Não gostava de pensar em si, como puta.
Essas eram as que andavam pelas ruas.
Ou em bares de alterne.
Que discutiam os preços com os clientes e acabavam a entregar os parcos proventos a um qualquer chulo ranhoso.
Ela tinha estudos. Acabara o 12º Ano. Falava Inglês e Espanhol.
Frequentava os melhores Hotéis e Restaurantes.
Ia a Spas e Salões de Beleza.
Os mesmos onde as vedetas da Televisão e das Revistas eram atendidas.
Algumas até já lhe falavam e gabavam as novas
madeixas, as extensões, o silicone dos lábios.
Os seus clientes, melhor, patrocinadores, eram empresários,
políticos, advogados, médicos, a fina flor da sociedade.
Levavam-na em viagens de negócios a Londres, a Maputo,
fins de semana em Bariloche.
Ofereciam-lhe roupas de marca. Relógios.
Tinha um Cartier com brilhantes.
Em jantares com clientes substituía, muitas vezes, as legítimas.
Conversava, com graça, sobre o Freeport ou os preservativos do Papa, acerca do último livro da Margarida Rebelo Pinto ou do hipotético divórcio da Jolie.
O cliente, perdão, patrocinador, com que estava hoje era um cavalheiro.
Sempre que se encontravam, naquela suite às Amoreiras, oferecia-lhe chocolates e flores, a acompanhar algo mais substancial.
Hoje era um pulseira da Toots, que ela andava namorar há algum tempo, e um saia e casaco BCBG, que , estava certa, lhe iria ficar a matar.
E ainda por cima era dos que pouco trabalho lhe davam.
Alguns minutos de preliminares. Sexo oral à maneira.
Uma hora de divagações filosóficas e até à próxima, minha querida.
Instalou-o numa posição confortável e concentrou-se no que tinha a fazer.
Apesar de já ter estado naquela postura centenas de vezes,
gostava de não fazer as coisas de modo mecânico.
Afastava o longo cabelo da cara, sorria ao cliente, mau…semicerrava os olhos.
Mas naquele dia os seus pensamentos voaram para longe.
Para o padrasto que a molestara desde ao quatro anos.
Para o gangue do bairro que a encurralou e sodomizou aos doze.
Para o primeiro patrão que aos dezoito a obrigara a….
Horas mais tarde, encontraram o cadáver do conhecido empresário
com a cabeça esmagada pelo candeeiro de cabeceira.
A polícia procura, ainda, a jovem prostituta que foi vista a subir
para os aposentos do mesmo.
Aventa-se a hipótese de roubo ou crime passional.
domingo, 12 de abril de 2009
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Será impressão só minha ou as short stories estão cada vez melhores ?
ResponderExcluir"Short Storie" forte e com intensidade. A infância moldou-lhe o presente.
ResponderExcluirMais um argumento para um filme a começar num quarto do hotel, muitos flashbacks e a terminar de novo no mesmo hotel.
ResponderExcluirE já agora com a Soraia Chaves, que já tem prática de Call Girl, ou se fosse uma produção mais rica, com a Angelina Jolie.
Gostei da história.
Short mas notável !
ResponderExcluirMuito bem escrito. Um "polar noir", como dizem os franceses.
ResponderExcluirAo menos este óptimo conto mostra bem quem é a vítima e a explorada, mesmo recebendo presentes e dinheiro. Como a outra que, posta perante o "Papa" do futebol, foi considerada testemunha sem credibilidade. E o Padrinho tem ?
ResponderExcluirEste sim, me emocionou.Tenho várias amigas que fizeram opções de vida como esta e uma, até, com um caso de violência que terminou em prisão.Quero parabenisar o escritor.
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