A história é bem conhecida, sofre é, por vezes, eventuais alterações.
Em tempos que já lá vão, num continente perdido entre as brumas da memória ( onde é que já se ouviu isto ?) vivia uma Virgem de belos olhos azuis, como lagos escandinavos, e uma farta cabeleira loura encaracolada, que descia em cascata, costas abaixo, em volúpias de Niágara.
A jovem Virgem, recatada e de olhos baixos, como convém às virgens que se prezam, passava o dia a bordar e a fazer arranjos florais, passeando, muitas vezes, junto ao grande lago que ladeava o bosque, onde colhia as flores selvagens que tornavam os seus bouquets, os mais apreciados de toda a região.
Ajoelhando-se junto às águas calma, para se refrescar dos calores estivais,
vislumbrava a sua imagem no reflexo das águas e era com, indesmentível, prazer que sentia as faces ruborizarem-se e o ritmo cardíaco aumentar, causando-lhe um estado febril e leves tonturas que, pouco depois, desapareciam, deixando-a num estado de doce languidez.
Não muito longe dali, vivia um Cavaleiro que destinara a vida a salvar jovens virgens das garras dos dragões.
Infelizmente a sua, ainda, parca experiência, mostrara-lhe já que a maior parte das pretensas virgens não eram mais do que umas sabidonas, com largo traquejo nas estalagens das redondezas, nas mãos, e não só, de feirantes, menestréis, e outros que tais.
Também os poucos dragões que vislumbrara, sofriam já de reumatismo, velhos e alquebrados, com as escamas todas rebentadas, as garras roídas de unhas gastas e impossibilitados, há muito, de emitirem o mínimo fogacho que fosse.
Porém, o Dragão desta história era jovem e impetuoso.
Tendo vivido escondido, os poucos anos que tinha de vida, no mais recôndito do bosque, aperfeiçoara, em muito, o seu lançamento de chama, conseguindo apanhar um coelho a largos metros de distância e fazendo-o chegar à enorme bocarra, perfeitamente assado e sem pele.
Espreitando por entre as altas e frondosas árvores, já há muito o nosso dragão
dera pela presença ofuscante da bela virgem quando esta se refrescava , junto ao lago.
Também, nele, as batidas se tornavam galopantes, parecendo querer o coração, saltar-lhe pela boca. Só que ainda não ganhara coragem para se dar a conhecer.
Mas naquele dia tudo se precipitou.
A Virgem estava junto ao lago quando o Cavaleiro apareceu.
Perante a beleza inesperada o corcel do mancebo empinou-se o que foi interpretado pelo Dragão como sinal de perigo para a dona do seu coração.
Irrompendo do bosque, lançou uma potente labareda na direcção do Cavaleiro que mal teve tempo de se proteger com o alvo escudo, aproveitando para desembainhar a sua espada de aço temperado.
Foi a muito custo, que a Virgem conseguiu suster o embate, perguntando aos dois se tinham algo a propor-lhe.
O Cavaleiro desenhou-lhe um futuro com muitos filhos, batalhas campais, remendos nas armaduras, feridas para sarar, promessas e orações…
O Dragão mostrando-lhe a língua rugosa, prometeu-lhe orgasmos selvagens, orgias nas noites de lua cheia e chamas variadas pelo corpo todo…
A Virgem, que o seria por pouco tempo mais, escolheu o Dragão.
Moral da História:
O tempo não está fácil para os Cavaleiros.
Alexandre Dumas Pai d'Outras Filho
terça-feira, 30 de junho de 2009
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Com muita graça. E bem escrito.E com moral e tudo.Será que teremos oportunidade de ler o Alexandre Dumas na versão Filho?
ResponderExcluirAchei graça à história e à assinatura.
ResponderExcluirQuanto ao conteúdo da virgem a ter que escolher entre dois grunhos, nem me pronuncio...
Bela história. Sem dramas nem dramatismos.
ResponderExcluirA deixar-nos com um sorriso nos lábios, nestes tempos que não estão para risos..
Boa Alexandre, escreva mais.
Muito bom !
ResponderExcluirLeve, bem escrito e com muita graça.
Este Alexandre vale um tesouro, com virgem ou sem ela.
Venham mais.
Ui!
ResponderExcluirO menino não terá por aí à mão o número de telefone desse dragão, não?
Bem engraçado, bem escrito...mas melhor ainda o pseudónimo!
ResponderExcluirDepois de umas semanas de ausência, encontro uma Moira bastante mais atrevida... Por onde anda a Sapho???!!!
ResponderExcluirE encontro também um belíssimo Conto, com uma Moral improvável e com uma assinatura de se lhe tirar o chapéu...
Nós a Virgem dispensavamos...agora o Cavaleiro e o Dragão, ai marchavam, marchavam...
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