sexta-feira, 24 de abril de 2009

How do You keep Love Alive

Liguei o carro, e meti a música a tocar bem alto.
Não queria ouvir os meus pensamentos e achei que pelo menos enquanto a música tocasse eu ia conseguir abafar o barulho confuso que ecoa na minha cabeça.
Track 16-How do you keep love alive - estupidamente tenho a tendência em ouvir músicas melancólicas quando estou em baixo, e como se isso não bastasse, carrego no repeat com o desejo que nunca pare de tocar.
Sigo viagem.
À cabeça chegam-me memórias em slides.
Memórias tuas e desta canção.
Slides e mais slides sucessivos, em tons sepia... ainda consigo sentir a brisa fresca que fazia o meu vestido comprido dançar ao ritmo de David Fonseca e o calor da tua presença.
Baixo o vidro do carro e meto a minha mão cá fora, abro os dedos na esperança de sentir a tua agarrar a minha, mas sinto o vento fugir de mim...
Estendo o braço na esperança do abraço teu, mas só consigo sentir uma aragem fria, deste vento, da tua ausência.
A música já tocou vezes sem conta e tenho o piloto automático ligado, não me lembro da rotunda que provávelmente fiz e dos sinais luminosos que passei.
Sinto um aperto no peito, uma vontade gigantesca de gritar bem alto para que oiças, o meu grito, a minha voz e o meu coração.
Percebo que não controlo nada, que tudo me controla.
Que quem eu pensava que estava, simplesmente já não está.
Que os sentimentos podem ser manipulados, mas não mando porra nenhuma no coração, quem amo, por quem me apaixono, e no que penso.
Pensar. Pensei demais.
Agora existe uma dor muito forte cá dentro, um som estridente na minha cabeça e uma tonelada de pesos presos aos meus pés que me puxam com muita força para um fundo que não tem. Hoje vives aqui.
Parei-te no track 16, quando tu estavas bem ali, naquela noite em que eu estava feliz e quando eu vivia também dentro de ti.
Estrela. Cheguei. Paro o carro.
Limpo as lágrimas e respiro fundo. Agora é hora.
Hora de te guardar bem cá dentro em silêncio e fazer parte da estatística de seres humanos, mulheres e mães, a que a estrela brilhante se apagou e que voltam para casa na esperança que a vida um dia mude.
De uma forma qualquer.
Maria Cereja

5 comentários:

  1. Maria Cereja, mude depressa de vida...mas não mude de escrita.

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  2. Garota, não existe homem ou cachorro que mereça esse sofrimento.

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  3. Lembro-me mal da música, mas muito bem de quando a ouvimos.

    Tinha desligado esta canção da minha vida, até hoje, ao voltar a encontrar-te aqui. E ainda hoje, não sei a resposta a esta canção…


    Controlar emoções, batidas “a tempo” de corações, nunca foi o nosso ponto forte. Fomos sempre de nos fundirmos no vento – esse que te foge entre as mãos – de “hundirnos” (como adorávamos este termo…) e voltar à superfície como se voltássemos a nascer, para novo abraço.


    Lembro-me mal do teu vestido, mas tenho o teu corpo nu impresso nos meus sonhos.

    Tinha levado o meu sono para outro hemisfério – oposto ao teu – e volto a encontrar-te aqui.


    O teu casulo de mulher e mãe sempre foi um mistério para mim. Como se pode viver um tempo morno depois de marcados pela paixão! O grito que não sai, a dor que aperta a garganta, o fundo que não se vê, são heranças minhas.


    Hoje vivo aqui.
    E até hoje, não entendo porque te foste embora.


    Mas ainda espero que chegues amanhã…

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  4. O que dizer quando não existem palavras?

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  5. Maria Cereja...
    Conto ou não, é muito poético e muito bonito.
    Mas, permite-me um conselho de "veterana"?
    Não espere que a Vida, um dia, mude...
    Somos nós que temos que a mudar, a Ela...

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