Senti-me a recuar no tempo.
Com doze, treze anos, costumava ir passar férias para a casa que uma tia minha possuía no Algarve, mais precisamente em Lagoa.
Essa minha tia, senhora viúva cujo marido espanhol morrera num acidente de viação, vivia com uma filha, a minha prima Lola, morena de olhos enormes e sempre húmidos, alguns anos mais velha que eu e que povoava as minhas noites algarvias de imagens lúbricas, razão das minhas olheiras permanentes.
Quando voltava a Lisboa ficava a imaginar frases que deveria ter dito, beijos que lhe poderia ter roubado, a sonhar com os toques ligeiros de mão, as pernas encostadas e a latejar durante as refeições na mesa apertada…
E no ano seguinte tudo recomeçava igual e platónico.
Mas uma vez, teria eu então uns catorze anos tão incipientes como o buço que teimava em deixar crescer, ao entrar na única casa de banho da casa e que, quando ocupada, tínhamos sempre o cuidado de fechar à chave por dentro, deparei-me com a nudez magnífica dos 17 anos da Lola.
Esta na banheira a tomar chuveiro, sem ter corrido a cortina e sem ter fechado a porta à chave, como era regra, não pareceu ficar muito surpreendida com a minha entrada.
Ou pelo menos, eu fiquei com essa ideia…
A minha mãe e a irmã, mãe da Lola, estavam no jardim da casa, sentadas à sombra de uma enorme figueira.
Apenas eu e aquela adolescente de olhos atrevidos, que me olhavam com malícia, separados por dois metros de desejo acumulado, de sonhos húmidos em dezenas de noites estivais, de mistérios e dúvidas…
E nessa altura eu engasgara-me, murmurara uma qualquer desculpa esfarrapada, corara dos pés à cabeça, saíra para o corredor, fechara a porta atrás e ficara encostado à parede, o coração em tambores africanos de festa pagã, as pernas de gelatina e uma erecção adulta, parecida com a de hoje, nesta mansão do Douro, numa situação com tanto de semelhante à de décadas atrás…
Só que há trinta anos eu correra a esconder-me no meu quarto, coisa que desta vez não faria.
Há trinta anos passara os dias que me faltavam para o fim das férias a tentar arranjar coragem para roubar um beijo à primeira mulher que vira nua.
Há trinta anos corara até às orelhas com as frases de duplo sentido, e que só eu percebia, que a minha prima ia deixando escapar enquanto à mesa os adultos tinham as suas conversas, sem se aperceberem da carga erótica que circulava pela habitação.
Por razões várias, durante dois anos não voltara ao Algarve.
Nesse espaço de tempo, tivera a minha cerimónia de iniciação com uma mulher bastante mais velha que eu ( dez anos, nessa idade, era um abismo) o que me fizera amadurecer, me dera conhecimentos técnicos…e tácticos.
Quando voltei de novo à casa da Lagoa já levava tudo planeado.
Logo na primeira noite, quando todos estivessem a dormir, despir-me-ia e iria meter-me na cama da Lola, que imaginava quente por aquele corpo que se adivinhava guloso e insaciável.
Com o que aprendera com a minha amante e mestra, iria levá-la à loucura, iria vingar-me das suas insinuações, das suas piadas dúbias…
Só que ao chegar, tudo se desmoronou, não como um castelo de cartas ou de areia, imagens por demais utilizadas, mas como um arranha-céus em implosão perfeita.
A minha prima esbelta e atrevida, transformara-se numa mulher rotunda, usando o buço que eu tivera anos antes e tinha agora um ‘noivo’ de olhar bovino que cumpria serviço militar na zona.
Reduzi as minhas férias ao mínimo indispensável e voltei rapidamente para os braços, e para o resto, da minha iniciadora, tradutora numa Editora, sem adivinhar que, anos depois, viria a ser seu colega de profissão.
Mas hoje o desenrolar da história iria ser diferente…
Desembaracei-me dos jeans, do blusão e da t-shirt…
Despia os boxers, quando a voz do Ti Jaquim me fez suspender o movimento.
“ O Doutor Nuno quer ir agora ver o ‘baso’?”
terça-feira, 16 de março de 2010
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