O meu Pai e eu próprio nunca nos demos bem.
Para começar porque vivemos afastados
desde os meus três anos de idade.
O que fez com que não fosse ele
a ensinar-me a andar, a ler, a escrever.
A ver-me crescer, a ter as primeiras borbulhas
e a fazer a barba pela primeira vez.
E se um Pai é preciso para ensinar
a técnica do escanhoar perfeito...
O meu Pai e eu próprio nunca nos demos bem.
Para começar porque tudo, ou quase tudo,
o que um gostava, o outro odiava.
Era assim na Política, na Religião, na Pintura, na Vida...
O que ele tinha de conservador, tinha eu de rebelde.
A rotina e os hábitos sem os quais ele não sabia viver,
punham-me doente.
O meu Pai e eu próprio nunca nos demos bem.
Ele era nacionalista, racista e nunca entrou num avião.
Viagens só de carro e na Europa.
Eu, pelo contrário, gosto de me pensar cidadão do Mundo
e religiões, credos e opções sexuais
não me causam qualquer alergia.
O meu Pai e eu próprio nunca nos demos bem.
Mas foi, talvez, o primeiro a mostrar-me que o Trabalho
pode alterar o fatalismo do ambiente onde se nasce.
Foi quem mais me desafiou com problemas de Lógica,
quem me mostrou que a Matemática não era um papão.
Quem me transmitiu o Amor pelos Livros.
O meu Pai e eu próprio nunca nos demos bem.
Mas hoje que é o seu (e, agora, também meu) Dia
tive saudades das nossas discussões
que me abriram os olhos para as diferenças
para a troca de ideias, de gostos, de convicções.
...Onde quer que esteja Pai, bom dia para Si !
sexta-feira, 19 de março de 2010
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Arrepiadissima...
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