Em miúdo, vivia numa casa grande.
Triste e sombria.
Cheia de choros e desespero.
Fatalismo e descrença. Angústias e temores.
A casa grande tinha corredores compridos.
Ou, então, era eu que era muito pequeno.
Com sombras e recantos.
Seres ocultos que me espiavam.
Vozes que me sopravam medos.
Mãos gélidas que me tocavam o rosto.
Risos sinistros, gargalhadas tétricas.
Que me afastavam o sono.
Que me acordavam no escuro.
Que me faziam ver teatros de sombras,
projectadas no tecto.
Com o coração a galope,
levado por uma força irresistível.
Por uma ordem irrecusável.
Percorria os longos corredores, pé ante pé,
num silêncio total, escutando às portas.
Adivinhando gemidos, antecipando suspiros.
E, depois, parado num canto, ganhava coragem
para regressar à cama.
Cobrir a cabeça com os cobertores
e esperar a luz da madrugada.
E só quando o aguado do sol pintava, de novo, as paredes
é que os monstros, seres escuros, vampiros e afins
se escondiam nas gretas do chão,nas fissuras das paredes,
nas traves do tecto, por trás dos móveis borolentos.
Até ao anoitecer seguinte, em que saíam, outra vez.
Para ocuparem as minhas noites...
terça-feira, 7 de abril de 2009
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Isto hoje está tudo para o soturno e para o freudiano ou é só impressão minha?
ResponderExcluirAgora a sério, gostei muito desta viagem ao passado que me fez recordar alguns dos pavores nocturnos, e não só, porque eu passei também.
E que também fazem falta ao tal processo evolutivo (os pavores nocturnos).
ResponderExcluirPior que os nocturnos, são os eventuais pavores diurnos.
ResponderExcluirBem escrito, como é hábito.