Era uma mulher confiante em si própria.
Adulta, madura, auto suficiente, ou, pelo menos, assim se julgava.
E nada a surpreendia.
Há muito, que o inesperado não existia para ela.
Começava a ler um livro e, a meio, já sabia como ia acabar.
Ia ao Cinema e, pouco depois do genérico, já antevia
como seria o final do filme.
Era assim nos negócios, nos casamentos dos amigos,
e, também, nas suas próprias relações.
Dias, horas, minutos, nos melhores casos, antes das situações acontecerem,
já ela pressentia o que se ia passar, ser dito, ocorrer de seguida.
Por isso, dizia que o inesperado não tinha lugar na sua vida.
Era como uma jogadora de xadrez, prevendo as jogadas futuras dos adversários, só que em vez de bispos, torres e cavalos , tratava-se de vidas, emoções, argumentos, afectos vários e, até, prognósticos políticos.
Por isso, quando, naquela noite, foi jantar com a sua conquista mais recente
e este lhe começou a falar do último carro que comprara,
da sua performance no squash, das viagens e da futura promoção
na multinacional onde trabalhava, ela teve uma sensação de déjà vu.
No final da refeição , adivinhou, com cinco minutos de antecedência o esperado “Que tal uma última bebida no meu apartamento?”.
Uma qualquer desculpa, serviu para ele a deixar à porta do seu condomínio
de luxo, não sem antes , ensaiar uma última tentativa.
“- Nem me oferece sequer um café?” Previsível, de novo.
Sorriu-lhe, contrariada. O que ela dava para ser surpreendida…
Quando o porteiro lhe abriu a porta, ainda olhou para trás.
A sua companhia masculina , dentro do carro, disfarçava a decepção,
girando o punho à altura do ouvido”Telefone-me, sim?”
queria dizer ele, mais uma vez, sem nada de original.
Pisou com firmeza o chão de mármore, da recepção.
Subiu no luxuoso elevador, enquanto uma música, sem surpresas,
ecoava no pequeno espaço.
Digitalizou o código de segurança e entrou no seu espaçoso loft.
Antes de conseguir acender a luz, sentiu o frio de uma lâmina,
junto à garganta, e ouviu: “- Se gritas, morres !”
O rosto iluminou-se-lhe, num sorriso largo.
Surpreendida, por fim.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
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Alguém dizia no outro dia que de tão inesperados os finais acabavam por ser os esperados.Não é o caso deste que é realmente...inesperado. Foi inspirado nesse comentário?
ResponderExcluirOra bolas para o código de segurança !
ResponderExcluirE depois, tudo acaba na faca? Pelo sorriso estva preparado o final feliz ?
Lá está ele a botar os melhores contos na etiqueta errada...
ResponderExcluirM-I-C-R-O-C-O-N-T-O-S, percebeu?!
Realmente...
ResponderExcluirAntes a morte que tal sorte (vegetar com o tal gaju) :-P
E me diz, a moça transou com o assaltante ?
ResponderExcluirSapho é nick de safadeza, certo?
ResponderExcluirA outra, a da ilha grega, que eu saiba não tinha nem metade da sua graça...
Com o rosto a iluminar-se-lhe num sorriso largo, quem também ficou surpreso foi o personagem da lâmina. Vou pela Sapho, deve ter dado alguma coisa.
ResponderExcluirPara variar... concordo com a Moira!
ResponderExcluirETIQUETA ERRADA...
Galo...
ResponderExcluirUm dia destes, faço como o Olhar do Planalto!
Vou roubar à tua gaveta das meias...