segunda-feira, 22 de março de 2010

Há tons que só pedem isto: não! - Ferreira Fernandes

Foi na sexta-feira, mas só ontem vi o vídeo.
Parlamento, discutia-se Educação e o presidente Jaime Gama anuncia o orador: "Senhor secretário de Estado da Educação, João Trocado."
O governante, nervoso, começa a falar sentado, mas levanta-se: "Senhoras deputadas... Senhores deputados..."
Jaime Gama, ríspido, atalha: "Tem de se levantar e a fórmula é: senhor presidente, senhores deputados..."
O orador retoma, atrapalhado: "Senhoras deputadas, senhores deputados..."
Gama, ainda mais ríspido: "Não, não: senhor presidente, senhores deputados..."
O outro: "Senhor presidente, senhores deputados..."
Gama, que parece não ter ouvido: "Não, não, não lhe dou a palavra, tem de usar a fórmula regimental..."
Era clara a vontade do secretário de Estado em aceitar as regras da casa; e, do outro lado, pelo tom e insistência, clara a prepotência nos píncaros da tribuna.
No Parlamento, o lugar dos homens iguais.
Eu, se fosse o secretário de Estado, teria dito: "Senhor presidente, não me chamo João Trocado mas João Torcato da Mata.
E, já agora, não sou secretário de Estado, sou ex-secretário de Estado porque não quero comprometer o Governo no que lhe vou dizer: não admito que me fale assim."
E saía porta fora.
E se essa atitude acabava uma carreira política é porque, então, não vale a pena fazer política.

Ferreira Fernandes in Um ponto é tudo( Diário de Notícias)

Um comentário:

  1. Foi realmente um triste espectáculo, apenas mais um num local que de há muito se apresenta como um emporcalhado espelho da Nação.
    Inesperado no caso vertente pois tinha um conceito diferente sobre Jaime Gama.
    Estava enganado, claro.
    O orador humilhado não teve coragem para responder à altura, o que se lamenta.
    Aliás esta palavra coragem desapareceu do léxico dos politicos onde há honrosas mas poucas excepções.

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