As nuvens brancas estendiam-se a perder de vista…
O céu de um azul intenso encadeava, obrigando-me a manter os olhos semicerrados.
Ao longe comecei a vislumbrar uma figura de barbas brancas com uma espécie de túnica até aos pés.
“ São Pedro?!??” não sei se terei pensado ou dito esta frase em voz alta.
A pancada que me fizera desmaiar fora desferida, afinal, com força suficiente para me ter mandado para os anjinhos?
O homem das barbas brancas dizia-me algo incompreensível.
A seu lado perfilavam-se outras duas sombras nebulosas. Anjos ? Demónios?
As perguntas chegavam-me em catadupa…
Porque teria o prestável Ti Jaquim, ou o menos amigável Joaquim Rega desferido uma violenta pancada…com o cabo da pá?
E como poderia eu ter a certeza de que se tratava do Ti Jaquim? Mas quem mais poderia ter sido? …A ‘Foxy Lady’?
Novos homens do Coronel teriam chegado sem que nos apercebêssemos?
Comecei a ver as imagens com mais nitidez…
E a perceber-me dos sons.
“ Parece que ele está a voltar a si…”
Era a voz do Salcedas.
Uma das sombras ao lado do tal homem das barbas ( que afinal não era o São Pedro mas sim um sexagenário de bata branca) era o Comendador.
A outra era o seu motorista habitual que conhecera em Lisboa aquando do primeiro encontro que ocorrera há meia dúzia de dias mas que me parecia pertencer a outra encarnação.
O Comendador falava agora directamente para mim:
“Então Nuno diga-nos o que é que aconteceu, afinal?”
A dor de cabeça instalara-se com carácter permanente.
Esforcei-me por responder apesar da intensidade da dor e da sensação de vómito que sentia subir por mim acima.
“ Não sei o que se passou…” soergui-me um pouco e esse simples movimento foi o suficiente para que tambores e explosões eclodissem no interior da minha cabeça” Penso que o Ti Jaquim me deve ter dado uma pancada …”
O azedume, misturado com alguma agressividade, era óbvio no tom com que o Comendador fez a pergunta seguinte:
“ Quem, este?”
Dizendo isto afastou-se um passo para o lado e deixou-me ver o corpo que estava estendido na relva, a dois ou três metros de distância.
O Ti Jaquim , com um ar de espanto no rosto, aparentava o ar saudável com que sempre o conhecera.
O que me fez alterar essa ideia foi o pequeno orifício redondo, no meio da testa, por onde escorria um fio de sangue escuro…
segunda-feira, 22 de março de 2010
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Muito bom esse artifício de estilo para dizer que o Ti Jaquim se foi.
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