Os sinais da Primavera surgiam no jardim e eu, recostado no meu sofá preferido em frente à janela, aproveitava os raios de Sol que nas primeiras horas da manhã assim contribuíam para uma sonolência que me embalava docemente.
A lareira já estava acesa porque dentro de casa ainda se sentiam resquícios da humidade vinda do mar que rebentava as suas ondas na praia bem próxima.
Da cozinha, embora a porta estivesse fechada, chegava um delicioso aroma que me fazia adivinhar uma boa refeição dentro de poucas horas, aliás um dos momentos mais apetecíveis na minha vida calma e pacata, a que normalmente se seguia uma sesta bem prolongada e depois um breve passeio no jardim ou uma ida à praia.
Passaram uns minutos e resolvi desentorpecer subindo as escadas até ao primeiro andar .
Ali e espalhados na casa de banho,havia uma enorme quantidade de frascos, frasquinhos e frascões carregados de pseudo produtos de beleza, comprados por influencia de doses maciças de publicidade e que visivelmente não produziam nenhum efeito.
Para mim era uma visão profundamente irritante e por isso mesmo, naquele momento fui incapaz de resistir a um gesto que em consciência sabia que me podia sair muito caro.
Dois ou três, não me recordo, foram parar ao chão e com muita sorte caíram em cima do tapete não provocando qualquer barulho denunciador da asneira.
Quando regressava ao sofá veio a ordem: César vem comer.
Nem hesitei e avancei logo para a cozinha onde habitualmente eram servidas as refeições.
Havia peixe cozido, aliás o peixe entrava com grande frequência naquela casa, trazido pelos pescadores que passavam na rua a caminho do pequeno mercado situado quase no centro da Vila.
Depois de deixar o prato em imaculada brancura, caminhei para o meu querido sofá onde pretendia fazer a digestão e fechar os olhos para a tal sesta, indispensável para o meu completo bem estar.
Poucos minutos passaram e eu escutei uns passos que se dirigiam ao primeiro andar, certamente acabando por passar perto do local onde jaziam os restos da minha asneirada mas o silencio acabou por me tranquilizar.
E adormeci profundamente.
Não sei quanto tempo passou.
Só sei que aos meu ouvidos chegaram estridentes gritos vindos lá de cima e passos fortes descendo as escadas em simultâneo com um chinelo voando na minha direcção.
E logo aquele terrifico vozeirão:
César, meu malandro, inútil e mandrião !
Não passas de um gato safado e mal agradecido,
vais imediatamente de castigo para o jardim.
E assim acabou da pior maneira a minha tarde.
Mea culpa !
Carapau de Corrida
terça-feira, 14 de abril de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Tá com graça!
ResponderExcluirConfesso que a esta hora da manhã, esta história me deixou cheia de vontade de dormitar ao solinho! Adorei descobrir que o narrador da história afinal... era um gato! Parabéns Carapau de Corrida*
ResponderExcluirAchei muito engraçada esta história, mas querem saber o mais estranho? Tenho um gato chamado César !!!!!!!!
ResponderExcluirE quem mais poderia gritar com o pobre bichano ?
ResponderExcluirSó a MTH...em dia de boa disposição porque se fosse dia de máu humor, voaria um chinelo de quarto!!
Será que conheço os dois ?????
Está-se aqui a formar um ménage à trois.
ResponderExcluirCarapau, Gato e...
Apanhou-me de surpresa ihihihih....pobre do cesar que sabe verdade e ainda leva com o chinelo!!!!!1
ResponderExcluirFantastica Carapau!