terça-feira, 30 de junho de 2009

Pina Bausch - A Dança interrompida















A coreógrafa alemã Pina Bausch morreu hoje aos 68 anos.
A autora de "Café Müller", a única peça que interpretou, soube há apenas cinco dias que sofria de cancro,

Nascida em Solingen, na Alemanha, a 27 de Julho de 1940, começou a estudar dança aos 14 anos na Escola de Folkwang d'Essen (ouest) com o coreógrafo Kurt Jooss, um dos fundadores do movimento Ausdruckstanz, uma corrente que combina o movimento, a música e elementos da arte dramática na sua dança.
A passagem pela conceituada escola de dança norte-americana Juilliard permitiu-lhe o contacto com Anthony Tudor, José Limon e Mary Hinkson.
Mais tarde, regressaria à Alemanha para integrar a companhia Folkwang, de Kurt Jooss - assinaria a sua primeira coreografia, "Fragment", sobre música de Bela Bartok em 1968.
Em 1969, ascendia ao cargo de directora artística da Folkwang, que acumulava com a coreografia e a dança em palco.

Figura maior da dança expressionista alemã, Bausch era uma criadora consagrada e uma das maiores coreógrafas do mundo.
Tendo crescido no hotel-restaurante dos seus pais, sempre se pensou que "Café Müller" era inspirado nessa sua experiência, na sua vida, algo que sempre negou .

"Não tem nada a ver com a minha biografia. Chama-se "Café Müller" mas não tem nada a ver com o facto de os meus pais terem tido um restaurante", disse. "Esta peça nasceu de um convite para fazer um trabalho à volta do [dramaturgo britânico William] Shakespeare, um trabalho baseado numa passagem do "Macbeth.
Éramos uns quantos bailarinos, alguns actores e um cantor.
Tínhamos 14 dias até à estreia e achei que não era suficiente.
Decidi chamar mais algumas pessoas o Gerhard Bohner, Hans Pop, Gigi Caciuleano para uma coreografia que se passasse apenas numa sala, o Café Müller, em que cada um poderia fazer pequenas danças e contar as suas próprias histórias, ou até usar a sua própria música.
No fundo, são quatro diferentes "Café Müller" que fazemos juntos.
Como vê, nada tem de privado ou pessoal".






"Café Müller" é, enfim, a sua peça mais conhecida, apenas interpretada uma vez em Portugal, há 15 anos, por ocasião de Lisboa - Capital Europeia da Cultura e a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, que organizou um ciclo retrospectivo à volta da sua obra.
No ano passado, o Centro Cultural de Belém e o Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, organizaram um ciclo de conversas, filmes e três peças: a estreia nacional de "Nefés", sobre Istambul, "Masurca Fogo", feita sobre Lisboa em 1998 e apresentada na altura, e "Café Müller".





















Reconhecidamente uma figura avessa a entrevistas e a falar em público, disse em entrevista : "Nunca gostei de peças que se desenrolam num só nível; o ambiente das minhas está sempre a mudar, com o fim sempre em aberto. Eu também não sei. Há mais perguntas que respostas. Há muitas perguntas".
A "sua" companhia, o Tanztheater Wuppertal, é-o desde 1973. Começou a ser convidada com regularidade a fazer digressões no estrangeiro e o Tanztheater passou a ser reconhecido como uma das maiores companhias contemporâneas do mundo.
































Participou no fime de Fellini
"O Navio" (1982) e depois em
"Fala com Ela", de Pedro Almodóvar (2001).
Em 1990, realizou "A Queixa da Imperatriz" e estava a planear fazer um filme com Wim Wenders. No ano passado, foi distinguida com o Prémio Goethe.
E assim, numa morte súbita e inesperada ( com apenas cinco dias de intervalo entre o diagnóstico e o fim) desaparece um dos grandes nomes da Dança e do Espectáculo, deixando mais pobres os seus muitos milhares de admiradores.
Post dedicado à Quimera

A Menina no Lago


Da cachoeira
escorre o desejo
em queda livre
enchendo a lagoa
de água com mel.
Da menina
sopra num beijo
o primeiro prazer
que lhe enche o corpo
de sucos com leite.

A Virgem, o Cavaleiro e o Dragão

A história é bem conhecida, sofre é, por vezes, eventuais alterações.

Em tempos que já lá vão, num continente perdido entre as brumas da memória ( onde é que já se ouviu isto ?) vivia uma Virgem de belos olhos azuis, como lagos escandinavos, e uma farta cabeleira loura encaracolada, que descia em cascata, costas abaixo, em volúpias de Niágara.

A jovem Virgem, recatada e de olhos baixos, como convém às virgens que se prezam, passava o dia a bordar e a fazer arranjos florais, passeando, muitas vezes, junto ao grande lago que ladeava o bosque, onde colhia as flores selvagens que tornavam os seus bouquets, os mais apreciados de toda a região.
Ajoelhando-se junto às águas calma, para se refrescar dos calores estivais,
vislumbrava a sua imagem no reflexo das águas e era com, indesmentível, prazer que sentia as faces ruborizarem-se e o ritmo cardíaco aumentar, causando-lhe um estado febril e leves tonturas que, pouco depois, desapareciam, deixando-a num estado de doce languidez.

Não muito longe dali, vivia um Cavaleiro que destinara a vida a salvar jovens virgens das garras dos dragões.
Infelizmente a sua, ainda, parca experiência, mostrara-lhe já que a maior parte das pretensas virgens não eram mais do que umas sabidonas, com largo traquejo nas estalagens das redondezas, nas mãos, e não só, de feirantes, menestréis, e outros que tais.
Também os poucos dragões que vislumbrara, sofriam já de reumatismo, velhos e alquebrados, com as escamas todas rebentadas, as garras roídas de unhas gastas e impossibilitados, há muito, de emitirem o mínimo fogacho que fosse.

Porém, o Dragão desta história era jovem e impetuoso.
Tendo vivido escondido, os poucos anos que tinha de vida, no mais recôndito do bosque, aperfeiçoara, em muito, o seu lançamento de chama, conseguindo apanhar um coelho a largos metros de distância e fazendo-o chegar à enorme bocarra, perfeitamente assado e sem pele.
Espreitando por entre as altas e frondosas árvores, já há muito o nosso dragão
dera pela presença ofuscante da bela virgem quando esta se refrescava , junto ao lago.
Também, nele, as batidas se tornavam galopantes, parecendo querer o coração, saltar-lhe pela boca. Só que ainda não ganhara coragem para se dar a conhecer.

Mas naquele dia tudo se precipitou.
A Virgem estava junto ao lago quando o Cavaleiro apareceu.
Perante a beleza inesperada o corcel do mancebo empinou-se o que foi interpretado pelo Dragão como sinal de perigo para a dona do seu coração.
Irrompendo do bosque, lançou uma potente labareda na direcção do Cavaleiro que mal teve tempo de se proteger com o alvo escudo, aproveitando para desembainhar a sua espada de aço temperado.
Foi a muito custo, que a Virgem conseguiu suster o embate, perguntando aos dois se tinham algo a propor-lhe.

O Cavaleiro desenhou-lhe um futuro com muitos filhos, batalhas campais, remendos nas armaduras, feridas para sarar, promessas e orações…

O Dragão mostrando-lhe a língua rugosa, prometeu-lhe orgasmos selvagens, orgias nas noites de lua cheia e chamas variadas pelo corpo todo…

A Virgem, que o seria por pouco tempo mais, escolheu o Dragão.

Moral da História:
O tempo não está fácil para os Cavaleiros.

Alexandre Dumas Pai d'Outras Filho

Jordi Bernet, mestre da BD noir

No início do "Galo" publiquei vários posts acerca de alguns dos melhores desenhadores actuais de Banda Desenhada. Esses posts nunca foram vistos, por muitos dos mais recentes frequentadores do blog.
Esta imagem, que hoje aqui deixo, é apenas um chamariz para clicarem o link abaixo e irem até lá darem uma olhadela. Acho que vale a pena...
E depois comentem, please.

Posts relacionados:
http://ogalodebarcelosaopoder.blogspot.com/search/label/Banda%20Desenhada

O livro que ando a ouvir

"Silêncio! Lisboa Capital da Palavra" – feliz lema para o Festival do Audiolivro que decorreu na última semana por iniciativa de três editoras pioneiras.
Sou um incondicional apoiante do "audiobook" (como se diz ainda por aí), tão escassamente explorado em Portugal, em contraste com o que acontece nos EUA, em vários países europeus e também agora no Brasil.
Há anos, no metro de Londres, surpreendi-me ao dar conta, pelas capas plásticas sobre os joelhos de alguns passageiros com auscultadores, que eram livros o que ouviam e não música.
Segundo os dados divulgados pela organização do "Festival Silêncio!", existem países onde o audiolivro abarca dez por cento do mercado editorial.
Quase sempre o lançamento do livro impresso ocorre em simultâneo com o respectivo CD audio, o que é desejável, pois não se defende a substituição de um modelo por outro, exceptuando a situação óbvia dos invisuais.
Desconhece-se a percentagem desse segmento em Portugal, mas não erraria calculando que em dez mil títulos publicados em papel haverá um com a correspondente versão sonora.
Sublinhe-se, no entanto, que o pouco existente é de magnífica qualidade.
Dos autores de língua portuguesa merecem destaque Fernando Pessoa, Eça de Queirós e os contemporâneos Gonçalo M. Tavares e José Eduardo Agualusa.
Os estrangeiros são em maior número, com realce para Paul Auster, Stefan Zweig, Luis Sepúlveda e Gogol.
As vozes são em geral de excelência (não escondo a minha predilecção pelo jornalista da TSF, Fernando Alves, e actriz Maria do Céu Guerra).
Em Junho de 2007 participei num colóquio em Lisboa, na Livraria Barata, em que o tema do audiolivro atraiu confrangedoramente pouco mais de uma dezena de cabeças pensantes.
Numa troca de impressões com alguns dos presentes sugeri que uma futura campanha promocional incorporasse a ideia da imensa antiguidade do audiolivro.
Exemplificando: «Quando o livro foi inventado, muito antes já o havia sido o audiolivro.» Indispensável complementar tal asserção com a imagem dos bardos homéricos que representaram de facto os primeiros "audiolivros".
Em comunidades de analfabetos, esses bardos garantiram a perpetuação memorial de muitas obras-primas.
Os antigos gregos apreciavam os livros mais pelo efeito auditivo do que visual.
A "literatura" era para ser lida em voz alta, entoada, declamada.
Tucídides, o primeiro que deu à História um carácter científico e que chorava em público ao escutar as Histórias de Heródoto, chegava a pedir desculpa por recorrer à palavra escrita, um registo menor, cujo único mérito – dizia – era o de permitir «uma posse para sempre».
Sócrates, intermediado por Platão em Fedro, fustigava «aqueles que não conseguem erguer-se acima das suas compilações e composições, que passam o tempo a remendar e a cerzir...»
E qualificava com impiedade de indignos do nome de "amantes da sabedoria, ou filósofos" quantos não se mostrassem capazes de defender as ideias «com argumentos orais, que levam vantagem na comparação com os escritos.»
Melhor promoção, admito, seria alertar as pessoa para milhares de horas malbaratadas a ouvir e a ver programas de superlativa estupidificação, publicidade massacrante, concursos infindos.
Ah!, também os nossos ayatollahs da política e da bola, esses sábios que à hora do costume vão ratando em todos os televisores da Nação e que nas pantalhas envelhecem connosco, noite após noite, com os ritos e tiques de todos os dias.
Poderiam ser revezados de quando em vez pela audição de um bom romance.
Outra promissora via de futuro para o audiolivro são os engarrafamentos de trânsito.
Com algum grau de alucinação consigo imaginar um mar de condutores imobilizados, cada qual ouvindo o género de literatura da sua preferência: romance, conto, poesia...
Montemos a peça. Enclausurados no nosso veículo de rodas tolhidas, vemos à esquerda um condutor lavado em lágrimas.
Inúmeros factores estarão na origem do estranho comportamento.
Prefiro o seguinte: o sujeito ouve E Tudo o Vento Levou, precisamente aquela sequência lancinante em que a bela Scarlett O'Hara regressa a casa e encontra a mãe morta, o pai louco e toda a fortuna em fanicos.
Mas, repare-se!... à nossa direita, sim, mesmo aqui ao lado, outro ri-se a bandeiras despregadas. O próprio carro parece gargalhar, saltiricando nas oportunidades de avançar um metro. Poderemos intuir (mera presunção) que está a ouvir uma antologia dos melhores trechos humorísticos postados num blog com o nome, já de si risível, de O Galo de Barcelos ao Poder.








Pedro Foyos
Jornalista

Os Carcaças contra os Papo Secos

No último encontro futebolístico entre Séniores e Júniores, os primeiros ( entre os quais pareceu-me vislumbrar o Zé Manel e o Marau) deram uma abada aos segundos. Não há nada como a experiência...

Enviado pela Moira de Trabalho

O Curvo e o Nodoso - MEC

"...Mariann Fischer-Boel, que é a senhora que manda nas hortaliças de toda a Europa, decidiu deixar de proibir os produtos hortícolas feios.
Acabou-se o regime de top models em que só a beleza e a perfeição eram admissíveis.
Fischer-Boel foi muito clara: "Esta decisão marca o início de uma nova era para os pepinos curvos e as cenouras nodosas".
É impossível não verter uma lágrima.
Todos sabemos quanto eles e elas têm sofrido.
O estigma, a chacota e o ostracismo de décadas não se esquecem facilmente.
O título no PÚBLICO de ontem suspirava de alívio:
Pepinos curvos e cenouras nodosas de novo à venda.
A peça foi saborosamente redigida por Andreia Sanches. S
ão 26 produtos que se livraram do jugo da perfeição, mas, como seria de esperar, são os pepinos curvos, as cenouras nodosas e as beringelas tortas que recebem maior proeminência.
Todos sabemos que a beleza da fruta e da hortaliça não tem nada a ver com a bondade.
Aliás, se há uma tendência hoje é para desfear a fruta e a hortaliça de propósito: apanhando-a cedo de mais para ficar mais pequena; cobrindo-a de terra; raspando-a contra os muros e picando-lhe as folhas à laia de lagarta, para parecer mais "bio".Já estou a ver que a cenoura nodosa vai ser mais cara do que a outra.
Afinal, um nódulo o que é senão um desejo de nascer ali outra cenoura?
O homem cria as cenouras mas é Deus que lhe dá os nódulos, blá blá blá.
Vai-nos sair cara a brincadeira..."

Miguel Esteves Cardoso

150 anos para Madoff

Como o homem tem mais de 70 anos, lá para os 200, se se portar bem, vai sair em liberdade condicional...
Cartoon de Henrique Monteiro

A Capa do Dia

Na TV Guia, em destaque, a Madame Carreira, tendo como título "Das limpezas a milionária,"diz que esses tempos a ajudaram a ser o que é hoje ( e a ter sempre a casa muito mais limpa, imagina-se); Merche promete casamento e bébé para este ano ( como só faltam 5 meses para o final do ano, isto significará que...?); e, finalmente, Ronaldo no Algarve, com dias no mar e noites de strip tease (temos que reconhecer que dias de strip e noites no mar, seria bem mais original). E por hoje é tudo, na nossa Imprensa do Dia...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Oficinas de Férias


Férias de Verão
no Museu das Comunicações

O Serviço Educativo do Museu das Comunicações tem vindo a apostar em actividades desenvolvidas para o período de férias dos mais novos, que lhes permitam conhecer o Museu e, duma forma lúdica e interactiva, explorar os meios de comunicação.

Programa das Oficinas de Férias - Verão 2009
6 e 7 de Julho
- O que tens tu para me dizer?

Um museu tem peças que nos contam várias histórias.
Vem descobrir como é que elas contam essas histórias.
Será através da sua forma, das suas cores, dos seus materiais?
Será que consegues construir uma peça que também tenha algo para dizer?

13 e 14 de Julho - Ser e parecer

O ser e o parecer podem deixar muitas dúvidas.
O que diferencia uma peça original de uma réplica?
No museu temos dois tipos de réplicas: reais e virtuais!

20 e 21 de Julho - Estás no Ar!

Podemos telecomunicar através dos sons e das imagens.
Que diferenças existem entre estes dois meios de comunicação?
Como se produzem os sons e quando foi a primeira vez que se captou uma imagem?

27 e 28 de Julho - Comunicar a Ciência!

Já imaginaste como deve ser o trabalho de um cientista?
Porque faz ele experiências?
Nestes dois dias podes tornar-te num deles,
e descobrir e partilhar as tuas experiências sobre electricidade.

Horário:09h30 Recepção; 13h às 14h30 Almoço; 18h Saída
Preço por dia: 10 Euros (sem almoço), 14,80 Euros (com almoço), 17,80 Euros (com almoço e lanche)
Nº de participantes: máximo 15
Sujeito a inscrição prévia até à terça-feira anterior à data de cada oficina.
Mais informações:Nº verde: 800 215 216
museu@fpc.pt

...E de onde é que saiu este marmanjo ?!???


Ora cá temos mais uma visita habitual do "Galo".
Vamos lá ver se as vossas deduções e intuições estão a funcionar, a contento...

- Nasceu na Capital, e viveu em algumas grandes cidades do Mundo.
- Há uma vintena d'anos passou-se para os subúrbios, onde assentou arraiais entre pinheiros, a umas centenas de metros da praia.
- Mais recentemente, descobriu um sítio recôndito no Alentejo profundo, para onde foge com a família, muitos fins-de-semana.
- Gosta de leitura, música, pintura, cozinha, viajar, fotografia, conversar e de escrever, por esta ordem, ou outra qualquer.
- Dá muito valor à Amizade, e tem algums amigos, poucos mas bons, de décadas.

E agora as hipóteses:
1 - Dany Marron
2 - Pedro Miguel P.
3 - Marau
4 - Alv ega
5 - Nenhuma das anteriores
Do alto do meu poleiro, aguardo as vossas respostas...

Postais de Luanda

Fui ao Huambo, cidade antes conhecida por Nova Lisboa, distante 600 kms. de Luanda.
Fui de carro, como eu gosto, com a companhia de um moçambicano que partilha um espaço da minha casa e é o responsável pelo projecto da fábrica de água de mesa que estamos a construir.
A cidade do Huambo é a antítese de Luanda: sossego, limpeza, bom clima.
Tinha ido ao Huambo, digo Nova Lisboa, em 1975 para "pedir a mão" da Rosário, a mãe do Afonso.
O pai da Rosário, Manuel Malheiro, era um importante industrial radicado em Angola onde queria permanecer não fossem as condições de vida adversas que naquela altura da pré-independência se verificavam.
Nunca se tinha sentido atraído pela vida na Metrópole e o Portugal de então pouco lhe dizia.
Os seus últimos anos de vida foram de algum desconforto pela contrariedade que tinha relativamente ao estilo de vida que aí vigorava.
Pouco me lembro da Nova Lisboa dessa época, talvez por os meus "interesses" estarem concentrados noutro sentido.
Tirei alguns slides que guardo religiosamente e espero digitalizar em breve para depois comparar com as fotografias (agora em digital) que tirei nesta viagem e que incluo uma selecção.
A viagem em si é uma aventura visual pela diversidade da paisagem com a transição do litoral para o planalto central onde fica Huambo.
É uma estrada com rectas a perder de vista, ora ladeada de capim, de pequenas aldeias, com rcuamento de linhas de água, cujas pontes estão em reabilitação e nos fazem abrandar a marcha. Viajar nesta estrada é relativamente perigoso, sobretudo por causa dos camiões que rodam a altas velocidades, e param com avarias sem qualquer sinalização.

Há três pontos de paragem, para esticar as pernas, tomar um café (se houver) e reabastecer de combustível (é sempre bom não deixar o nível do depósito descer abaixo do meio, porque nunca sabemos se a próxima bomba de gasolina tem combustível, e a próxima bomba de gasolina significam 200 kms. pelo menos):
- Dondo, perto da barragem de Cambambe, uma cidade que já foi industrial à beira do rio Kuanza, já referida num "cena" do ano passado:
- Quibala ou Kibala, no Kuanza Sul, é uma encruzilhada para Gabela e Sumbe, e o início das zonas agrícolas ricas. A estrada é ladeada de enormíssimos afloramentos graníticos, alguns com formas bizarras.
- Waku Kungo, uma região que o governo está a usar para fazer o realojamento de ex-militares, com projectos agro-industriais muito bem sucedidos e construídos à medida dos camponeses locais.







O Huambo é uma cidade muito bem organizada, muito limpa com ruas muito bem pavimentadas, sem engarrafamentos de tráfego e sem filas para as bombas de gasolina, um dos quebra-cabeças de Luanda.
O clima é mediterrânico e encontrei um sítio, a Granja do Pôr-do-Sol, que me fez sentir como se estivesse em Portugal, muito bem cuidado e agradável.
O objectivo da minha viagem era visitar uma hotel que havia sido construído nos últimos tempos do período colonial e que foi ocupado (e vandalizado) após a independência.
No entanto, a estrutura está muito boa, tem um terreno fantástico no centro da cidade e, se o projecto for para a frente (claro que os promotores querem uma exorbitância) será uma referência para a cidade.
Fiquei no segundo melhor hotel (só há dois e o Ritz estava cheio), chama-se Nino e na madrugada da primeira noite acordei com uma inundação no quarto daquela água escura que corre nos esgotos: uma aventura.
Mas acreditem: ao fim do segundo dia comecei a sentir saudades de Luanda, deste frenezim quotidiano, do elevador que não funciona no meu escritório (que é no 13º andar), das constantes faltas de energia em casa (e nem sempre o gerador arranca), das infindáveis horas passadas no trânsito.
Mas que pouco me afectam, pela compensação que tenho no que vou conseguindo fazer pelos projectos que tenho que gerir.
Pirolito 142 ( Our Man in Angola)

Palavras com a Gafa - MEC

"...Quando leio a palavra gafe num título, não consigo fugir.
Foi no PÚBLICO de ontem: "Matemática melhor, História com gaffe".
Numa época cada vez mais premeditada e coadjuvada por assessores de toda a espécie (alguns dos quais humanos), a verdadeira gaffe vai rareando.
Em contrapartida, quando aparece, é cada vez mais gira, como uma girafa.
Em 2001, o dicionário práfrentex e estraga-prazeres da Academia das Ciências de Lisboa sacudiu o segundo (ou o primeiro) f e as aspas.
Saltaram como pingos de lama das costas de uma cadela de raça estrangeira cujos avós já nasceram em Sobral do Monte Agraço, naturalizando-a portuguesa.
Ficou gaffe. No entanto, a definição não está mal (embora falte a gaffe falada):
"1. Atitude, comportamento, inconveniente, impensado e inoportuno, particularmente contrário às normas de etiqueta, de cortesia.
2. Erro cometido por lapso ou por negligência".

No exame de História do 12.º ano, havia um rodapé que informava os alunos que Gorbatchev tinha sido dirigente da URSS de 1985 a 2001.
16 aninhos! Dá a ideia que foi um ditador soviético da velha guarda, que resistiu à queda do Muro de Berlim e tudo.
Era 1991, claro. Foi uma gralha? Foi um erro?
Não, declarou Helena Veríssimo, presidente da Associação de Professores de História:
"Não é um erro, é uma gaffe".
Gosto de para aonde isto nos leva.
Isto não é uma piadola, é uma boutade.
Isto não é uma crónica, é um teste.
Nem tão-pouco me peidei: soltei um pet..."

Miguel Esteves Cardoso

Enviado por Alv ega

A verdadeira Causa

Por vezes, uma simples dor de cabeça, pode ter raízes bem mais profundas e distantes...

Cartoon de Randy Glasbergen

Os gladiadores

Foi pela mão do pai.
Pequeno, pela altura do cinturão.
A mãe rogava-lhe para que não fosse.
Naquele tempo… não era espectáculo para a sua idade, insistiu. Não o suficiente para demover o pai que parecia querer mostrar ao miúdo as agruras dos homens expostas da forma mais primária e grotesca.
Via muito pouco no meio daquela confusão mas sentia a emoção nas bancadas.
Os gritos, os hurros. Braços levantados, punhos cerrados e muita, muita acção.
Lá em baixo na arena, os homens lutavam por um objectivo não muito claro, pelo menos para si.
Uns corriam em bandos, outros destacavam-se isolados.
O pai, a par e passo, abaixava-se a seu lado e, apontando para eles, dizia-lhe o que cada um estava a querer fazer, e que ele não entendia.
Óbvia era a luta. Pontapeavam-se com violência e perseguiam-se mutuamente, em hordas desordenadas.
Aqueles homens odiavam-se, seguramente, e seriam os mais temíveis inimigos entre si.
O espectáculo durou muito tempo.
Alguns feriram-se e eram retirados para rapidamente se retomarem as perseguições e fugas. Percebia que o pai, como outros, estava muito abarcado naquela emoção e gritava coisas que o baralhavam: pedia mais leões, mais ataques.
Vitória ou morte! – disse a dada altura.
Isso fê-lo retrair-se e num gesto próprio da sua tenra idade, abraçou a perna do pai, de olhos fechados, e pediu o fim de tudo aquilo.
As suas preces foram ouvidas e após um grande hurro final, todos partiram em debandada, deixando desertas as bancadas.
Na arena não viu mais ninguém: nem mortos, nem feridos, nem os tais leões que o pai exigira.
O rasto dos confrontos, porém, ainda era bem visível, sobretudo nas bancadas que estavam repletas de destroços certamente provenientes do alastramento da luta.
E pela mão segura do pai, foi entrando na barriga do monstro, por debaixo das bancadas.
Os corredores escuros estavam já vazios.
Ao longe escutavam-se vozes fortes, rudes, mas em tom, desta vez, fraterno.
Ouvia-as cada vez mais perto.
Estavam agora num compartimento ali mesmo ao lado.
Encostou-se à parede, assustado e ficou à escuta, enquanto o pai ficou detido em abraços e pancadas nas costas com alguns homens que por vezes via em sua casa.
O corredor onde estava era algo sombrio.
Sentiu-se, então, tentado a espreitar pela única frincha de luz que alumiava aquele breu. Provinha das vozes; as mesmas vozes que ouvira no campo de batalha.
Temia ver homens esventrados, deglutindo as tripas dos adversários, em escabrosos rituais de guerra, como ouvira falar.
A curiosidade naturalmente venceu-o e a luz atraiu-o como a um insecto.
Arranjou coragem, e, com um olho aberto e outro cerrado, colou o rosto à frincha da porta.
Ficou horrorizado.
Os mesmos homens que haviam lutado - pela vida!, supusera - momentos antes naquele campo pelado, estavam, agora, todos juntos numa clara confraternização.
Meios nus, molhados, riam e vociferavam abraçados uns aos outros, mesmo vestindo cores diferentes.
Rapidamente se convenceu que todo aquele espectáculo tinha sido encenado.
Era tudo a fingir: a luta, a guerra, os pontapés.
Tudo falso. Ficou destroçado e repudiou o resto do convívio com o pai, insistindo num rápido regresso a casa.

Passaram-se mais de cinquenta anos e continua sem gostar de futebol; de derbies, então, nem ouvir falar.

Dear Prudence

Vai um snack ?

Temos que manter a criatividade e a imaginação em todas as situações. Não acham ?

O Adubo da Educação

Aconteceu na Escola Básica Integrada de Rabo de Peixe
(Ilha de S. Miguel - Açores),
desconhecendo-se qual a nota atribuída ao referido aluno.

A professora pediu aos alunos para fazerem
uma composição sobre a escola.
Um deles escreveu:
"A minha escola é pequena,
mas muito bem arranjada.
A minha escola é como se fosse um jardim.
Nós os alunos, somos as flores
e a senhora professora
é como se fosse um monte de estrume
que nos faz crescer belos e fortes."

Enviado por Teresa Moura

domingo, 28 de junho de 2009

Sunset Mojitos

Pois é, entre a labuta da rega gota a gota, o apanhar dos figos, alimentar as carpas do lago, e outras tarefas de igual exigência intelectual, há que retemperar as forças com umas tapas de paínho de porco preto, linguiça assada e queijos vários.
Mas para acompanhar estes sólidos, não é necessário recorrer, sempre, ao pesado tinto da região ou às incontornáveis mines, que enchem as mesas dos cafés da vila mais próxima.
Por vezes, avança-se para as inultrapassáveis caipirinhas, sem as modernices dos morangos, ou para la banderita mexicana... mas este fim- de - semana foram os Mojitos, os escolhidos para uma pausa refrescante, contemplando o pôr-do-sol, logo ali, por detrás do monte do Ti Jaquim.
Mojitos
Sumo de Limão - 1 Raminho de Hortelã - Açúcar - Rum Havana Club, ou outro - Muito Gelo - Água com Gás.
Colocar num copo alto o Sumo do Limão , o Açúcar e a Hortelã e pisar bem. Juntar o Gelo, o Rum até meio do copo e encher, o resto, com Água com Gás.
Depois é só ir saboreando, lentamente, olhando o Sol, enquanto este desaparece no horizonte...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Amelia Earhart - First Lady of Flight

Amelia Mary Earhart nasceu a 24 de Julho de 1897 em Atchison, no Estado norte americano do Kansas, e considerada desaparecida, quarenta anos depois, a 2 de Julho de 1937.
Considerada muito avançada para a sua época, foi pioneira na aviação dos Estados Unidos, para além de autora e defensora dos direitos das mulheres.
Earhart foi a primeira mulher a ser condecorada com a The Distinguished Flying Cross”, devido ao facto de ter sido a primeira aviadora a cruzar sozinha o Oceano Atlântico.
A Rainha do Ar, como também era conhecida, com seu look andrógino, mas feminino, deixou também, no campo da imagem, uma marca para a História.
As suas jaquetas de couro, as célebres gravatas e foulards de seda, as calças estreitas de cintura alta e os práticos macacões serão peças chave na Moda do próximo inverno.
Jean Paul Gaultier redescobriu os seus trench coats oversize, os confortáveis blusões e os chapéus de piloto... e transformou-os em peças de luxo para sua coleção Fall Winter 09 da Hermés.










Diversos foram os livros que publicou
narrando as sua experiências de vôo,
assim como muitas são, igualmente,
as biografias escritas a seu respeito.












A vida, aventura e luta pelos direitos da Mulher desta aviadora alimentaram,
desde sempre, o imaginário norte-americano.
Com a sua figura esguia, e modos delicados, ela tornou-se um símbolo para todas as jovens mulheres americanas, que gostavam de copiá-la.
As histórias e lendas em torno de Amelia Earhart estão tão enraízadas na psique americana que, por vezes, há a sensação de que ela é uma ficção, maior do que todos os mitos daquele país.
Há pouco mais de 70 anos, Amelia desaparecia no Pacífico Sul e tornar-se-ia um dos maiores mistérios da História da Aviação.

















Há pouco tempo, foram divulgados os diários de um repórter da Associated Press que havia sido contratado para relatar a última viagem de Amélia.
Um texto das anotações dava conta que o Electra KHAQQ, uma versão do belo bimotor metalizado Lockheed L-10, adaptado para este fim, havia deixado Natal, no Rio Grande do Norte, em 7 de Junho de 1937 sob uma chuva fina, em direcção a Dakar no Senegal,
etapa seguinte da sua Volta ao Mundo.
Ao despedir-se do Brasil, ela declarou: “Está tudo bem”.
Mas nem tudo estava bem.
Ao sobrevoar as Ilhas Nukumanu, Amélia Earhart cessou os contactos.












Várias têm sido as homenagens do Cinema e da Televisão a esta figura que alimenta o Romantismo e desejo de Aventuras que existem em todos nós.
O Filme The Final Flight com Diane Keaton e Rutger Hauer, realizado por Bruce Dern, ou a nova produção com Hillary Swank, na protagonista, são disso exemplo.
Inúmeras séries de televisão abordaram, de modo mais ou menos fantasioso, o mito do seu desaparecimento, englobando, por vezes, fantasiosos extra terrestres.

Como ícon incontestado do sec.XX, pelo seu trabalho na História da Aviação e, igualmente, na Defesa dos Direitos das Mulheres, Amélia Earhart, merece bem o seu lugar entre as muitas Mulheres a que o "Galo" baixa a crista.
Dedicado à Moira de Trabalho