terça-feira, 30 de junho de 2009

Pina Bausch - A Dança interrompida















A coreógrafa alemã Pina Bausch morreu hoje aos 68 anos.
A autora de "Café Müller", a única peça que interpretou, soube há apenas cinco dias que sofria de cancro,

Nascida em Solingen, na Alemanha, a 27 de Julho de 1940, começou a estudar dança aos 14 anos na Escola de Folkwang d'Essen (ouest) com o coreógrafo Kurt Jooss, um dos fundadores do movimento Ausdruckstanz, uma corrente que combina o movimento, a música e elementos da arte dramática na sua dança.
A passagem pela conceituada escola de dança norte-americana Juilliard permitiu-lhe o contacto com Anthony Tudor, José Limon e Mary Hinkson.
Mais tarde, regressaria à Alemanha para integrar a companhia Folkwang, de Kurt Jooss - assinaria a sua primeira coreografia, "Fragment", sobre música de Bela Bartok em 1968.
Em 1969, ascendia ao cargo de directora artística da Folkwang, que acumulava com a coreografia e a dança em palco.

Figura maior da dança expressionista alemã, Bausch era uma criadora consagrada e uma das maiores coreógrafas do mundo.
Tendo crescido no hotel-restaurante dos seus pais, sempre se pensou que "Café Müller" era inspirado nessa sua experiência, na sua vida, algo que sempre negou .

"Não tem nada a ver com a minha biografia. Chama-se "Café Müller" mas não tem nada a ver com o facto de os meus pais terem tido um restaurante", disse. "Esta peça nasceu de um convite para fazer um trabalho à volta do [dramaturgo britânico William] Shakespeare, um trabalho baseado numa passagem do "Macbeth.
Éramos uns quantos bailarinos, alguns actores e um cantor.
Tínhamos 14 dias até à estreia e achei que não era suficiente.
Decidi chamar mais algumas pessoas o Gerhard Bohner, Hans Pop, Gigi Caciuleano para uma coreografia que se passasse apenas numa sala, o Café Müller, em que cada um poderia fazer pequenas danças e contar as suas próprias histórias, ou até usar a sua própria música.
No fundo, são quatro diferentes "Café Müller" que fazemos juntos.
Como vê, nada tem de privado ou pessoal".






"Café Müller" é, enfim, a sua peça mais conhecida, apenas interpretada uma vez em Portugal, há 15 anos, por ocasião de Lisboa - Capital Europeia da Cultura e a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, que organizou um ciclo retrospectivo à volta da sua obra.
No ano passado, o Centro Cultural de Belém e o Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, organizaram um ciclo de conversas, filmes e três peças: a estreia nacional de "Nefés", sobre Istambul, "Masurca Fogo", feita sobre Lisboa em 1998 e apresentada na altura, e "Café Müller".





















Reconhecidamente uma figura avessa a entrevistas e a falar em público, disse em entrevista : "Nunca gostei de peças que se desenrolam num só nível; o ambiente das minhas está sempre a mudar, com o fim sempre em aberto. Eu também não sei. Há mais perguntas que respostas. Há muitas perguntas".
A "sua" companhia, o Tanztheater Wuppertal, é-o desde 1973. Começou a ser convidada com regularidade a fazer digressões no estrangeiro e o Tanztheater passou a ser reconhecido como uma das maiores companhias contemporâneas do mundo.
































Participou no fime de Fellini
"O Navio" (1982) e depois em
"Fala com Ela", de Pedro Almodóvar (2001).
Em 1990, realizou "A Queixa da Imperatriz" e estava a planear fazer um filme com Wim Wenders. No ano passado, foi distinguida com o Prémio Goethe.
E assim, numa morte súbita e inesperada ( com apenas cinco dias de intervalo entre o diagnóstico e o fim) desaparece um dos grandes nomes da Dança e do Espectáculo, deixando mais pobres os seus muitos milhares de admiradores.
Post dedicado à Quimera

8 comentários:

  1. Ora aqui está um magnífico post e , ainda por cima, mais oportuno era impossivel.

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  2. Estou verdadeiramente emocionada. A notícia é abrupta,resta pensar que não sofreu.
    Obrigada Galo

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  3. Margarida Ferreira dos Santos30 de junho de 2009 às 14:51

    Os que a admiram, e nos quais me incluo, só podem estar abalados com a notícia e mais pobres com tamanha perda.
    A notícia chocou-me mas este excelente post trouxe-me a sua beleza e talento.

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  4. Tive a sorte e o privilégio de poder assistir a quase todas as apresentações de Pina Bausch, em Lisboa.
    Vi-a, a ela e à sua Companhia, pela primeira vez, na Gulbenkian, em espectáculos realizados, em 1994, no âmbito da "Lisboa, Capital Europeia da Cultura".
    "Café Muller", esse paradigma do desespero e da solidâo, ao som de Henry Purcel, em que há corpos incapazes de se "salvarem" através do outro, e uma Pina Bausch que desliza, parede abaixo, num movimento de queda inevitavel no abismo; "A Sagração da Primavera", força telúrica que nunca esquecerei, o palco coberto de terra húmida, em fusão perfeita com o corpo de cada um dos bailarinos, eles próprios "vestidos" com a mesma terra, colada ao corpo e à roupa, no final do bailado.

    Será muito difícil "suceder" a Pina Bausch; nem mesmo o seu bailarino "fetiche", Dominique Mercy, com ela desde as primeiras horas, o corpo frágil, mas mágico, no qual era impossível não reparar...

    Há seres humanos que, por tocarem o Divino, a Morte nunca deveria levar.

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  5. Vi tudo, estive em todo o lado, sei tudo...
    Bem vinda Milady !!!

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  6. Obrigada, MTH!
    Não estava à espera...

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  7. Adorava esta criatura. Gostei de mais da homenagem.

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