quarta-feira, 18 de março de 2009

Tautologia

Morra o Dantas, morra! Pim!
Manifesto pró-figura-de-estilo
Há dias [atrás] quando postei [do bem português verbo “postar”]
no nosso blog [de origem grega, como se sabe, pois vemo-nos gregos
para lhe achar a origem semântica] uma colectânea [de um conjunto]
de desenhos acerca de uma viagem ferroviária [de comboio]
até à cidade basca de Bilbao [no País Basco],
um dos comentários, observado pelo Sr. Anônimo,
revelava assertiva e revoltosa indignação [sinónimos, por sinal]
devido ao facto de eu ter usado uma recorrente
e muy nobre figura de estilo da língua portuguesa: a Tautologia
ou, como melhor a conhecemos, o Pleonasmo linguístico
ou ainda, a popular Redundância.
[Já agora], quantas contou até aqui?
À boa maneira de Almada Negreiros, Poeta d’Orpheu, Futurista E Tudo,
não poderá este senhor ficar sem a resposta – que, neste caso,
roçando a desculpa, acaba por assumir-se mais como um manifesto,
um manifesto em defesa da figura de estilo!
Basta Pum, basta!!!
Eu sei que este marcador do Blog do Galo se denomina Figura sem Estilo,
mas também não havia necessidade de me atirar isso à cara l
ogo na minha estreia literária, não é, Sr. Anônimo?
Além disso, se aspiro a ombrear com os maiores da língua portuguesa
– sim, que pelos feijões não estaria aqui!
- não concordará o Sr. Anônimo que até comecei bem?
Se não, repare nos exemplos que lhe deixo:
“Perdigão perdeu a pena…” Luís de Camões. Fraquinho, dirá.
É só uma aliteração. A repetição de sons consonânticos.
Tem razão. Não se trata de uma redundância.
Esta repetiria, mais do que o som, a própria ideia expressa.
Temos, do mesmo autor, o famoso “Vi claramente visto o lume vivo”
[verso I, estrofe 18, canto V, “Os Lusíadas”].
Espere lá que aqui já temos mais qualquer coisa!
Não é que este malandro coloca uma aliteração [do som “V”],
um pleonasmo [repetição da ideia de ver] e até – imagine só!
– uma metáfora [lume vivo refere-se ao fenómeno marítimo
comummente conhecido como fogo de Sant’Elmo] na mesma frase?!
Ena pá! Isso é que não, ó Camões!
Não vês que estás a adulterar a língua portuguesa
para formatos inimagináveis?
Qq dia destex o pexoal n sab excrever nada d geito á tua konta, pá!
[calcule só que nesta frase escrevi
diversos erros ortográficos intencionais…].
“Vê-se claramente visto que há coisas que são ditas
não pelo sentido verdadeiro do que é dito,
mas antes por um estranho prazer de as dizer”. Nuno Furtado.
E eu concordo inteiramente com este senhor
[pelos vistos o Camões também].
E que prazer deve ter tido o senhor que se segue quando,
magistralmente, se saiu com este:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!”. Fernando Pessoa
Para terminar, uma oferta de paz, Sr. Anônimo.
Uma exaustiva colecta de fenómenos linguísticos,
todos eles pleonásmicos, redundantemente pleonásmicos.
Confesse, Senhor Anônimo, aqui no Galo que ninguém nos ouve,
que pelo menos por uma vez terá proferido
uma destas heresias da língua portuguesa, e, simultaneamente,
deliciosas figuras linguísticas.
Olha! Não é que fiz uma antítese?
Ou será um paradoxo??
- elo de ligação
- acabamento final
- certeza absoluta
- quantia exacta
- nos dias 8, 9 e 10, inclusive
- juntamente com
- expressamente proibido
- em duas metades iguais
- sintomas indicativos
- vereador da cidade
- outra alternativa
- detalhes minuciosos
- a razão é porque
- anexo junto à carta
- de sua livre escolha
- todos foram unânimes
- conviver junto
- facto real
- encarar de frente
- multidão de pessoas
- amanhecer o dia
- criação nova
- retornar de novo
- empréstimo temporário
- surpresa inesperada
- escolha opcional
- planear antecipadamente
- abertura inaugural
- a última versão definitiva

Moira de Trabalho ( Texto e Desenho)

4 comentários:

  1. Sim, senhor...quero ver se depois desta longa e bem elaborada resposta, alguém se arrisca a criticar a Moira.

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  2. Excelente resposta. Está tudo dito.

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  3. Quando começam falando difícil para mim parece chinês.

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  4. Já eu quando começam a falar chinês para mim parece difícil (desculpe-me a gracinha, Sapho).

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