sexta-feira, 26 de março de 2010

LVII - E de repente, não mais do que repente...

Não me lembro de ter apagado a luz.

A última imagem que guardei foi a do Leónidas, de barriga cheia pelos acepipes que eu lhe preparara, a saltar para os pés da cama com um ronronar satisfeito.
O meu sono durou toda a noite mas foi muito sobressaltado.

Sonhos dos mais variados géneros ocuparam-me a mente numa sucessão de imagens distorcidas, aparentemente sem qualquer conexão.

Pelo lado positivo, surgiram diversas mulheres sensuais a entrarem-me pé ante pé no quarto, em chuveiros escaldantes comigo a ensaboá-las, a descerem escadarias e a meio das mesmas deixarem deslizar os longos vestidos de cetim mostrando estarem completamente nuas…

A Cristina na sua versão ultra ‘Foxy Lady’ era uma das minhas protagonistas preferidas aparecendo em cenas vividas na realidade com a defunta Vanessa ou a com a misteriosa Bia, mas também a jovem Rosinha fazia a sua ‘perninha’, aliás pernocas…

Na vertente pesadelo, todas as cenas eróticas eram interrompidas pelo aparecimento de figuras mais ou menos tenebrosas como o Coronel Sousa que dava ordens à mulher, a Beatriz, num alemão cuspido, o Ti Jaquim ou, se preferirem, o Joaquim Rega que metralhava tudo e todos e terminava envolto num mar de sangue ou, ainda, o enigmático Mário Gavião que, à boa maneira de qualquer agente secreto que se preze, afirmava com voz cava “ My name is Gavião…Mário Gavião !”

Uma das cenas mais caricatas de que me recordo era o Comendador Alberto Salcedas a fazer braço de ferro com…o Ernesto Hemingway.
O curioso é que quando me aproximei da dupla, a cara do escritor norte - americano se transformava na do, também comendador, Berardo, conterrâneo do ‘meu’ Comendador.

Até o cheque que este último me entregara fizera a sua aparição…
Eu aproximava-me do pedestal da estátua do Pessoa e quando olhava para o buraco existente no seu interior via que apenas um pedaço de papel permanecia nesse espaço.
Ao pegar-lhe e verificar que se tratava de um cheque avultado passado em meu nome…este explodia-me em pleno rosto fazendo-me desmaiar.

Para logo acordar a sentir a sedosidade da pele quase adolescente da Rosinha…

Mas não, era apenas o Leónidas que certamente cansado de tanta agitação nocturna resolvera acordar-me passando o seu pelo bem tratado pela minha cara até as imagens prometedoras da filha da Dona Rosa se desvanecerem por completo.

Levantei-me esfaimado. Já passava das 10 da manhã…
Mas mesmo assim, antes de ir comer qualquer coisa, telefonei ao meu amigo da PJ e pedi-lhe que me descobrisse o nome do proprietário e a morada, se possível, da criatura que saíra na véspera à noite do meu prédio.
O Alvarez, meu amigo de longa data, respondeu que com uma simples consulta no ficheiro central teria essas respostas em menos de meia hora…

Preparei, então, nova dose de comida para o Leónidas, tomei um chuveiro prolongado e só depois me dirigi à cozinha onde me aguardava o pacote com os pastéis de nata gentilmente oferecidos, na noite anterior, pela Dona Rosa.

O cheiro a canela fez-me acreditar que talvez a vida , afinal, não fosse tão má como tudo isso…
Em duas dentadas fiz desaparecer o primeiro dos três pastéis da mãe da Rosinha.
Foi então que aroma intenso da canela me fez transportar à cena do banho na Herdade do Coto, com a ‘Foxy Lady’ debaixo do jacto poderoso da água e eu feito basbaque parado à entrada da sala de banho prestes a ser interrompido pela pergunta do guerrilheiro/ caseiro.

Porém o meu devaneio foi interrompido subitamente.

Canela…era, também, o aroma que sentira no ar, ontem na presença da minha vizinha do lado.

2 comentários:

  1. Ora aí tens , para a nóvel 'foxy' Laura Palma, dedicado à sua quase homónima americana, mas sem cheiro a canela nenhum...


    Um pouco de perfume com cheiro de canela de Neil Young (mas esta era dedicada à mulher e à filha dele...)

    E também podes sempre tentar encontrá-lo (ao perfume) entre Brasil e Cuba

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  2. A Laura Palma a cheirar a canela? só faltava...

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