terça-feira, 23 de março de 2010

"Star Wars": revisitação mágica em Lisboa

Segunda apoteose da imaginação
a partir de uma saga marcante
na história do cinema.
E boa notícia para os nostálgicos:
os seis filmes irão reaparecer
nas salas portuguesas.

Anunciado como o maior espectáculo multimédia do ano, Star Wars in Concert, em digressão mundial, fará uma curtíssima escala em Lisboa, no Pavilhão Atlântico, por apenas dois dias (ontem e hoje). A grandiosidade desta variante criativa de A Guerra das Estrelas firma-se não só nos espantosos efeitos visuais mas também e sobretudo na participação da Royal Philarmonic Concert Orchestra e um coro soberbo. A par da execução musical, composta na íntegra por John Williams, desfilarão trechos dos seis filmes da saga (trilogia inicial de 1977- 1983, e a seguinte, de 1999 - 2005) projectados em ecrãs LED de alta definição, com a altura de três andares – os maiores algumas vez utilizados numa digressão.
Será decerto a segunda apoteose da imaginação, digna da genialidade de George Lucas, o criador de uma das sagas marcantes na história do cinema.
Vejamos como tudo começou.
«O meu alvo era, tão-só, o público jovem, com 14 anos ou menos», escreveu George Lucas referindo-se a Star Wars. Propósito aparentemente pouco ambicioso para o primeiro filme de uma saga que viria a converter-se, a breve trecho, num marco histórico. Eu já ia nos trinta e tantos quando integrei uma quilométrica fila (creio que no antigo Monumental) para conseguir o bilhete. Justificava-se: a nada igual se assistira nas últimas décadas. O ano memorizado pelos cultores cinéfilos em relação a um êxito semelhante foi o de 1939, data da estreia de E Tudo o Vento Levou.
Surpreendeu também a notícia de que Star Wars teve uma primeira apresentação limitada a um diminuto grupo de 32 salas em todo o território dos EUA. A verdade é que ninguém, da produtora ao próprio realizador, passando por uma boa dezena de grand masters do ofício, previra um sucesso tão retumbante (excepção significativa: Steven Spielberg). Muitas razões determinaram o excepcional acolhimento do público. Uma delas tem-se figurado primordial e congrega genericamente as restantes. George Lucas, o obreiro da saga, recriou com magistral sentido de espectáculo um certo cinema popular, de entretenimento, romanesco e inocente, repleto de aventuras fantásticas, que parecia extinto. Paralelamente, a ficção científica como género literário ascendia ao mais dignificado nível de sempre e seduzia cineastas já proeminentes, como Spielberg, que no mesmo ano estreava Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Mas a convicção geral era a de que o género épico, para grandes plateias, que aureolara o cinema americano de memórias e lendas etéreas, tivera o seu tempo. Os próprios heróis-pulps da exploração espacial começavam a revelar-se mortais.













Ninguém acreditava no êxito de um eventual retorno, sobretudo quando associado – eis o caso – a uma ficção científica que recelebrava o imaginário de gestas sepultadas há muito e dos respectivos paladinos do tipo Buck Rogers (perdão: capitão William Buck Rogers) e o não menos intrépido Flash Gordon, para citar apenas dois com quem mais privei na efémera transição da infância para a adolescência (crudelíssima efemeridade, porquanto num mundo perfeito deveria representar a vida por inteiro).
O projecto de Lucas deparou, por isso, com espinhosas adversidades, evoluindo em vacilantes fases, esperanças esvaecidas, energias desbaratadas na vã crença da conversão da descrença. O próprio cineasta, recorde-se, confidenciava entre amigos o seu cepticismo. Depois das recusas da United e da Universal, entreabriu-se a porta da Century Fox. O presidente Alan Ladd Jr. fortalecera as finanças da produtora com uma série, precisamente de ficção científica (Planeta dos Macacos) e aceitou a ideia de uma aposta forte na temática fantástica aplicada a um filme de grande orçamento. Dois anos depois, obtido o script exigido ao realizador, a Fox disponibilizou o capital. Estava-se na primavera de 1976. Em Portugal ainda fumegavam, aqui e ali, os dissolvidos incêndios de outra produção épica, o Verão Quente de 1975.
Começou enfim a rodagem de Star Wars com Lucas desenvolvendo um trabalho ciclópico, perseverante, no limite da resistência, para acudir à infinidade de exigências que um projecto de tal magnitude implicava.
Os efeitos especiais, sustentáculo do gigantesco empreendimento, foram confiados a uma equipa de ouro liderada por um génio das trucagens modernas, John Dykstra, então principal responsável criativo da Industrial Light & Magic, a empresa entretanto criada por Lucas e que mais tarde se tornaria na fonte luminosa dos prodígios inimagináveis onde se "abastecia" a elite do celulóide.
Múltiplas reformulações técnicas se operaram a um ritmo vertiginoso, num aparato de efeitos sem paralelo até então. Contudo, num aspecto permaneceu o filme inalterado desde a primeira hora: a história.
Lucas sempre pretendeu que o plano narrativo do filme cingisse, numa simplicidade extrema, os elementos de fantasia, aventura e humor assimiláveis de imediato por um público juvenil (o tal «com 14 anos ou menos»). Disse também: «Este filme foi feito para uma geração que cresceu sem contos de fadas» .






Luke Skywalker é um típico cavaleiro arturiano cujo heroísmo não conhece limites, disposto a dar a vida, se necessário, por uma causa justa, pelo triunfo da verdade ou pelo ímpeto generoso de salvar uma dama em perigo – no caso, a Princesa Leia Organa de Alderaan, a frágil soberana da aventura.


No entanto, tudo se passa, agora, algures no espaço, numa outra galáxia e num outro tempo. A Princesa – que tem o segredo de uma arma prodigiosa, além de um "estonteante" biquini dourado – tenta escapar às forças opressoras, cujos desígnios são os de substituir os regimes pacíficos e democráticos por uma ditadura imperial, porém acaba por ser capturada. Darth Vader, sinistro ciborgue que comanda os exércitos do Mal, mantem-na à sua mercê.
De espírito nobre e vontade inquebrantável, Luke não hesita na decisão de salvar a Princesa. Para tanto, encontra-se com Ben Obi-Wan Kenobi, um venerável cavaleiro do Bem que lhe transmite os místicos poderes da Força. Luke e os robots C-3PO (Threepio) e R2-D2 (Artoo Detoo) – os mais populares do Universo! – partem ao encontro da Princesa cativa, mas o jovem, armado tão-só com a sua bravura e com o sabre de luz herdado do pai, contrata, para o ajudar na terrível empresa, o mercenário interplanetário Han Solo (um imberbe Harrison Ford), aventureiro oportunista e matreiro que, no momento decisivo, se deixa sobrelevar por uma intuição de honra e pelo mais elevado altruísmo.
A este grupo fantástico junta-se Chewbacca, personagem estranhíssima, espécie de cão configurado em urso («tapete rolante malcheiroso», como lhe chama delicadamente a Princesa).
Assim começa a saga Star Wars, de George Lucas, que, anuncia-se, reaparecerá em breve nas salas portuguesas.
Para todas as idades.




Pedro Foyos
Jornalista



3 comentários:

  1. Definitivamente, a Guerra das Estrelas não faz o meu género. Apesar do Harrison Ford :)

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  2. Boa crónica ... mas já são muitos decibéis para os meus ouvidos, ou para a minha pobre cabeça ....

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  3. Vi esses filmes inúmeras vezes, agora só repito a dose se vierem em 3D.

    Gosto particularmente daquele em que entram o preto grande, o galês, o escocês e a Portman, mas não me lembro ao certo como se chama...

    :-)

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