprender, gostar, ter prazer,
a MFM analisa as partes negativas, compara tudo na sua óptica
de intelectual europeia, busca o que é feio, sujo ou degradado
de cada viagem ( em relação ao Cairo "Era a primeira vez,
e provavelmente a última, que visitava um país do Terceiro Mundo.
Não me dei bem entre a pobreza, o caos e a porcaria...").
Primeiro como turista e depois profissionalmente, já terei estado
uma dezena de vezes em Hong Kong, local onde MFM
esteve(?), pasmem, 19 HORAS...
E mesmo assim, chegou de jetfoil, vinda de Macau,
a Kowloon, onde se hospedou no The Peninsula
( "Instalada num hotel destes decidi sair o menos possível...")
e se passeou pelas ruas das compras, Nathan Road ou Peking Road,
ambas em Kowloon, em Tsim Sha Tsui.
Ou seja, é o mesmo caso dum escritor russo chegar de barco, pelo Tejo,
hospedar-se num hotel em Almada, de onde pode observar Lisboa,
do outro lado do rio, passear-se pelas ruas à volta do hotel,
e depois escrever um artigo acerca de Lisboa
sem nunca mencionar não ter saído de Almada, ou o nome
dessa localidade!!! Estranho e perconceituoso, não acham?
De qualquer maneira, para quem gosta de livros de viagens,
esta última obra de MFM lê-se com agrado.
Constatamos o que já há muito sabíamos, que para MFM
o centro da Civilização é a Inglaterra, com epicentro em Oxford.
E que para a vermos feliz é pô-la a visitar as casas de Dickens,
das Irmãs Bronte, ou de Thomas Hardy.
Como académica que é, e tendo certamente passado em Oxford
alguns dos melhores anos da sua vida, é compreensível esse
seu gosto pela literatura e por tudo o que lhe está relacionado,
mas quando uma pessoa diz que viaja sempre acompanhada
da sua almofada de todos os dias, ou noites, se preferirem,
estamos esclarecidos quanto ao seu grau de aventureirismo
e à sua capacidade de aceitar mudanças e novidades.
Que a minha leitura, um pouco ácida reconheço, não esconda
a admiração que tenho pela Intelectual, Mulher Dessassombrada
e, muitas vezes, Politicamente Incorrecta.
Só não gosto é da Viajante...
Passaporte -Aletheia Editores
Eu gosto muito de livros de viagens, mas precisamente pelas razões que apontou, Galo, não a lerei.
ResponderExcluirJá agora, se gosta ou para quem goste de livros de viagens, há uns livrinhos muito apetitosos na editora Tinta da China: o primeiro "Uma ideia da India" do Moravia, o segundo "O Japão é um estranho lugar" do Peter Carey, dão-nos uma descrição de Viagem completamente diferente do habitual.
"...eu é mais bolos..."
ResponderExcluirO elitismo tem a sua piada, em alguns contextos notoriamente populares. Não é o caso das viagens, diga-se. Faz-me lembrar os tempos do impérios - nativos de um lado, colonos de outro. Não sôa tudo isto muito a... snobismo? Já minha avó dizia: "O snobismo é o imperialismo dos tempos modernos. Sê snob! Dá-te um ar cool."
Confesso que já tinha ouvido falar do livro e estava a pensar comprá-lo. Acho uma certa graça à MFM, aquele ar sobranceiro dela diverte-me, gosto de a ver irritada com a inferioridade (segundo ela, claro) dos outros. Como também acho que no meio daquilo tudo, ela é bastante inteligente e culta, pensei que as suas viagens fossem interessantes, mas... depois desta crítica, não sei, não. Também é um pouco redutor só ler textos com os quais concorde. Ou não será???
ResponderExcluirTenho a mesma opinião que MCM e estou curiosa depois desta crítica mais corrosiva do Galo.
ResponderExcluirNem sou elitista, mas convenhamos que nem toda a gente tem estofo para este tipo de snobismo, MFM aguenta bem, é-lhe natural... já não sei se assentaria igualmente bem na maioria dos que constituem alegremente o nosso pretenso jet set!
ps - "leituras em dia" com crítica, queremos mais!
Acho que sim, que devem, como aliás afirmo lá para cima, ler o livro e , possivelmente , chegarão a conclusões diferentes das minhas.
ResponderExcluirO livro lê-se de um fôlego, comprei-o ontem e pela noite dentro e madrugada fora, ou antes pela noite fora e madrugada dentro, li-o todo.
Irritou-me a maneira como fala dos mecânicos ingleses, das secretárias francesas ou dos parolos portugueses que "até já viajam para todo o lado", poluíndo a paisagem dos tais
" inteligentes e cultos" a que sem sombra de dúvida, tens razão MCM, a MFM pertence.
Mas certos momentos como as críticas à obra do Siza, na sua componente da utilização diária, ou a descrição de Lisboa ou de Istambul, merecem o meu total acordo.
Este "Galo" anda a comer muito milho!
ResponderExcluirUma pessoa está um dia ou dois sem o visitar e, quando volta, esperam-nos novos e longos minutos de prazer, às vezes inconciliáveis com tantos afazeres...
Agora, a Nova Crítica, nas Leituras em Dia - e que excelente, o título deste post!
Li o Bilhete de Identidade da MFM e gostei.
A autora é snob, sim senhor - afinal, ninguém é perfeito ... mas sabe do que fala e "fala " muito bem.
Ainda não tenho este livro. E embora a minha perspectiva, no que toca a viagens, também seja diferente - quero , sempre, muito, "gostar muito" de tudo - vou "carimbar" este Passaporte!
eu gosto da filomena mónica, mas raios me partam se tivesse que viver com ela...
ResponderExcluirD. tens que ler os livros de viagens do Bruce Chatwin. :-P
ResponderExcluirParece-me mais ou menos pacífico que "todos" gostamos da Maria Filomena Mónica, nunca foi isso que esteve alguma vez em causa...
ResponderExcluirQuanto ao saber do que fala, já discordo porque como se comprova pelo caso de Kowloon/Hong Kong at least, não sabe.
Quanto às sugestões da Quimera(já sem vírus no seu pc)li o Moravia e vou tentar encontrar o Peter Carey.
Bom regresso ao Alvega, mas o Chatwin"...há um homem em Punta Arenas que sonha com bosques de pinheiros,trauteia árias alemãs e acorda todos os dias com as águas negras do estreito em frente aos olhos"(Na Patagónia)é de tal maneira a Bíblia de quem gosta de Livros, no geral, e de Livros de Viagens, no particular, que nem precisa de ser recomendado.
Nós somos mais pelo Barreto...ou António,como ela diz nos livros.
ResponderExcluirDevem estar todos à espera que eu desanque a senhora mas ela tem feito vários trabalhos na minha área profissional e tenho todo o respeito pela sua inteligência e isenção enquanto académica. Outra coisa são os tiques claros de uma alta ou média burguesia inadaptada aos tempo modernos e a uma sociedade de massas.E mais não digo.
ResponderExcluirmth, só podes é ser parva...
ResponderExcluire já agora, quem te ensinou a falar assim ?
e não culpes o desgraçado do sócrates, tu cheiras a salazar...