segunda-feira, 16 de março de 2009

Lolita de Vladimir Nabokov

Antes do mais, uma declaração de voto.
Nunca me senti minimamente atraído por chavalas, pitas, ninfetas, teenagers, catórzinhas ou lolitas...
A parafernália dos soquetes, trancinhas, lolipops, saias curtas de godés ou joelhos esfolados, não faz parte das minhas fantasias eróticas.
Preciso de mais mundo, mistério, cumplicidade e equilibrio entre os interlocutores, parceiros, adversários, o que lhes quisermos chamar.
Posto isto, ao ter visto ontem, num dos Telecines, a Lolita, versão Adrian Lyne, lembrei-me de fazer um post acerca do tema.



Lolita é o título do romance do escritor russo Vladimir Nabokov, embora escrito em inglês, que foi publicado, pela primeira vez, em 1955, depois da recusa de inúmeras editoras.
O romance narrado pelo próprio protagonista, o professor de poesia francesa Humbert Humbert, relata os amores pedófilos deste com a sua enteada de doze anos Dolores Haze, a quem chama Lolita.
Um romance polémico que joga com a parte oculta do desejo, as fronteiras entre o erotismo e a preversão e o desconhecimento de até onde nos pode levar uma paixão sem controle.
Mas se tiver controle, será paixão?



A primeira versão para Cinema deve-se ao grande Stanley Kubrick, tendo um angustiado James Mason como protagonista, a jovem Sue Lyon, com apenas catorze anos, a fazer de Lolita , Shelley Winters como Charlotte Haze e Peter Sellers, com a sua exuberância e gosto pelos múltiplos papéis no decorrer de um mesmo filme, a representar Clare Quilty.
Embora James Mason tenha sido a primeira escolha de Kubrick, recusou, de início, devido a outros afazeres.
O realizador tentou então Laurence Olivier,
Peter Ustinov e David Niven.
Perante a impossibilidade de todos eles, alegando razões várias,
voltou ao convite inicial que, com novas datas, acabou por vingar.
O Filme estreou em 1962.
















35 anos mais tarde seria a vez da versão de Adrian Lyne, com Jeremy Irons no obcecado professor, Dominique Swain na perturbante menina/mulher, uma decadente Melanie Griffith como mãe e, o actualmente na berra devido ao desempenho como Nixon, que lhe valeu uma nomeação para os Óscares, Frank Langella, como Clare Quilty.
Adrian Lyne, que alcançou o estrelato com o célebre 9 Semanas e 1/2 e prosseguiu com outros blockbusters como Atracção Fatal ou Proposta Indecente, não conseguiu a profundidade psicológica atingida por Kubrick, pese a beleza erótica de muitos dos planos e uma maior fidelidade ao romance, segundo alguns críticos.
Aqui vos deixamos um tema de discussão.
Onde acaba e começa o incesto, a pedófilia?
Lolita é uma mulher com alguma perversidade e até capacidade de manipulação
ou uma ingénua e frágil criança?
Para os mais esquecidos aqui ficam dois vídeos - um da cena em que Humbert fica pasmado e preso aos encantos da sensual pubescente e outro que compara as duas versões.
Atenção as luzes vão-se apagar...desliguem os telemóveis.



6 comentários:

  1. Também vi o filme ontem à tarde e como entendo o professor.Essa menina sabia mais num dedo que eu na mão toda e olha que eu não sou ingénua,não...
    O professor andou alorpado durante todo o tempo.

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  2. Se começarmos a dizer que os pedófilos são doentes e merecem tratamento e não prisão, porque não alargar esse pensamento para os violadores, os assassinos, para todo o tipo de criminosos? Eu também acho que os pedófilos tem uma mente doentia mas, por isso mesmo, devem estar confinados num local, prisão ou hospital prisional é indiferente, onde não possam fazer mal a crianças indefesas.
    Quanto a se uma rapariga de doze anos é ainda criança ou não, é uma falsa questão, alimentada em parte por terem posto uma rapariga de 15 anos a fazer esse papel e a fazer levantar a questão. A lei serve para definir os limites e o tamanho das pessoas ou o seu desenvolvimento físico que muitas vezes não tem nada a ver com o desenvolvimento mental não pode interferir com isso.
    Ainda agora tenho uma aluna minha de treze anos, que tem o dobro do meu tamanho e está grávida, ainda não se sabe de quem. E a mentalidade dela é de uma miúda.

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  3. Tendo visto apenas a segunda versão, é um dos casos em que o filme não me decepcionou em relação ao livro de Nabokov, embora ainda fique aquém porque o livro é excelente.
    Passando pelas questões, e estas dariam para longas tertúlias, tenho uma opinião muito pragmática sobre onde começa e acaba o incesto e a pedofilia, talvez demasiado redutora mas que me a ajuda a balizar e a "arrumar" estas questões. Relações de adultos com adolescentes até aos 16 anos são relações de pedofilia; relações entre pai/filha, irmão/irmã, etc, são relações de incesto. Nem contemplo, sobretudo no caso da pedofilia, se existe uma paixão avassaladora, ou se as pessoas diferem, ou se não é apenas a idade que deve ser tida em consideração.
    Relativamente há outra questão já não consigo ser tão objectiva, mas julgo que Lolita é uma menina de 12 anos, criança, frágil, mas que simultaneamente consegue manipular e até ser perversa. Embora em contextos diferentes, encontramos crianças com esta dualidade com os colegas, os pais, os professores...e quantas vezes essa dualidade não advém de uma maior fragilidade?

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  4. Vi o filme, também só a segunda versão, com o Jeremy Irons no máximo do seu esplendor e nem reparei se entrava alguma menina ou não...mas o Jeremy bastou-me.

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  5. Não li o Livro, vi as duas versões em cinema e, embora o Jeremy Irons seja um dos meus actores preferidos (olhe-se aquele rosto e oiça-se aquela voz...), prefiro a de S.Kubrick.
    Em matéria como esta - e noutras também - concordo com a Margarida: tem que haver balizas.
    Em nome de que sentimentos tão "nobres", como o Amor e a Paixão - e lembro-me de "Senso", de L. Visconti, baseado numa obra de Camillo Boito - se "justifica" a degradação total do ser humano?!

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  6. Nunca o Jeremy suplantará o James Mason, aquele portento de actor. E aquela voz...

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