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Com algum esforço, era mesmo pesada, bati com ela na porta que quase instantaneamente se abriu sem ruído parecendo flutuar nas dobradiças douradas.
Surgiu alguém que deveria ser o porteiro, impecavelmente vestido com camisa, calças e casaco brancos, imaculadamente brancos.
O cumprimento reduziu-se a um leve baixar de cabeça acompanhado por um simpático sorriso e um aceno de mão indicando a direcção de outra porta no final de um corredor, docemente iluminado por projectores estrategicamente colocados ao nível do solo e apontados para o tecto que apresentava pinturas lindas lembrando o traço e as cores das obras de Rembrandt.
Lá fui caminhando apreciando a cada passo tudo o que meus olhos abarcavam até que me vi de novo perante a outra porta, esta com um aspecto mais semelhante a todas as que eu conhecia.
Abriu-se mal ali cheguei e deparei com um enorme salão cheio de gente sentada em confortáveis sofás e cadeiras tudo disposto aparentemente de forma aleatória ou mesmo desordenada .
O barulho das conversas era ensurdecedor, de tal forma que a minha entrada passou despercebida, tal como eu desejava.
Escolhi um grupo mais pequeno de quatro ou cinco pessoas e para lá me dirigi com extremo cuidado para não esbarrar com algum dos presentes, o que consegui com algum esforço.
Apresentei-me.
António Fagundes de minha graça e ao vosso dispor.
Fórmula arcaica mas que resultava sempre pois colhia a aprovação de quem a escutava, alguns pela primeira vez como parecia ser o caso.
Depressa me integrei na conversa ao mesmo tempo que escutava num altifalante o chamamento dos presentes que a intervalos de poucos minutos iam passando por uma cortina que certamente dava acesso a outra área mas que não me concedia campo de visão para olhar lá para dentro.
Aguardei pacientemente que chegasse a minha vez, confesso que invadido por muito nervoso mas sem receio.
Desconhecia o que me esperava e com muito espanto constatei que os que ali entravam não regressavam à sala. Certamente seguiam outro caminho.
Quase dei um salto na cadeira quando escutei a chamada com o meu nome sussurrado docemente mas que por incrível que pareça se sobrepunha facilmente ao vozear que ali imperava.
Caminhei em passo aparentemente seguro mas sentia o corpo a tremer de ansiedade e confesso com medo, medo mesmo.
Enchi o peito de ar e entrei.
Luz fortíssima que quase me cegou e uma ordem firme para avançar e me aproximar de uma mesa onde alguém que eu não distinguia, ia citando o meu nome, data e local de nascimento e depois, incrivelmente, episódios da minha vida que eu jamais revelara a ninguém.
Como saberia aquela personagem tanta coisa sobre a minha pessoa ?
Entregue a estes pensamentos quase desfalecia quando vinda de um pouco mais longe, uma voz forte e tonitruante interrompeu o solilóquio dizendo, Pedro já chega, eu sei bem quem é o Fagundes e o que andou fazendo lá em baixo, pega no teu molhe de chaves , abre a porta da esquerda e empurra-o direitinho para o Inferno.
E cá estou eu.
Carapau de Corrida
E o Carapau com as coisas que diz estava à espera de ir para onde ? Para o Céu ?
ResponderExcluirDeixe lá que a malta com interesse vai toda fazer-lhe companhia...
E o António Fagundes foi homenagem ao bonitão das novelas, e não só, brasileiras ?
O Inferno é cá em baixo para aqueles que vivem uma vida abaixo deos mínimos decentes sem casa, alimentação, justiça, saude ou educação.
ResponderExcluirPara esses a vida é um verdadeiro Inferno.
O outro é para assustar os "crentes"...
O Carapau com a sua boa disposição de sempre.
ResponderExcluirNo Inferno é que estão as meninas boas das famílias más e as meninas más das famílias boas, por isso está muito bem acompanhado.
E eu que sou garota boa de família óptima onde vou ficar ?
ResponderExcluirEste conto é mais uma achega para ir para o Inferno
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