sábado, 20 de março de 2010

Poesia carioca - Cacau Rodrigues


Boa noite, damas e valetes!

Venho aqui me apresentar.

Eu sou a fala fácil, macia, arrastada;

A fala que brinca, "na marra",

Meio deitada...

Eu vivo nas bocas da noite,

No sereno sem capa,

No palavriado dos malandros da Lapa;

Sou a poesia carioca.

Vou de chapéu de palha,

Terno de linho branco...

Levo a vida "na malha",

No fio da navalha...

"Aê, me'rmão!" Vê se não espalha,

Mas eu sou a fina flor do Rio de Janeiro!

Vivo "na moral", mas sem moral,

Que moral demais atrapalha.

"Jogo pesado" na esquina,

Mas falo baixinho no ouvido da mina...

E encanto pra "dedel"!

Mas "desencano" é no motel...

Falo alto, beijo, brigo, brinco, faço um "escacel"!

E me "amarro" numa literatura de "bordel"...

Eu sou a poesia carioca.

Cariocamente livre,

Cariocamente feliz,

Cariocamente linda,

Cariocamente...

Carioca mente?

Mente.

Carioca mente.

Ca-ri-o-ca-men-te...

Mas diz a verdade na lata!

Dá a mão, mas mete a pata!

E faz a festa!

É samba, praia, futebol e cama...

Chama na "xincha" quando ama...

Tira onda na boa,

Tira sarro da 'boa'...

Meta a beca do verão:

Boné, chinelo, camiseta e bermudão...

Carioca faz a própria moda;

Carioca é fffogo!

Mas a maioria é MENGO!

Porque o Flamengo é o carioca,

E o carioca é Flamengo.

Eu rolo na vida desse povo,

Que não tem medo de nada

Porque não adianta;

Que cai, levanta,

E vai pra luta de novo...

Eu saio da mente rica do poeta

E da cabeça cheia do trabalhador...

Não babo em romantismos,

Mas quando quero sei falar de amor.

E dou sempre uma olhadinha

Lá pro Cristo Redentor,

Porque afinal de contas

Eu não sou de aço;

E essa cidade é maravilhosa,

mas é um terror...

Tô na área, nêga!

Se derrubar é pênalti...

E como esse povo é grande batedor,

Não inventa não, que vai ser gol!

Eu sou a poesia carioca.

Você vai me encontrar em cada canto que você passar...

No brilho do sol

Ou na luz do luar...

Todo mundo me conhece;

Um sotaque chiado, malandro, maneiro,

Do gingado brasileiro,

Que à 'garota de Ipanema'

coube imortalizar.

Eu sou "marrenta" mesmo!

Esse é o meu jeito de falar.

E é como eu digo:

Eu sempre venço no final.

Até quando perco, eu venço;

Ninguém derruba o meu astral.

Eu sou mais eu!

Sou a poesia carioca.

Sou uma poeta carioca.

Vai encarar?

Nem tenta, valeu?

Nem tenta.


Cacau Rodrigues

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