quarta-feira, 31 de março de 2010

O Coelho de Barcelos ao Poder

Como nesta época os Ovos andam muito estranhos,
resolvi fazer Férias durante quatro dias.
Mas na 2ª feira, depois de acabarem com essas modernices
dos Coelhos e dos Ovos de Chocolate cá estarei de novo.
BOA PÁSCOA PARA TODOS!!!

Sal&Pimenta - Tempero semanal por José Manuel de Sousa

Páscoa

Passei os dias mais recentes usufruindo de um curto período de férias, antecedendo a Páscoa, uma época que como em outras ocasiões festivas parece trazer dentro de todos nós um apelo à calma e à bondade dos nossos corações.
Estive lendo um interessante livro sobre a vida de Luiz Pinto de Soveral, Marquês de Soveral, homem que em Inglaterra onde passou largas temporadas, criou fama como pessoa de bom humor, namoradeiro incessante e grande diplomata sendo então aceite de bom grado pela monarquia reinante também em Portugal
A época ali retratada com bastantes pormenores por Paulo Lowndes Marques, levou-me aos finais do século XIX e confesso que me encantou sobretudo o realismo sobre o ambiente politico então vivido em Portugal, até ao triste momento do Regicídio e tudo o que seguiu. Afinal os antecedentes da implantação da Republica e mais tarde do surgimento de Salazar na vida politica nacional.
Em nota de roda pé o conhecido Autor chama a nossa atenção para o que Eça de Queiroz escreveu em “O Distrito de Évora” no ano de 1867: ” Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosa inaugurações e são excelentes convivas. Porém são nulos a resolver crises (…) “.
Ora acontece que na minha concentração sobre a leitura que me ia cativando parecia que me sentia nos tempos de agora, salvaguardada uma distancia quase incomensurável entre a cultura de então e a rasteirice que presentemente impera na politica e na politiquice que nos rodeia.
Todos os regimes apresentam grandes debilidades, sejam monarquias sejam republicas e entre uma e outra o anónimo Povo está sempre na mó de baixo, apertado à exaustão pelos erros dos governantes e por isso recordo ao leitor que na Páscoa, embora com sentido esforço, vou tentar perdoar uma pequenina percentagem dos erros clamorosos que nos levaram á penúria e aos sacrifícios que agora enfrentamos quase sem forças.
Boa Páscoa !

José Manuel de Sousa

A Amélinha já tem 90 Anos


Conforme informei ontem, a minha Mãe festejou o 90º aniversário.
Aqui a vemos a soprar as velas do bolo ( um cheesecake feito pelo 'querido filho') em imagens captadas pelo telemóvel do sobrinho-neto Tiago Viegas Soares.

LX - A Bela e a Monstro

Gostava de ter tido uma camera de filmar para gravar para a posteridade as diversas expressões que o rosto da minha 'vizinha' adoptou nos segundos seguinte à minha pergunta.
Surpresa, receio, desânimo...alívio.

Foi já em tom de alívio, pondo de lado o falar sussurrado que era apanágio da 'Laura Palma' que Cristina 'Foxy Lady', pois era dela que na realidade se tratava, me convidou a entrar.
" Entre Nuno, esta não é uma conversa para termos aqui na escada..."

Penetrei, pela primeira vez, no santuário da mulher com quem partilhara a vizinhança durante meses mas que, afinal, desconhecia por completo.
Desde o hall de entrada que me apercebi que tudo não passava de um cenário habilmente montado.
Na exígua divisão, que facilmente se poderia vislumbrar do patamar, as peças tinham sido escolhidas para transmitir a imagem de uma solteirona sem grande gosto - um espelho com moldura dourada, uma cadeira com uma almofada de crochet, um dálmata em louça...um verdadeiro horror.
Já mais para o interior da casa, que não estava prevista para receber visitas, tudo se transformava.
A sala era simples, com poucos móveis comprados num qualquer IKEA da vida, nada de fotos ou objectos pessoais...
Uma casa para ser abandonada em poucos minutos, sem deixar quaisquer pistas atrás.
Quem seria aquela mulher com quem calcorreara quilómetros e emoções, durante a maior parte da semana que passara?

Depois de me indicar um sofá e ter perguntado se queria um café ou um sumo, que recusei polidamente, a camuflada 'Foxy Lady' pediu-me desculpa e ausentou-se, por alguns minutos, para ir 'retocar a maquillage', não sem antes me dizer " Não percebo como é que terá descoberto, mas sendo assim não vale a pena prolongarmos mais tempo esta palhaçada."

Aproveitei para dar uma vista de olhos à sala na mira de descobrir elementos que me ajudassem a perceber quem era na realidade a Cristina, leia-se 'Foxy Lady', leia-se 'Laura Palma'...
Nenhum papel ou dossier deixados em cima de uma cadeira, nem uma só fotografia como me apercebera aquando da entrada na sala, nada de quadros ou livros, um asseptismo total...

Estava eu nestas elocubrações e já a 'verdadeira' ( seria?) Cristina estava de volta - pintada, bem penteada, vestida de preto e com os seus eternos acessórios de cabedal.
Sorri quando me chegou às narinas o suave aroma a canela...

Apercebendo-se da minha expressão, a 'Foxy' tentando recuperar a habitual segurança, um pouco abalada pelo meu aparecimento, indagou com um toque agressivo na voz" Posso saber qual é a graça?"
Não gostei da abordagem. Tinha eu passado as últimas horas preocupado com o que se teria passado com a 'Foxy Lady' que afinal me tinha andado a enganar nos últimos meses, e esta, ao ser desmascarada, partia para o ataque?!?

Foi gélida a voz que utilizei na minha resposta " A graça é que apesar de toda a sua técnica de mistificação e atitudes dissimuladas em que é perita, foi descoberta por um pormenor insignificante...o cheiro a canela!"

O ar atónito que invadiu o rosto da minha 'vizinha' mostrava bem que ela ainda não tinha pensado nessa hipótese.
Resolvi aproveitar a minha momentânea posição de superioridade para prosseguir " E já agora quem é que matou o Ti Jaquim ? Pode-se saber ?"

Não estava era à espera que a resposta surgisse de uma voz cava, às minhas costas.
" Fui eu, e desde já lhe digo que não foi o primeiro ...e, muito provavelmente, não será o último ".

Tolice

A Capa do Dia

Alemanha investiga corrupção nos submarinos comprados em Portugal, submarino ao fundo...
Maria José Morgado acusa PJ de paralisar investigações, dois tiros num navio de três canos...
Pinto da Costa anuncia recandidatura e Vieira garante que 'desviou' Jesus do FCPorto, um tiro no navio almirante e outro no contratorpedeiro...
Greve de enfermeiros cancelou 334 cirurgias, uma 'data' de doentes ao fundo...
PGR abriu 146 inquéritos nas escolas, água...

Cycle Hero

Dedicado à Moira de Trabalho ( que tem andado a pedalar fora da 'capoeira') pela Contessa ( que tem andado a 'chocar' por outras paragens, igualmente) aqui fica este Vídeo...

terça-feira, 30 de março de 2010

Leandro nunca existiu IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII ( Conclusão)

POR RAZÃO DE HUMANIDADE, NENHUM INQUÉRITO CÍVICO
DEVERIA ATRIBUIR O CONCEITO DE "ACIDENTE"
A UMA CRIANÇA QUE DURANTE UM TEMPO INFINDO
FOI EMPURRADA PARA O SUICÍDIO.

O verniz vocabular de expressões como "acidente" e "morte por causa indeterminada" estala quando se examina com seriedade e isenção os dois últimos anos da breve vida de Leandro. Esteve durante esse tempo infindo em secreto e silencioso sofrimento. Mas os colegas sabiam que ele era constantemente sovado por alunos mais velhos. Somente nas últimas semanas, em especial na última, Leandro não conseguiu reprimir a dor e começou a repetir a frase que no dia derradeiro, 2 de Março, foi pronunciada em choro e numa terminante forma verbal: «Não apanho mais, vou-me botar ao rio". Um minuto antes, Leandro sofrera nova e bárbara agressão que foi presenciada por colegas. A imprensa do dia 4 noticiava: «Os supostos agressores já foram identificados e estão a ser acompanhados por um psicólogo na própria Escola.»
Desde o instante em que Leandro saiu disparado em direcção à ponte-açude, tudo poderia acontecer. Encontrava-se sobre um instável fio de arame, de tão fraca resistência que seria inevitável partir-se como um ramo frágil que cede a uma tempestade súbita. E, ao partir-se, o equilibrista cego poderia cair para o lado da vida ou para o lado da morte. Caiu uma primeira vez para o lado da vida, em cima da ponte, em resultado da refrega com o primo Ricardo Nunes, um ano mais velho, que o impediu de lançar-se, ficando com um braço magoado. «Depois», relata Ricardo, «desceu pelas escadas, foi ali para o parque de merendas e de repente tirou a roupa e meteu-se na água.» Nesse momento impreciso, Leandro caiu para o lado da morte. Se foi ou não um acaso, se a vontade própria de Leandro influiu ou não na decisão mais cruciante da sua existência, é quase um irrelevante exercício técnico. Claro que, numa perspectiva judicial, é enorme a diferença entre as duas situações. Mas civicamente não há qualquer diferença. O "acidente" alivia porventura o peso de muitas consciências, desresponsabiliza quem colocou Leandro no fio de arame, quem o empurrou para uma circunstância limite, quem fez emergir na sua mente, ao longo do tempo, um ideário suicida.
As palavras dos mestres psiquiatras são sucintas: não existe complexidade na compreensão do ideário suicida, o qual cessa, enfraquece ou fortalece em função da cessação, enfraquecimento ou fortalecimento das causas que lhe estão subjacentes. No último caso, poderá transformar-se repentinamente numa indominável irracionalidade – a "grande e cega fúria" – latente durante poucas horas ou minutos. Leandro atingiu esse estádio ao "sair disparado" da Escola, a chorar, correndo para a ponte. É extremamente admissível que nesse momento tivesse consumado o suicídio, não fosse a intervenção do primo Ricardo com a luta entre ambos. Leandro fugiu depois para a beira-rio. Foi possível assistir na RTP à reconstituição desse percurso, com a jornalista Judite de Sousa e Ricardo ao seu lado descrevendo tudo, passo a passo. Impossível, fixando os olhos deste jovem, escutando-lhe as palavras nervosas, duvidar da sua dor, da sua sinceridade. Por tal motivo, profundo é o sentimento de tristeza que sinto ao antever que este e outros jovens da Escola Luciano Cordeiro, em Mirandela, vão sofrer com as conclusões dos inquéritos oficiais ao "caso Leandro". Porque tudo faz prever que tais conclusões os irão desmentir, que negarão os seus testemunhos. Seria indispensável que a Escola, o Ministério Público, o Ministério da Educação providenciassem com urgência um apoio a estes jovens. Melhor do que eu o dirá a notável pedagoga Professora Beatriz Pereira, porventura a maior especialista do "bullying" em Portugal, autora de vários livros sobre o tema e coordenadora (juntamente com a Professora Adelina Paula Pinto) da obra "A Escola e a Criança em Risco", da qual extraio um trecho da secção intitulada, precisamente, O bullying e o suicídio. Eis:

«O jovem que acabou por se suicidar escolheu, provavelmente, um colega da sua idade com quem partilhou a sua intenção. É já demasiado tarde para evitar a morte de um jovem, mas não será tarde para apoiar o colega que partilhou aquela dor e os outros colegas da turma. Pode ser importante falar com este jovem e acompanhá-lo, para que ele não se sinta culpado do sucedido, evitando assim os efeitos perversos da situação.»

Se já era importante apoiar e acompanhar os colegas da turma de Leandro e todos os amigos que com ele privaram e o estimavam, mais o será agora, quando lhes for dito que, afinal, Leandro nunca existiu.



Pedro Foyos
Jornalista
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Visita surpresa


HenriCartoons

LIX - Um tiro no escuro

Ou eu tinha perdido a capacidade de me surpreender ou, então, já estava preparado para toda e qualquer novidade.

Afinal, para além das preferências aromáticas, a minha vizinha do lado, a Laura Palma ( sempre que recordava o seu nome vinha-me à memória a série Twin Peacks de anos atrás) dividia também com a ‘Foxy Lady’ a amizade (?) pelo misterioso Gavião.
Nunca me cruzara com tal criatura no elevador nem na escada, nas reuniões do condomínio ou na Flor do Bairro o que me levava a crer que a morada funcionava como uma fachada de emergência mas que na realidade o 007 à Portuguesa não vivia, de facto, para estas bandas.

E qual seria o papel da minha pouco atraente vizinha neste imbróglio? Amante, auxiliar, família?

Embora tenha por hábito não beber antes do almoço, senti a necessidade de ingerir algo forte que me estimulasse os neurónios.
Preparei um Gordon’s tónico reforçado, coloquei um CD do Count Basie e recostei-me na chaise longue em pele de vaca, que tenho na sala.

Comprada em Milão durante uma viagem de tentativa de reconciliação com a Marta, a minha ex mulher, causa a admiração apaixonada ou o ódio exacerbado aos meus amigos, e amigas, a primeira vez que a vêm.
A depuração e conforto do design italiano contrasta violentamente com o kitsch assumido da pele de vaca que lembra o colete que o António Feio usa para compor o seu Tony da ‘Conversa da Treta’.
Porém, para mim, a sua exuberância gráfica faz o contraponto ideal com a paleta monocromática e sóbria de toda a casa, onde o preto impera com destaque.
E, depois, a pele sedosa, o cheiro a genuinidade, o brilho dos cromados, tudo nesta peça me transmite sofisticação e um estágio evolutivo que só com séculos de cultura e trabalho se podem alcançar, sendo Milão um bom exemplo de tal feito.

Bem, a verdade é que o álcool e a posição semi - horizontal devem ter tido qualquer efeito irrigador no cérebro que se pôs a funcionar de um modo muito mais inteligente do que até aí…

…Só me faltou dizer Eureka!!!

Vesti os jeans surrados que acabo sempre por escolher, embora tenha uma dúzia de outros, em cores e modelos variados, enfiei cabeça abaixo uma t-shirt preta, calcei uns mocassins confortáveis e abri a porta da rua.

Já no patamar, hesitei…

E se o meu raciocínio estivesse totalmente errado? Se tudo não passasse de uma Teoria da Conspiração de segunda linha?
Imaginei a cara que faria ao aperceber-me que a lógica teria sido embotada pelo Gin e não estimulada.

Levei a mão, por duas vezes, à campainha de casa da minha vizinha e, por duas vezes, recuei.
À terceira, respirei fundo e deixei o dedo, com insistência, premir o botão.
Ouvia-se com nitidez o vibrar da campainha no corredor da casa contígua à minha…
Os minutos, talvez só segundos, esticavam-se sem que ninguém tivesse aberto a porta.
Comecei a pensar que ela tivesse saído. O que deveria fazer?
Aguardar que voltasse a casa?

Nesse momento, senti uns passos arrastados do outro lado da parede.

A porta foi entreaberta uns míseros centímetros e pude vislumbrar a minha vizinha com a cara coberta por uma mistela esverdeada, rolos e papelotes no cabelo e a aconchegar contra si um roupão acolchoado que a tornava disforme.

Tinha receio de ir fazer figura de parvo…
Mas, decidi arriscar.

“ Olá Cristina, é graças a esse creme que tem uma pele tão jovem ?”

Exagero

A minha Mãe faz hoje 90 anos

A minha Mãe nasceu em 1920. Em Faro.
Numa família de classe média, Pai oficial da Marinha, Mãe doméstica, como se dizia e era de bom tom à época.
Primos direitos os dois.
Não dizem que os Netos de Primos direitos nascem com perturbações mentais? Isso explicaria muita coisa...
Aos 10 anos zarpou para Lisboa para uma casa junto ao Marquês de Pombal, onde ainda hoje, passadas oito décadas, continua a viver.
Andou no Maria Amália, começou a namorar o vizinho do prédio em frente, rapaz bem apessoado com ares de Rodolfo Valentino e cabelo esticado graças ao Brylcream e lá casaram.
Entretanto o meu Avô, Francisco Viegas como o meu Filho mais velho, suicidou-se num daqueles mistérios familiares de que nunca se fala e que nunca se chega a perceber muito bem.
Este vosso escriba nasce quando a minha Mãe acabara de fazer 25 anos.
O meu Pai, mulherengo e irrequieto, vai coleccionando conquistas até que três anos depois dá-se a separação.
O divórcio, em virtude da Concordata com a Igreja, só viria a ocorrer muitos anos depois, após a Revolução dos Cravos.
Sózinha, separada e com um filho, aos 28 anos, a minha Mãe viu-se forçada a trabalhar como Professora de Instrução Primária. Os tempos eram difíceis. O dinheiro curto, muito curto.
Foram aparecendo alguns admiradores, apaixonados ou simplesmente aproveitadores, mas o
'filhinho' (moi même) ciumento e possessivo foi-se encarregando de os pôr rapidamente a mexer.
E as décadas foram passando. Uma vida de rotina instalou-se e a minha Mãe passou a viver em função dos eventuais sucessos, e dos insucessos, do seu único descendente que só muito tardiamente, quando ela atingira já os 75 anos, lhe deu Netos.
Mas, verdade se diga, logo três em menos de dez meses.
O aparecimento desta nova geração deu novo alento à minha Mãe...
Que agora chega aos 90 anos, fresca da cabeça ( a saber tudo o que se passa por cá e pelo Mundo) e ligeira dos pés.
Hoje vamos reunir toda a nossa pequena Família, do meu lado, Netos, Sobrinhos, Sobrinhos-Netos, Nora e Filho, claro está.
E vamos cantar o 'Parabéns a Você' !!!
Parabéns Mamy!
Já falta pouco para chegar ao Século....

segunda-feira, 29 de março de 2010

Leandro nunca existiu IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII ( 1ª parte)

O "BULLYING" E O SOFRIMENTO DE CRIANÇAS
DISSOLVEM-SE DE NOVO EM ARGUMENTOS FRÍVOLOS
QUE DESRESPONSABILIZAM OS CULPADOS.
NÃO HOUVE SUICÍDIO? ENTÃO, ESTÁ TUDO BEM!


Os inquéritos ao "caso Leandro" promovidos pelo Ministério Público e pelo Ministério da Educação encontram-se encerrados (ou quase, no que concerne ao primeiro). Em relação ao segundo presume-se que só não foi ainda divulgado para evitar uma inconveniente sobreposição temporal com o funeral do menino. Porém, as conclusões essenciais, apontando para "acidente", estão a ser difundidas pela comunicação social.


Permito-me transcrever um fragmento da crónica que escrevi há três semanas:
«A falácia continua a fazer o seu caminho. Não haja dúvidas: o caso do menino que se lançou ao Tua não tardará a ser engolido pelo refugo-padrão dos actos de desespero por causa indeterminada.»
Fui optimista. E em parcas linhas enganei-me duas vezes. Primeiro, admiti que pelo menos viesse a ser reconhecido, como em casos anteriores, o eufémico "acto de desespero". Depois, desta vez o episódio nem foi remetido para o habitual gavetão das "causas indeterminadas", também rotulado de "causas mal definidas". Seguirá lépido para o gavetão sem fundo que tradicionalmente está adstrito às "causas indeterminadas" – o dos "acidentes".
Em recente entrevista à RTP tive oportunidade de denunciar a dita falácia (o mínimo que podemos chamar a um recorrente e documentado artifício que há muito se pratica neste país) e de imediato recebi de doutos especialistas um conjunto de informações que desconhecia. Por exemplo, a de Portugal apresentar um índice elevado de "mortes por causa indeterminada", superior à média europeia. Morre-se muitíssimo, por aqui, misteriosamente. Mais: há dois anos, a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa expressou inquietação pelo tabu do suicídio adolescente, fazendo apelo aos países-membros para que assumissem este tema como prioritário e combatessem as causas primárias, ligadas sobretudo à violência física e/ou psíquica. Pois entre nós, como bem sabemos, nada se fez e o "bullying" atinge igualmente na actualidade uma das mais altas taxas no conjunto dos países europeus, não cessando de crescer (só no último ano lectivo aumentou 3% em relação ao anterior, segundo dados – sempre cautelosos – da divisão da PSP que engloba o Programa Escola Segura).
Vale a pena reter outra informação atinente aos suicídios que ficam escondidos no gavetão dos "acidentes". Separar as duas situações constitui um pleito antigo dos psiquiatras portugueses especialistas em suicidologia. Defendem, até agora infrutuosamente, um procedimento que tem a designação científica de «autópsia psicológica», cuja realização compete em exclusivo aos psiquiatras e psicólogos. Excluído por completo do domínio da investigação policial / estatal / corporativa, esse estudo consiste em entrevistar com específica cientificidade o maior número possível de familiares e amigos da vítima, visando a eventual propensão desta para a ideação suicida e averiguação do grau conducente à consumação. Isto, assegura-me um psiquiatra que me contactou, não é feito em Portugal. No caso de Leandro, salta aos olhos das almas lavadas que vinha persistindo essa ideação suicida, comunicada verbalmente, várias vezes, aos amigos. Se houve ou não consumação é uma questão que já se coloca a um outro nível, sobretudo judicial, que jamais poderá fazer esquecer o historial anterior ao dia da tragédia. No entanto, é isso que facilmente se adivinha para os próximos dias. Num momento inditoso, também um jornalista que respeito subscreveu a tese frívola, a roçar o patético, de que Leandro pretendia tão-só tomar um banho nas águas do rio Tua.

DESUMANIDADE ANTES E DEPOIS DA MORTE
«Todos fomos enganados» – escreveu na sua crónica do Expresso o meu amigo e antigo colega de ofício (de local de trabalho, inclusive), Miguel Sousa Tavares (MST). Sempre lhe admirei o desassombro e honestidade intelectual. (Com imodéstia espero que continue a pensar o mesmo de mim). Espantou-me por isso a docilidade pueril com que aceitou a «versão corrigida» (expressão sua) do "caso Leandro", baseado numa "antecipação" das conclusões policiais publicada pelo Diário de Notícias. Escarificando uma dessas conclusões, MST é em especial crudelíssimo ao escrever que Leandro «não se quis suicidar, mas apenas tomar banho no rio, tendo sido levado pela corrente.» Sublinha depois que «a fazer fé na segunda e corrigida versão, todos fomos levados ao engano.» Por fim desanca «a nossa imprensa, quase toda, (que) vive à procura de sangue, escândalos, tragédias ou heróis.» E que não procura «a verdade da história além das aparências.» Justificadíssimas razões e oportunidades não faltarão a MST para dar valentes açoites à «nossa imprensa». Serei o primeiro a oferecer as velhas nádegas por pecadilhos e juízos transviados cometidos em meio século de jornalismo. No entanto, direi: nem que seja por uma vez, esta vez, «a nossa imprensa» procurou de facto a verdade. Simplesmente, transmitiu-a em estado puro, antes de maculada pelas "correcções de conveniência". (Será possível, Miguel, que já tenhas esquecido o que são e como se fazem as correcções históricas?).
Na verdade, causa perplexidade que MST "faça fé" na «versão corrigida» e expurgue à unhada, como matéria tinhosa, os inúmeros testemunhos expontâneos colhidos pelas dezenas de jornalistas que desde o dia 3 de Março povoaram a área onde ocorreu a tragédia. Uma futura História do Jornalismo conterá esse capítulo épico: «O LOGRO DE MIRANDELA». E aflige a destreza com que o "caso Leandro" deixou de concentrar-se na realidade sofrente de um menino vítima de "bullying", durante dois anos, para constituir unicamente uma porfiada pesquisa sobre as circunstâncias que envolveram a sua morte. A morte em si parece não importar. As circunstâncias, sim.

Somos agora projectados para um cenário difícil de conceber. Dir-se-ia que nas horas sequentes ao desaparecimento de Leandro houve imensa gente que, apressadamente, antes da chegada dos jornalistas, se conluiou para engendrar uma mentira colossal. Miúdos com idades entre os 11 e os 14 anos foram induzidos à mentira e a encenações mirabolantes. No que toca aos adultos, que eu tenha dado conta, apenas uma pessoa não aderiu à "grande trapaça" – o presidente da Associação de Pais, que começou por negar o "bullying", depois eclipsou-se, não voltou a ser visto até hoje. Os demais, jovens e adultos, devem ter-se aplicado num treino intensivo da mentira, pois não se ouviu uma única voz dissonante. Tudo saiu afinado. E os jornalistas, de boa fé, caíram na medonha cilada, encerrando o ciclo da esquizofrenia com a notícia de que na Escola Luciano Cordeiro, em Mirandela, alguns jovens (perto de uma dezena) eram vítimas de "bullying" muito severo, entre os quais um aluno do 6º ano, de nome Leandro Filipe, em sofrimento há dois anos e que por fim se atirara às águas do rio Tua. (Sim, é verdade, há uma correcção a fazer. Os títulos jornalísticos alteraram o verbo. A frase genuína de Leandro, repetida aos amigos, era: «Não apanho mais, vou-me botar ao rio").

Todavia, agora que um menino dez-reis-de-gente, um dos mais franzinos da Escola, está prestes a converter-se num temerário arruaceiro, afrontando os colegas graúdos, talvez também um impostor, porque o suicídio já se afigura duvidoso, e tão intrépido que ousou, numa terça-feira fria e enevoada, tomar banho nas águas rápidas do Tua, terá interesse em reflectir sobre o motivo porque os “Leandros” deste país têm de morrer, na técnica expressão oficial, em consequência de infelizes "acidentes" ou, com maior frequência, por “causas indeterminadas”.



Pedro Foyos
Jornalista
A seguir:
POR RAZÃO DE HUMANIDADE,
NENHUM INQUÉRITO CÍVICO
DEVERIA ATRIBUIR O CONCEITO DE "ACIDENTE"
A UMA CRIANÇA QUE DURANTE UM TEMPO INFINDO FOI EMPURRADA PARA O SUICÍDIO

Se Conduzir não Beba

Este é um filme violento com mais de 5 minutos.
Mas que, na minha opinião, cumpre os seus objectivos - alertar que muitas vezes uma cervejinha a mais pode alterar a nossa vida e a de muitas outras pessoas.
Se quiserem começar a semana bem dispostos esqueçam o vídeo, se preferirem ficar a conhecer um excelente trabalho então vejam este Aqui.

LVIII - Divagando sobre Perfumes

Não percebo muito bem porque é que o facto de me ter apercebido que a minha vizinha do lado usava, também ela, um perfume com aroma de canela me deixou num estado de choque que me fez sentar numa das desconfortáveis cadeiras de design italiano que tenho na cozinha e que apenas uso como decoração.

Na realidade, se quisesse enumerar a variedade de perfumes com que contactara nas minhas diversas e episódicas aventuras teria que escrever um catálogo bastante extenso.
A começar pelo célebre Chanel Nº5 com que me deparara na casa de banho da Michelle, na primeira noite que passara fora de casa, passando depois pelos Rive Gauche ou o Paris do lendário Yves Saint Laurent, o Miss Dior que, durante uns anos, fui oferecendo as todas as namoradas para evitar alguma mudança de aroma que me pudesse denunciar, e dezenas de outras marcas que agora me vinham à mente, o Amarige, o Anais, Anais, o Trésor .

De todos eles tinha recordações. Uns pelo perfume original, pela sensualidade dos ingredientes, pela sofisticação das embalagens, outros pelo aroma floral, pela mistura perturbadora com os cheiros do amor…

Mas confesso que era a primeira vez que me deparava, num tão breve intervalo, com duas pessoas a usarem um perfume, um sal ou espuma de banho, ou lá o que fosse, com cheiro a canela.
A não ser que…

Nesse momento tocou o telemóvel. Era o Ramirez…
Mas não estava com o mesmo estado de espírito de, há meia hora atrás, quando eu lhe ligara.
Começou na defensiva “É pá, de onde é que tu conheces o dono deste carro?”
Nunca gostei que me respondessem a uma pergunta com outra pergunta, mas neste caso abri uma excepção.
“ Não tenho a certeza de conhecer sequer este gajo mas pareceu-me um fulano que vi duas vezes, muito de corrida e queria confirmar…”

Percebi, pelo silêncio que se instalou que o meu amigo da PJ pesava os prós e os contras de ser franco comigo.
O polícia saiu derrotado pelo amigo de longa data.
“ É que este tipo, o Mário Gavião…” afinal, era mesmo ele “ é um ‘truta’ importante…”
Aguardei, sem querer interromper a informação seguinte que adivinhava importante.
“ Como sabes a Interpol reúne uma elite de agentes internacionais e o ‘nosso’ Mário é um dos quadros do escalão superior…”

Estava mais à espera de ver este admirador da desaparecida ‘Foxy Lady’ a pertencer aos ‘bad guys’ do que a fazer parte dos polícias e, ainda por cima, com esta estatura (…embora estatura não lhe faltasse).
Mas já o Ramirez continuava “ O Gavião está em viagem permanente ao redor do globo e só lhe entregam os casos mais difíceis que ele, pelo menos na maior parte dos casos, resolve com aparente facilidade.”

Então, além de importante o gajo era mesmo bom…

Mas o Ramirez ainda não tinha terminado “ …agora é melhor é sentares-te para ouvires isto que tenho para te dizer…”
Sentado já eu estava, portanto permaneci quieto.

“ A morada oficial que temos do Mário Gavião é a do teu prédio, no mesmo andar que tu…ao teu lado !!!”

Novo Rumo

HenriCartoons

domingo, 28 de março de 2010

Dar e Receber

Tenho para mim que só existem amores correspondidos.

O Amor alimenta-se do próprio amor.
Aquela imagem romântica do desgraçado que escreve poemas, na solidão da mansarda, para a sua amada que nem se apercebe da sua insignificante presença, não colhe credibilidade, pelo menos para mim...
A donzela que suspira lânguidos lamentos pelo machão que chega tarde e a más horas para a desprezar ou dar-lhe sovas monumentais, não tem nada a ver com o Amor, no significado e sentir que eu tenho dele...
Podemos apelidar esses sentimentos, alguns até merecedores de estudo aprofundado, de solidão, masoquismo, autocompaixão, falta de segurança, o que lhes quisermos chamar, mas guardem o Amor para outros campeonatos.
O Amor tranquilo ou o Amor arrebatado, o Amor intelectual ou o sensual, o feito de companheirismo ou de cumplicidade, o das gargalhadas claras ou das lágrimas compartilhadas é um sentimento que só tem razão de ser quando vivido a dois.
Quando tudo o que damos se reflecte naquilo que se recebe.
Quando o objecto amado e nós próprios se confundem numa imagem única.
Quando o prazer de um é o prazer do outro.
Senão é, deve ser, o mesmo que fazer amor, ou sexo, com uma boneca insuflável.
Sem termos resposta, sem sentirmos qualquer participação do outro.

Nesses casos ( felizmente nunca estive numa situação dessas) é melhor partir para outra...
A voz popular diz que há mais marés que marinheiros.
Todos temos várias oportunidades, diversas opções, destinos que podemos alterar.
Se não estamos bem, devemos mudar...
Pode ser que um novo Amor, o verdadeiro Amor, esteja à nossa espera.
Porque amar é dar. Mas é também receber...

PS: Este texto surgiu-me nesta bela e ensolarada manhã de Domingo, de céu bem azul e pássaros ao desafio no jardim, perante o desinteresse geral instalado entre os comentadores.
Uns por excesso de trabalho, outros por excesso de falta de trabalho, uns por preguiça e comodismo, outros porque não estão para isso.
E também certamente por falta de motivos de atracção no próprio blog...
Mas será a análise dos porquês o mais importante?
Façam a leitura que quiserem do texto acima.
Possivelmente, a conclusão é essa mesma...

sábado, 27 de março de 2010

Para mim, começou hoje a Primavera

Há uns meses comprei uma Ameixoeira.
Fosse lá isso o que quer que fosse...
Um pauzinho bem torcido e ressequido com ar de cana de pesca terceiro mundista.
Depois fiz uma cova, enterrei-lhe a raiz igualmente famélica na terra e reguei sem parcimónia.
Confesso que nunca mais pensei nessa minha nobre acção de reflorestamento...

De vez em quando passava pela criatura e lá estava ela imóvel e imutável.

Hoje levantei-me e olhei um céu azul e luminoso que quase me torna crente.
Desviei a cabeça para o lado e a tal Ameixoeira ( mas seria a mesma?) estava fantasiada de Rainha da Bateria de uma qualquer Escola de Samba...
De uma qualquer, não.
Da Mangueira, com os seus tons Rosa, nas flores, milhares de pequenas flores e no Verde, das folhas, dos ramos.
A minha Ameixoeira tornara-se estrela do Lido.

Fiquei embasbacado a olhar para os ramos ainda tenros mas fervilhando de vida e viço.
Apercebi-me que a Primavera chegara à minha Vida.

Reparem que eu não disse chegava outra vez, de novo, ou regressava. Disse, apenas, chegava...
Porque o bom da Primavera é que é um eterno recomeço e não uma repetição.
Como se a Vida começasse de novo e não como se se repetisse de novo.
Porque, em verdade, nunca vivemos dois Verões iguais.
Nem dois dias na praia, dois mergulhos no mar.
Nem dois Amores...
Dois beijos ao luar, ou entre quatro paredes.
Dois livros, dois filmes ( mesmo que vistos ou lidos dez vezes).
Nada se repete, tudo se transforma.
E sabe sempre de um modo diferente...

Por isso hoje, ao ver aquela Ameixoeira, começou a Primavera para mim.
Não mais uma Primavera...
Apenas...A Primavera.

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Há só uma Terra!" ou a teoria da borboleta! - Fernando Pinto

Já aqui disse e repeti que a crise só será ultrapassada quando nós, todos nós, mudarmos de hábitos, de tipo e de ideal de vida.
Se não o exprimi com estas palavras, foi com outras que queriam dizer exactamente o mesmo. Tudo isso implica responsabilizar não só o Governo, como parece ser tão do nosso agrado, mas responsabilizar todos e cada um de nós, Governo incluído.
O que quer ainda dizer que não é só o Governo que tem de mudar; nós também.
E as mudanças podem e devem ser grandes, mas também podem ser pequenas porque, não nos iludamos, é o nosso estilo de vida, incluindo o sistema de gestão e utilização de recursos, que é insustentável.

“Há só uma Terra!” é uma frase em que, de tão repetida, deixámos de pensar.
Repetimo-la como se fosse uma evidência (que é), que outros (e não nós) ainda não tivessem compreendido, mas a verdade é que nós já nos esquecemos do seu verdadeiro conteúdo: tornou-se uma frase feita.
E a realidade é precisamente essa: há mesmo só um planeta Terra e é ele que tem de dar para todos.
Compete-nos a nós trabalhar nesse sentido e com essa consciência, alterando o que houver que alterar.
É impossível que todos possamos ser “Carlos Slim”, o mexicano que é, este ano, o homem mais rico do planeta Terra, mas tal não significa que todos tenhamos de morrer à fome, de ser escravizados ou de ter uma existência abjecta, como têm milhões de seres humanos um pouco por todo o planeta Terra.
Será algures no meio, que deverá estar a virtude.
Há que gerir recursos em nome do planeta, de todos nós e de todos os seres vivos (animais e plantas) que a ele têm tanto direito quanto nós.
Nascemos neste e planeta e dele somos um produto, tanto quanto um embondeiro de África ou um pinguim da Antárctida.
Antes do aparecimento da Humanidade já o Planeta Terra existia e seguramente depois do seu desaparecimento, continuará a existir.
Compete-nos a nós tornar a nossa existência o mais agradável e harmoniosa possível, mas isso não pode ser feito hipotecando o futuro dos habitantes da Terra, dos filhos dos nossos filhos ou, a continuarmos nesta espiral frenética, já dos nossos filhos.
Tornemos a nossa existência no Planeta Terra uma verdade tão duradoura e equilibrada quanto possível.
“Pois”, parece-me que estou a ouvir dizer “isso é tudo muito bonito, mas como?”
Imaginemos, por exemplo, que os horários das lojas, das fábricas, dos departamentos de Estado, das câmaras, se desfasavam.
Não precisava ser um grande desfasamento.
Bastava que os horários de entrada fossem, por exemplo, entre as 8 e as 10 da manhã, com os consequentes desfasamentos da saída do almoço e da tarde. Seria a grande confusão? Parece-me que não.
Era tudo uma questão de se saber a que horas funcionavam uns e outros e ter horários de sobreposição para que pudessem comunicar.
Que se ganhava com isso? Provavelmente, menores engarrafamentos em estradas e ruas, e maiores desdobramentos em autocarros, metros, comboios, eléctricos, trolleys, etc.
De alguma forma, racionalizava-se a utilização dos transportes facilitando a circulação de pessoas, e deixava de ser tão premente a utilização de carros privados.

Desconcentrando a utilização de transportes públicos pela sua dispersão no tempo, abria-se a possibilidade da redução do número de veículos, que assim também circulariam melhor e portanto com menores consumos.
Passaríamos ainda a ter “picos” de consumo de energia menores porque mais alargados no tempo, o que implicaria uma melhor rentabilização da rede eléctrica, cuja ampliação ou reforço passaria a ser menos premente.
Utilizando a imaginação e a teoria do caos (aquela do bater das asas da borboleta num lado do Mundo), poder-se-á chegar a hipóteses fantásticas. Imaginemos também que o preço dos produtos variava com a sua distância desde o local de produção até ao local de venda ou consumo, assim como se existisse um “imposto de poluição de transporte”.
Tal implicaria que se transformaria num luxo consumir alho chinês (coisa muito mais frequente que o que você pensa) e que as produções hortícolas nacionais seriam muito mais frequentes nos nossos supermercados.
Quem ganharia? Todos! A agricultura nacional (de qualquer país) passaria a ser mais forte e menos vulnerável às produções agrícolas externas, ajudando ainda à diminuição do desemprego; o terreno agrícola seria revalorizado; a construção tenderia a ocupar os terrenos menos produtivos, equilibrando o mercado.

Cada tema em que se pega é um mundo de falta de senso e portanto de possibilidades de se poderem optimizar as actuais formas de utilização desses mesmos meios e de se equacionem novas formas de vida mais amigas do ambiente e do Homem.
Só como ironia e provocação, lembremo-nos que, em muitas cidades, as pessoas correm para os ginásios, stressadas e velozes nos seus carros poluentes, que estacionam em parques sobrelotados (que logo depois se esvaziam por períodos mais longos que os de utilização), para praticar corrida em passadeiras rolantes eléctricas…
Então uma corridinha num parque urbano, entre árvores e arbustos, não seria muito mais retemperadora e ecológica?
Isto para já não falar da diferença de custo de cada uma das actividades.

O disparate é livre, tal como a imaginação: imagine você também como pode optimizar os seus actos mais gastadores e inimigos do ambiente, porque a imaginação tem asas.

Fernando Pinto

Lost

Vejam Aqui o novo trailer para a série televisiva Lost...

LVII - E de repente, não mais do que repente...

Não me lembro de ter apagado a luz.

A última imagem que guardei foi a do Leónidas, de barriga cheia pelos acepipes que eu lhe preparara, a saltar para os pés da cama com um ronronar satisfeito.
O meu sono durou toda a noite mas foi muito sobressaltado.

Sonhos dos mais variados géneros ocuparam-me a mente numa sucessão de imagens distorcidas, aparentemente sem qualquer conexão.

Pelo lado positivo, surgiram diversas mulheres sensuais a entrarem-me pé ante pé no quarto, em chuveiros escaldantes comigo a ensaboá-las, a descerem escadarias e a meio das mesmas deixarem deslizar os longos vestidos de cetim mostrando estarem completamente nuas…

A Cristina na sua versão ultra ‘Foxy Lady’ era uma das minhas protagonistas preferidas aparecendo em cenas vividas na realidade com a defunta Vanessa ou a com a misteriosa Bia, mas também a jovem Rosinha fazia a sua ‘perninha’, aliás pernocas…

Na vertente pesadelo, todas as cenas eróticas eram interrompidas pelo aparecimento de figuras mais ou menos tenebrosas como o Coronel Sousa que dava ordens à mulher, a Beatriz, num alemão cuspido, o Ti Jaquim ou, se preferirem, o Joaquim Rega que metralhava tudo e todos e terminava envolto num mar de sangue ou, ainda, o enigmático Mário Gavião que, à boa maneira de qualquer agente secreto que se preze, afirmava com voz cava “ My name is Gavião…Mário Gavião !”

Uma das cenas mais caricatas de que me recordo era o Comendador Alberto Salcedas a fazer braço de ferro com…o Ernesto Hemingway.
O curioso é que quando me aproximei da dupla, a cara do escritor norte - americano se transformava na do, também comendador, Berardo, conterrâneo do ‘meu’ Comendador.

Até o cheque que este último me entregara fizera a sua aparição…
Eu aproximava-me do pedestal da estátua do Pessoa e quando olhava para o buraco existente no seu interior via que apenas um pedaço de papel permanecia nesse espaço.
Ao pegar-lhe e verificar que se tratava de um cheque avultado passado em meu nome…este explodia-me em pleno rosto fazendo-me desmaiar.

Para logo acordar a sentir a sedosidade da pele quase adolescente da Rosinha…

Mas não, era apenas o Leónidas que certamente cansado de tanta agitação nocturna resolvera acordar-me passando o seu pelo bem tratado pela minha cara até as imagens prometedoras da filha da Dona Rosa se desvanecerem por completo.

Levantei-me esfaimado. Já passava das 10 da manhã…
Mas mesmo assim, antes de ir comer qualquer coisa, telefonei ao meu amigo da PJ e pedi-lhe que me descobrisse o nome do proprietário e a morada, se possível, da criatura que saíra na véspera à noite do meu prédio.
O Alvarez, meu amigo de longa data, respondeu que com uma simples consulta no ficheiro central teria essas respostas em menos de meia hora…

Preparei, então, nova dose de comida para o Leónidas, tomei um chuveiro prolongado e só depois me dirigi à cozinha onde me aguardava o pacote com os pastéis de nata gentilmente oferecidos, na noite anterior, pela Dona Rosa.

O cheiro a canela fez-me acreditar que talvez a vida , afinal, não fosse tão má como tudo isso…
Em duas dentadas fiz desaparecer o primeiro dos três pastéis da mãe da Rosinha.
Foi então que aroma intenso da canela me fez transportar à cena do banho na Herdade do Coto, com a ‘Foxy Lady’ debaixo do jacto poderoso da água e eu feito basbaque parado à entrada da sala de banho prestes a ser interrompido pela pergunta do guerrilheiro/ caseiro.

Porém o meu devaneio foi interrompido subitamente.

Canela…era, também, o aroma que sentira no ar, ontem na presença da minha vizinha do lado.

A árdua escolha

HenriCartoons

A Capa do Dia

Banco de Portugal vai fechar as portas do Banco Privado, pudera, eram só correntes de ar...
'Caso do Túnel da Luz' faz cair Hermínio Loureiro, foi muito 'vento encanado' como dizem nos Açores...
Sócrates e Vara falavam em código, conversas sopradas...
Passos Coelho 49% Paulo Rangel 39% muita ventania...

Learn Something Everyday

Meias tintas para coisa séria - Ferreira Fernandes

O filme Estado de Guerra, com vários Óscares, explica-nos (mas julgo que essa não era a intenção da realizadora) a maior das razões para a Guerra do Iraque se ter deixado arrastar.
O filme conta o quotidiano de uma equipa de minas americana em Bagdade.
O trabalho dela é desarmadilhar as bombas que os terroristas espalham na cidade.
Às dificuldades próprias daquele trabalho infernal junta-se um certo espírito dos combatentes americanos que inibe o sucesso.

O filme abre com a morte do chefe da equipa quando um comerciante, mirone da acção de neutralizar uma bomba, a acciona por telemóvel.
Dias depois, a mesma equipa, com novo chefe, está a desarmadilhar bombas num carro perto de uma escola.
Deve ser uma tensão terrível estar debruçado sobre a morte, dependente de um pequenino gesto errado.
Pois a equipa, além das bombas, passa minutos preocupada com um barbudo que, de uma varanda, filma e telefona (ver a cena inicial...), apesar dos gestos que os soldados lhe fazem.
Só gestos, não um tiro.

Esquisita é a guerra - e perdedora - quando não se assume como guerra.
Pareceu-me ver o filme, ontem, na discussão do PEC no Parlamento.
A equipa - Governo e oposição - que quer desarmadilhar a crise, ainda não percebeu que o que tem de ser feito, tem de ser feito.
Na guerra não se brinca.

Ferreira Fernandes in Um ponto é tudo ( Diário de Notícias)

Amor

quinta-feira, 25 de março de 2010

LVI - A vizinha do lado

Quando duas horas depois deixei à Flor do Bairro rumo ao Lar doce Lar já ia mais reconciliado com o Mundo.

Por um lado o tal Caldo Verde bem fornecido com um chouriço das Beiras operara milagres na minha boa disposição.
E uma sandocha de carne assada em bom casqueiro continuara com a tarefa de me fazer regressar do ambiente de violências várias em que me movimentara nos últimos dias.
Para terminar a operação de reanimação e volta à vida, um prato de arroz doce polvilhado com canela.
A chegada da Rosinha, provavelmente avisada pela mãe, nas suas roupas cada vez mais diminutas e com as curvas cada vez mais expostas fez-me esquecer por momentos a Cristina e o seu desaparecimento para o qual não encontrava explicação.
Já a tinha tentado contactar por diversas vezes para o seu telemóvel mas sem êxito. Por onde andaria a ‘Foxy Lady’ e que papel teria ela desempenhado na morte do Ti Jaquim?
Mas nem a casual pergunta da filha da ‘patroa’ se eu me importaria de a ajudar a fazer um trabalho para a faculdade acerca da ‘Aldeia Global’ me afastou totalmente da minha mente a preocupação com aquela que tinha sido a minha companhia mais assídua nos últimos tempos.
Assídua…e estimulante. Todos os momentos que passara com a Cristina estavam impregnados de erotismo ou morte, sexo ou violência, mistério e aventura, ingredientes que misturados originam um cocktail muito forte de emoções.
Quando me dispunha a sair, já um pouco cansado do discurso do Telmo Tipógrafo contra as malfadezas do ‘ Pinóquio’, como ele apelidava agora o seu alvo principal, a Dona Rosa entregou-me um pacote “ São uns pastelinhos de nata para o caso do menino Nuno ter fome durante a noite…”.
Estava mesmo a precisar que me mimassem…

A obscuridade em que a rua se encontrava mas a figura de elevada estatura que saia do meu prédio fez-me lembrar o Mário Gavião que eu vislumbrara no restaurante de Sintra e no palacete da tal reunião dos Cavaleiros do Ocidente, onde o Organizador Chefe perorara...
Seria ele? E, em caso afirmativo, o que faria por aquelas bandas? Será que andava à minha procura?

Apressei o passo na tentativa vã de o alcançar mas ele meteu-se num Mercedes, que estava parado quase à porta, e afastou-se veloz.
Pelo sim pelo não tomei nota da matrícula. No dia seguinte iria contactar o meu amigo Ramirez da PJ…

Quando saí do elevador, no meu andar, deparei-me com a desmazelada da minha vizinha a colocar o caixote do lixo à porta como era habitual para, depois, o porteiro o trazer para baixo.

A cabeça coberta com uns rolos ridículos, a cara com uma qualquer pasta de cor verde ( se era um creme de beleza porque é que não funcionaria?) e o corpo que talvez até fosse jeitoso, envolto por um robe disforme que já vira melhores dias.

Laura Palma, era esse o seu nome, pareceu ficar surpreendida com a minha chegada mas perguntou-me em voz quase sussurrada, como era seu hábito “ Então Nuno tem estado fora?”

Respondi-lhe de lado, enquanto tentava abrir a porta “É verdade…mas já estou de volta”.
Contrariamente ao costume, ela tentou prolongar um pouco o diálogo:
“E está tudo bem consigo?”
Apeteceu-me gritar-lhe que não, não estava tudo bem comigo, mas que ela também não tinha nada com isso… mas respondi, apenas, um lacónico “Tudo bem…”

Só quando entrei em casa e fechei a porta é que me apercebi que a minha vizinha estava perfumada. Já era um bom começo…

O Salazagalhães

A Quimera informa-nos que também teve um Salazagalhães com monitor de 12"...

Sal&Pimenta - Tempero Semanal por José Manuel de Sousa

A NOSSA NATUREZA

Então como vai meu amigo? Resposta imediata, mais ou menos !
E a Família? Mais ou menos !
Encontramos um antigo colega a quem perguntamos como tem progredido na vida profissional e já sabemos a resposta, mais ou menos.
Não é pois difícil de concluir que vivemos no País do mais ou menos.

E se alguém como eu, responde por uso e costume que está tudo bem, logo é olhado desconfiadamente ou mesmo interrogado de forma quase irónica, sobre o que eu quero dizer com tal resposta.
Os nossos irmãos brasileiros são tal como eu, adeptos do tudo bem ou mesmo do tudo de bom. Porque ficámos nós no mais ou menos ?

A meu ver a explicação está no fado e no xaile preto, é a tristeza vigente em Portugal desde o tempo em que se partia nas caravelas em busca do desconhecido e de um retorno eventual.
Ia-se por mais e por menos se regressava, quando se regressava. Foi ficando o hábito e a expressão de uma melancolia doentia da qual só nos libertamos pela lei da vida aquando do ultimo suspiro.

Aliás até quando procuramos comediantes somos confrontados com um número irrisório quer no cinema quer no teatro mas damos aplauso e muito êxito às tragédias representadas, aos jornais do crime e por aí fora.
Contam-se pelos dedos os grandes nomes da comédia nacional mas drama é coisa que não falta na literatura, no cinema e no teatro .
Na televisão, a maioria do que se produz enferma da mesma maleita, parece proibido ajudar os portugueses a rir e a descomprimir com umas valentes gargalhadas.

Felizmente e em contrapartida, temos bastantes cómicos na Assembleia da Republica!

José Manuel de Sousa

Avatar II - Chegou a Hungry Beast

Para aproveitar o êxito do Avatar, Cameron avançou já com o trailer da sequela. Ora vejam...

Recrutamento Queiroziano

HenriCartoons

A Capa do Dia

Ferreira Leite pressionada para chumbar PEC, deixem a 'old lady' em paz...
As ofertas da primeira Feira só para Seniores, oportunidade para os 'old boys'...
Greve ameaça deixar o país sem combustíveis, como os velhinhos...
Parlamento sem acesso a escutas de Sócrates, liguem o 'sonotones'...
Criminalidade juvenil sobe 10% e violações 21%, em contrapartida as violações perpetuadas por seniores descem mais de 90%...
Porque está sem líder o futebol português, terá atingido a reforma?

Learn Something Everyday

Acerca de repercussão política de rabos e recibos verdes - Ricardo Araújo Pereira

Esta pode ser a geração dos 500 euros
porque quem lhe estabelece o ordenado
é a geração rasca.

Um dia, num protesto contra a política educativa do Governo, um cidadão da minha idade resolveu avançar com um argumento de autoridade e mostrou o rabo à ministra.
Não é, de todo, o pior e mais deselegante argumento que já vi esgrimir (se se pode dizer de um rabo que foi esgrimido) no âmbito de um debate político, mas ainda assim o gesto fez com que aquilo a que se chama "a minha geração" passasse a ser conhecida por "geração rasca".
Nunca me queixei. Pelo menos no que me dizia respeito, o título pareceu-me adequado à minha personalidade, e não gosto de censurar ninguém por ser perspicaz.
Hoje, a geração que entra no mercado de trabalho é conhecida por "geração dos 500 euros".
O que definia a minha geração era o seu carácter; o que define esta é o seu salário.
Na verdade, há uma hipótese inquietante: é possível que quem paga a esta geração seja a minha.
Esta pode ser a geração dos 500 euros, porque quem lhe estabelece o ordenado é a geração rasca.
Tudo aponta para isso: somos mais velhos do que eles, e portanto é lógico que tenhamos cargos de chefia quando eles saem da escola.
E é próprio de um patrão rasca generalizar o pagamento de salários de 500 euros.
Sobretudo, é improvável que a "geração rasca" e a "geração dos 500 euros" coincidam: quem é rasca, em princípio arranja sempre maneira de ganhar mais de 500 euros.

Como costuma dizer normalmente quem tem muito dinheiro, o dinheiro não é importante. Sempre me comoveu que as pessoas ricas tivessem a gentileza de partilhar connosco (logo elas, que são tantas vezes avessas a partilhar) uma ideia formada com conhecimento de causa: o dinheiro não traz felicidade.
Essa é, no entanto, uma das características que eu mais aprecio no dinheiro: a felicidade é tão fugaz, tão frágil e, às vezes, tão imoral, que acaba por ser higiénico e nobre que o dinheiro não a traga.
Para falar com franqueza, não conheço nada que traga felicidade.
Mas - chamem-me sentimental - acho que o dinheiro não traz felicidade de uma maneira especial.
Vendo bem, a minha geração teve bastante mais sorte do que esta: uma pessoa pode mudar o seu carácter, mas na esmagadora maioria das vezes não pode mudar o seu salário.
É bem mais fácil deixar de mostrar o rabo do que passar a ganhar mais de 500 euros.

Ricardo Araújo Pereira in Boca do Inferno ( Visão)

Dor

quarta-feira, 24 de março de 2010

LV - De volta a Penates

Aproveitei o voo para Lisboa para tentar organizar os meus pensamentos.

Tantas pistas, tantas mortes violentas, tantas situações que pareciam indicar uma realidade mas que no final, como que por artes de magia, indiciavam precisamente o contrário, estavam a deixar-me confuso.

E depois a forte pancada que, poucas horas atrás, me atingira com estrondo não ajudava mesmo nada a concentração de que, no momento, tanto precisava.

Mas recuemos até ao momento da descoberta do cadáver da pobre Vanessa.

A partir desse momento, senti da parte do Comendador Salcedas uma premência em pôr-me a andar dali para fora.
Chamou-me à parte e sentamo-nos em dois cadeirões de couro envelhecido num recanto do seu escritório mobilado com pesados móveis de mogno rodeados por óleos de pintores de renome.
Com palavras breves, o que era estranho nele, elogiou-me o trabalho, obrigou-me a receber um chorudo cheque como compensação pelos danos físicos e morais sofridos e chamou o motorista com ordens a que me levasse até ao Porto, ao Aeroporto Sá Carneiro, onde um bilhete de avião estaria à minha espera.

Às minhas tentativas de tentar perceber o que se passara, onde estariam a governante e a minha amiga Cristina, sentia que já a podia chamar assim, respondeu com um lacónico “ Elas hão-de aparecer…”

Quando entrei para o carro que me levaria de volta à capital nortenha, reparei que o automóvel da ‘Foxy Lady’ não se encontrava estacionado no local onde esta o deixara. Significaria isso que ela o tinha utilizado numa fuga precipitada ou que alguém o levara dali para fora ?
E se Vanessa fora assassinada, quem roubara da garagem o carro de colecção do Salcedas?

Foram essas e muitas outras perguntas que ocuparam a minha cabeça durante a curta viagem aérea que me fez regressar à minha cidade de origem.
Nem a forte turbulência que se fez sentir à chegada, me conseguiu distrair daquela saga de violência e incongruências em que me vira envolvido.

Não me senti com coragem e ânimo para ir para casa sózinho.
Dei a morada da Flor do Bairro onde fiz uma entrada triunfal saudada com exclamações de alegria por parte de quase todos os presentes.
Depois de tudo o que me acontecera, era bom ver caras conhecidas, sentir o cheiro habitual à carne assada da Dona Rosa e, até, ouvir as graçolas sempre repetitivas do meu amigo Cabeleira:
“É pá, vens cá com umas olheiras! Isso é que foi trabalhar no turno da noite…”

E a Dona Rosa, pressurosa “ Doutor Nuno, posso trazer um Caldinho Verde? É acabado de fazer…” Inclinando-se para passar um pano pelo tampo da mesa, murmurou-me ao ouvido “ …a Rosinha tem andado muito preocupada consigo!”

A melhor forma de aproveitar os pneus velhos















A isto, chamo eu, reciclagem total...
Enviado pelo Pirulito142(Our Man in Angola)

Hoje estou dividido entre cá e lá

Acordei hoje pelas quatro da manhã.
Os meus filhos tinham que estar no Aeroporto às cinco e meia.
Era o passeio anual do Colégio.
Desta feita, a Londres.

E lá fomos, estrada fora, com chuva fora e dentro de nós.
Quando chegaram, voaram para junto dos escanzelados, e alguns obesos, colegas.
Rapazes e raparigas a ganharem penugens várias.
A chilrrearem conversas sem sentido, a não ser para eles.
Que são, em última análise, os únicos a quem tal interessa.

Mães nervosas sem disfarce.
Pais a dar uma de duros sem convicção.
Os atrasos e esquecimentos do costume.
Os professores, guias acidentais a fazerem-se de pastores.
E lá desapareceram corredores afora.
"São como bandos de pardais os putos..." já cantava o outro.

Hoje duas pernas minhas e um braço viajaram para Londres.
Ficou-me o braço direito com que escrevo estas linhas.
Mas sinto-me incompleto, desmembrado.

Parte de mim aterrou já em terras de Sua Majestade...
God bless the King...and the Kids.

Serei eu?

Um em cada 5 Portugueses, sofre de perturbações mentais!!!

HenriCartoons

Learn Something Everyday

Quem não dá assistência, abre concorrência - Arnaldo Jabor

Você homem da atualidade, vem se surpreendendo diuturnamente com o "nível" intelectual, cultural e, principalmente, "liberal" de sua mulher, namorada e etc.

Às vezes sequer sabe como agir, e lá no fundinho tem aquele medo de ser traído - ou nos termos usuais: "corneado". Saiba de uma coisa... esse risco é iminente, a probabilidade disso acontecer é muito grande, e só cabe a você, e a ninguém mais evitar que isso aconteça ou, então, assumir seu "chifre" em alto e bom som.

Você deve estar perguntando porque eu gastaria meu precioso tempo falando sobre isso. Entretanto, a aflição masculina diante da traição vem me chamando a atenção já há tempos.

Mas o que seria uma "mulher moderna"?

A princípio seria aquela que se ama acima de tudo, que não perde (e nem tem) tempo com/para futilidades, é aquela que trabalha porque acha que o trabalho engrandece, que é independente sentimentalmente dos outros, que é corajosa, companheira, confidente, amante...

É aquela que às vezes tem uma crise súbita de ciúmes mas que não tem vergonha nenhuma em admitir que está errada e correr pros seus braços...

É aquela que consegue ao mesmo tempo ser forte e meiga, desarrumada e linda...

Enfim, a mulher moderna é aquela que não tem medo de nada nem de ninguém, olha a vida de frente, fala o que pensa e o que sente, doa a quem doer...

Assim, após um processo "investigatório" junto a essas "mulheres modernas" pude constatar o pior:

VOCÊ SERÁ (OU É???) "corno", a menos que:

- Nunca deixe uma "mulher moderna" insegura. Antigamente elas choravam. Hoje, elas simplesmente traem, sem dó nem piedade.

- Não ache que ela tem poderes "adivinhatórios". Ela tem de saber - da sua boca - o quanto você gosta dela. Qualquer dúvida neste sentido poderá levar às conseqüências expostas acima.

- Não ache que é normal sair com os amigos (seja pra beber, pra jogar futebol...) mais do que duas vezes por semana, três vezes então é assinar atestado de "chifrudo". As "mulheres modernas" dificilmente andam implicando com isso, entretanto elas são categoricamente "cheias de amor pra dar" e precisam da "presença masculina". Se não for a sua meu amigo... bem...

- Quando disser que vai ligar, ligue, senão o risco dela ligar pra aquele ex bom de cama é grandessíssimo.

- Satisfaça-a sexualmente. Mas não finja satisfazê-la. As "mulheres modernas" têm um pique absurdo com relação ao sexo e, principalmente dos 20 aos 38 anos, elas pensam em - e querem - fazer sexo todos os dias (pasmem, mas é a pura verdade)...bom, nem precisa dizer que se não for com você...

- Lhe dê atenção. Mas principalmente faça com que ela perceba isso. Garanhões mau (ou bem) intencionados sempre existem, e estes quando querem são peritos em levar uma mulher às nuvens. Então, leve-a você, afinal, ela é sua ou não é????

Nem pense em provocar "ciuminhos" vãos. Como pude constatar, mulher insegura é uma máquina colocadora de chifres.

- Em hipótese alguma deixe-a desconfiar do fato de você estar saindo com outra. Essa mera suposição da parte delas dá ensejo ao um "chifre" tão estrondoso que quando você acordar, meu amigo, já existirá alguém MUITO MAIS "comedor" do que você...só que o prato principal, bem...dessa vez é a SUA mulher.

Sabe aquele bonitão que, você sabe, sairia com a sua mulher a qualquer hora. Bem... de repente a recíproca também pode ser verdadeira. Basta ela, só por um segundo, achar que você merece...Quando você reparar... já foi.

- Tente estar menos "cansado". A "mulher moderna" também trabalhou o dia inteiro e, provavelmente, ainda tem fôlego para - como diziam os homens de antigamente - "dar uma", para depois, virar pro lado e simplesmente dormir.

- Volte a fazer coisas do começo da relação. Se quando começaram a sair viviam se cruzando em "baladas", "se pegando" em lugares inusitados, trocavam e-mails ou telefonemas picantes, a chance dela gostar disso é muito grande, e a de sentir falta disso então é imensa. A "mulher moderna" não pode sentir falta dessas coisas...senão...

Bem amigos, aplica-se, finalmente, o tão famoso jargão "quem não dá assistência, abre concorrência".

Deste modo, se você está ao lado de uma mulher de quem realmente gosta e tem plena consciência de que, atualmente o mercado não está pra peixe (falemos de qualidade), pense bem antes de dar alguma dessas "mancadas"... proteja-a, ame-a, e, principalmente, faça-a saber disso.

Ela vai pensar milhões de vezes antes de dar bola pra aquele "bonitão" que vive enchendo-a de olhares... e vai continuar, sem dúvidas, olhando só pra você!

Arnaldo Jabor

Problemas

terça-feira, 23 de março de 2010

O Galo de Barcelos no Mundo


Haja alguém que nos dá valor...
Ora confiram Aqui e Aqui.
Enviado pela Dama de Espadas

"Star Wars": revisitação mágica em Lisboa

Segunda apoteose da imaginação
a partir de uma saga marcante
na história do cinema.
E boa notícia para os nostálgicos:
os seis filmes irão reaparecer
nas salas portuguesas.

Anunciado como o maior espectáculo multimédia do ano, Star Wars in Concert, em digressão mundial, fará uma curtíssima escala em Lisboa, no Pavilhão Atlântico, por apenas dois dias (ontem e hoje). A grandiosidade desta variante criativa de A Guerra das Estrelas firma-se não só nos espantosos efeitos visuais mas também e sobretudo na participação da Royal Philarmonic Concert Orchestra e um coro soberbo. A par da execução musical, composta na íntegra por John Williams, desfilarão trechos dos seis filmes da saga (trilogia inicial de 1977- 1983, e a seguinte, de 1999 - 2005) projectados em ecrãs LED de alta definição, com a altura de três andares – os maiores algumas vez utilizados numa digressão.
Será decerto a segunda apoteose da imaginação, digna da genialidade de George Lucas, o criador de uma das sagas marcantes na história do cinema.
Vejamos como tudo começou.
«O meu alvo era, tão-só, o público jovem, com 14 anos ou menos», escreveu George Lucas referindo-se a Star Wars. Propósito aparentemente pouco ambicioso para o primeiro filme de uma saga que viria a converter-se, a breve trecho, num marco histórico. Eu já ia nos trinta e tantos quando integrei uma quilométrica fila (creio que no antigo Monumental) para conseguir o bilhete. Justificava-se: a nada igual se assistira nas últimas décadas. O ano memorizado pelos cultores cinéfilos em relação a um êxito semelhante foi o de 1939, data da estreia de E Tudo o Vento Levou.
Surpreendeu também a notícia de que Star Wars teve uma primeira apresentação limitada a um diminuto grupo de 32 salas em todo o território dos EUA. A verdade é que ninguém, da produtora ao próprio realizador, passando por uma boa dezena de grand masters do ofício, previra um sucesso tão retumbante (excepção significativa: Steven Spielberg). Muitas razões determinaram o excepcional acolhimento do público. Uma delas tem-se figurado primordial e congrega genericamente as restantes. George Lucas, o obreiro da saga, recriou com magistral sentido de espectáculo um certo cinema popular, de entretenimento, romanesco e inocente, repleto de aventuras fantásticas, que parecia extinto. Paralelamente, a ficção científica como género literário ascendia ao mais dignificado nível de sempre e seduzia cineastas já proeminentes, como Spielberg, que no mesmo ano estreava Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Mas a convicção geral era a de que o género épico, para grandes plateias, que aureolara o cinema americano de memórias e lendas etéreas, tivera o seu tempo. Os próprios heróis-pulps da exploração espacial começavam a revelar-se mortais.













Ninguém acreditava no êxito de um eventual retorno, sobretudo quando associado – eis o caso – a uma ficção científica que recelebrava o imaginário de gestas sepultadas há muito e dos respectivos paladinos do tipo Buck Rogers (perdão: capitão William Buck Rogers) e o não menos intrépido Flash Gordon, para citar apenas dois com quem mais privei na efémera transição da infância para a adolescência (crudelíssima efemeridade, porquanto num mundo perfeito deveria representar a vida por inteiro).
O projecto de Lucas deparou, por isso, com espinhosas adversidades, evoluindo em vacilantes fases, esperanças esvaecidas, energias desbaratadas na vã crença da conversão da descrença. O próprio cineasta, recorde-se, confidenciava entre amigos o seu cepticismo. Depois das recusas da United e da Universal, entreabriu-se a porta da Century Fox. O presidente Alan Ladd Jr. fortalecera as finanças da produtora com uma série, precisamente de ficção científica (Planeta dos Macacos) e aceitou a ideia de uma aposta forte na temática fantástica aplicada a um filme de grande orçamento. Dois anos depois, obtido o script exigido ao realizador, a Fox disponibilizou o capital. Estava-se na primavera de 1976. Em Portugal ainda fumegavam, aqui e ali, os dissolvidos incêndios de outra produção épica, o Verão Quente de 1975.
Começou enfim a rodagem de Star Wars com Lucas desenvolvendo um trabalho ciclópico, perseverante, no limite da resistência, para acudir à infinidade de exigências que um projecto de tal magnitude implicava.
Os efeitos especiais, sustentáculo do gigantesco empreendimento, foram confiados a uma equipa de ouro liderada por um génio das trucagens modernas, John Dykstra, então principal responsável criativo da Industrial Light & Magic, a empresa entretanto criada por Lucas e que mais tarde se tornaria na fonte luminosa dos prodígios inimagináveis onde se "abastecia" a elite do celulóide.
Múltiplas reformulações técnicas se operaram a um ritmo vertiginoso, num aparato de efeitos sem paralelo até então. Contudo, num aspecto permaneceu o filme inalterado desde a primeira hora: a história.
Lucas sempre pretendeu que o plano narrativo do filme cingisse, numa simplicidade extrema, os elementos de fantasia, aventura e humor assimiláveis de imediato por um público juvenil (o tal «com 14 anos ou menos»). Disse também: «Este filme foi feito para uma geração que cresceu sem contos de fadas» .






Luke Skywalker é um típico cavaleiro arturiano cujo heroísmo não conhece limites, disposto a dar a vida, se necessário, por uma causa justa, pelo triunfo da verdade ou pelo ímpeto generoso de salvar uma dama em perigo – no caso, a Princesa Leia Organa de Alderaan, a frágil soberana da aventura.


No entanto, tudo se passa, agora, algures no espaço, numa outra galáxia e num outro tempo. A Princesa – que tem o segredo de uma arma prodigiosa, além de um "estonteante" biquini dourado – tenta escapar às forças opressoras, cujos desígnios são os de substituir os regimes pacíficos e democráticos por uma ditadura imperial, porém acaba por ser capturada. Darth Vader, sinistro ciborgue que comanda os exércitos do Mal, mantem-na à sua mercê.
De espírito nobre e vontade inquebrantável, Luke não hesita na decisão de salvar a Princesa. Para tanto, encontra-se com Ben Obi-Wan Kenobi, um venerável cavaleiro do Bem que lhe transmite os místicos poderes da Força. Luke e os robots C-3PO (Threepio) e R2-D2 (Artoo Detoo) – os mais populares do Universo! – partem ao encontro da Princesa cativa, mas o jovem, armado tão-só com a sua bravura e com o sabre de luz herdado do pai, contrata, para o ajudar na terrível empresa, o mercenário interplanetário Han Solo (um imberbe Harrison Ford), aventureiro oportunista e matreiro que, no momento decisivo, se deixa sobrelevar por uma intuição de honra e pelo mais elevado altruísmo.
A este grupo fantástico junta-se Chewbacca, personagem estranhíssima, espécie de cão configurado em urso («tapete rolante malcheiroso», como lhe chama delicadamente a Princesa).
Assim começa a saga Star Wars, de George Lucas, que, anuncia-se, reaparecerá em breve nas salas portuguesas.
Para todas as idades.




Pedro Foyos
Jornalista