Um jardim é um jardim, é um jardim.

Um jardim já não faz parte da casa.
Mas, ainda, não pertence ao domínio da rua.
Já não estamos no aconchego do lar,
mas não andamos, também, aos empurrões lá fora.

Um jardim é uma antecâmara da rua
Ou da casa, conforme estamos a sair ou a entrar.
Um jardim é uma muralha, a barbacã dos castelos antigos.
Um fosso que, em vez de crocodilos, tem flores e pássaros.
E borboletas e abelhas e orvalho.

Um jardim tem sombras e raios de sol por entre as árvores.
Pode ter ouriços, ou ter rãs, e ter ninhos…

Um jardim tem relva fresca onde podemos andar descalços.
Por vezes, tem uma piscina onde mergulhamos.
Senão, mergulhamos na leitura
e refrescamo-nos com limonada ou cerveja.

Um jardim pode ter esculturas ou potes de barro.
Pode ter pedras, ou areia, ou cascalho ou casca de pinheiro.
Um jardim tem mesa ou, pelo menos, cadeiras
onde nos estiramos a preguiçar.

Um jardim pode ser todos os jardins que quisermos…
À noite, olhando os céus, temos o Jardim da Estrela.
Quando o cão corre atrás do gato, temos o Zoológico.
Quando a hora é de sesta, o Jardim é da Parada.
Quando arrefece, temos a Estufa Fria.
Se é espaçoso, é um outro Campo Grande.
E no caso inverso, o Pequeno.
Quando as flores renascem, Botânico, é o seu nome.
E o Jardim do Tabaco, nas pausas para o cigarro.

Um jardim é o limbo entre o Paraíso e o Inferno.

E o Paraíso é a casa ou a rua ?
E o Inferno é a rua ou a casa ?
Isso varia de caso para caso,
de casa para casa…

Agora, um jardim…é sempre o Jardim.