terça-feira, 21 de abril de 2009

Cabeça na Lua

Naquele dia acordei com uma sensação estranha.
Sentia a cabeça leve, como se estivesse na Lua.
As ideias chocavam-se, cada uma mais extravagante que a outra.
Pressenti que alguma coisa estranha se iria passar.
Moon, o meu gato fixou-me como se se apercebesse de algo.
Os olhos dele, recordavam-me algo de indefinido.
Vesti-me e preparei-me para sair.
Nos mínimos detalhes, adivinhavam-se mudanças subtis.
A rua lá estava, no local do costume.
Mas, mesmo sem saber o quê, notava transformações.
As pessoas passavam por mim, engravatadas como sempre.
Então porquê aquela sensação de ansiedade?
Tentei distrair-me, passar umas horas de descontracção.
No Luna Park, entrei num salão de bilhar, olhei as bolas...
O que, habitualmente, tinha um efeito calmante,
acentuou, ainda mais, a estranheza do que se passava.
Resolvi mudar de jogo. Alterar a rotina.
Mas a ideia difusa, esbatida, continuava lá.
Parecia que tinha aterrado num outro mundo.
Estava prestes a fazer a grande descoberta da minha vida.
Senti-me a rodar de forma vertiginosa.
Era um simples satélite duma força estranha que se aproximava.
Bastou-me um olhar para perceber que ela era a tal.
Encontrara aquela que me iria iluminar dali para a frente.
Sem saber o que fazer, convidei-a para um inocente gelado.
Ela sorriu e pediu um com sabor Lunar.
Olhá-la ali tão perto, aumentou ainda mais a vertigem.
A temperatura atingiu níveis elevados.
Notei que o gelo, não só do gelado, se derretia.
Que podíamos passar à fase, da Lua? seguinte.
Nessa noite fomos tomar uma bebida exótica.
Dançar e ouvir música, o Claire de Lune, à luz do luar.

Sem pensar duas vezes, pedi-a em casamento.
Ela aceitou como se, desde sempre, esperasse esse pedido.
Passámos a nossa Lua de Mel, numa praia da Costa Brava.
Foram dias e noites, de Lua Cheia, permanente.
Ela soube ler no meu interior como ninguém, até então.
Sentia-me transparente, uma esfera que ela acarinhava.
Completámo-nos de uma forma mística, intemporal.
Como se fossemos um só. Uma peça única feita de duas.
Quando voltámos, já algo germinava dentro dela.
Um luar claro envolvi-a, enquanto as formas se arredondavam.
Luuna nasceu faz pouco. Está agora em Fase Crescente.
Dizem que é igual a mim, sempre com a cabeça na Lua.
Moral da História
A Lua quando nasce não é para todos.
É só para quem a merece.

8 comentários:

  1. definitivamente !!!

    muito mais que porreiro, pá! :-)

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  2. Deu para viajar num conto lunar. Linda sequência de luas e mais luas, com a excelência das palavras. Em grande.

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  3. Margarida Ferreira dos Santos21 de abril de 2009 às 18:08

    Estou na Lua
    Não me chateies que eu agora estou na Lua
    E em breve vou chegar ao céu
    Onde tu estas toda nua só com o véu

    "Estou na Lua" - Os Lunáticos
    http://cotonete.clix.pt/quiosque/artistas/index.aspx

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  4. nova versão: microconto com ilustração
    classificaçaõ: muito bom
    obs: a aguaudar mais!

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  5. Lindo !
    O texto, a imaginação, enfim , uma lição !

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  6. São de facto extraordinárias estas montagens de imagens e textos.
    E Sandra Silva, sem procurar e de cor, posso-lhe dizer que já existem umas três ou quatro mais.
    A Revolução das Cores, outra sobre Grafttis,uma acerca das texturas, uma mais pequena sobre um tigre e possivelmente mais algum.Agora é só procurar...

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  7. Um bocado pró romântico mas muito engraçado e imaginativo

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  8. Tomo um banho de Lua, numa noite de Luar...
    Adoro a Lua como adorei este Conto Lunar.

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