Caminhas pela Vida igualmente imerso em mundos
e realidades tirados de contos de fadas.
Não segues sozinho, mas sentes-te eternamente só;
Não segues sozinho, mas sentes-te eternamente só;
cego; acorrentado ao negrume da tua alma.
Não caminhas só, mas por às vezes por nem o veres,
não mereces mais que a solidão e que te abandonem
à tua sorte, remetendo-te ao Oblívio.
A única companhia que sentes verdadeiramente
é a desse espectro que te acompanha, anjo caído,
personagem de raros, mas intensos lampejos.
E nesses momentos ergue as asas
e irradia uma luz diáfana que te ilumina.
E consegues tornar-te um ser agradável, quase interessante.
Mas tu, vil criatura, depressa quebras o encanto
Mas tu, vil criatura, depressa quebras o encanto
e revelas a tua natureza: o engano e a decepção que és.
E cada acto teu vira-se contra ti com dupla intensidade.
Percorres caminhos tortuosos.
E cada acto teu vira-se contra ti com dupla intensidade.
Percorres caminhos tortuosos.
Construíste um castelo sombrio cheio de claustros
que é o teu refúgio e é a tua fortaleza e é a tua prisão.
Aí te escondes, por detrás das suas muralhas,
tantas vezes derrubadas, reconstruídas,
e em alas que nunca mais conseguiste reerguer.
Por vezes dou contigo a deambular pelas suas ruínas
como um fantasma e ouço os teus lamentos.
E ouço-te pedir misericórdia.
Por vezes, sinto compaixão e ajudo-te.
Outras vezes, porém, sou eu quem te dá o golpe final,
enterrando mais fundo o punhal.
Oh, miserável alma penada!
Oh, miserável alma penada!
Vives entre Sombra e Luz,
numa doença de alma interminável.
Condeno-te à pior das lutas
Condeno-te à pior das lutas
com o pior dos teus inimigos, que sou eu.
Eu, que sou o teu resquício de escrúpulo
e sentimento de ti mesmo.
Sou o teu maior tormento,
e hei-de mortificar–te perpetuamente.
Inflamo-te o sangue, tornando-o um rio ardente
que te corre nas veias.
Eu sou a raiva contida dentro de ti.
Sou o grito que te rasga a alma
e que fica amordaçado na garganta.
Sou o murmúrio constante no teu ouvido.
O demónio aprisionado no teu ser.
O fel que te amarga o espírito e o veneno que não cospes.
Acompanhar-te-ei para sempre…
Acompanhar-te-ei para sempre…
Talvez um dia nos reconciliemos.
Talvez um dia consigas proceder
à transmutação do teu Ser.
Talvez um dia ambos nos consigamos libertar.
Sphynx
Acho que o Freud teria muito a analisar neste conto, mas eu não sei o que dizer...
ResponderExcluirTalvez mais tarde.
Dois em um? De qualquer forma um personagem muito angustiado.
ResponderExcluirO Médico e o Monstro, tema universal e sempre presente na literatura, no cinema e , agora, aqui mo Galo.
ResponderExcluirMas com muita angústia à mistura, lá isso é verdade.
Todos nós temos dentro de nós duas, ou mais, personalidades contraditórias.
ResponderExcluirEu pelo menos tenho.
Bem retratada a luta entre as duas forças.
Confesso que tenho curiosidade em conhecer a(s) sua(s) outra(s) personalidade(s), MTH.
ResponderExcluirQuase que me apetecia escrever linha por linha o que escreve Adriano... Não por não saber o que dizer, mas por não saber por onde começar.
ResponderExcluirPelo princípio...
A forma. Não sou destas áreas das linguísticas. Gosto de ler simplesmente. E a mim, este conto parece-me muitíssimo bem escrito. Mas não é (e agora uma coisa menos simpática) o meu género de escrita.
Mas foi o conteúdo que me deixou a pensar. E por isso comento o conto. Parece-me um magnífico exercício de introspecção. E estes "olhares" que fazemos para dentro de nós serão sempre os mais difíceis. Porque nós não temos diferentes personalidades (excepto naqueles casos raríssimos de patologias mentais), mas temos diferentes estados de "alma". Reconhecê-las e aceitá-las, admitir que fazem parte de nós, (re)conciliá-las... É o caminho mais difícil, mas mais verdadeiro.
E a libertação acontece assim que nos atrevemos a olhar para dentro do castelo.
E o fim... Sphynx? Admito a minha ignorância: vou ao google e só encontro referências a gatos sem pêlos (muito esquisitos, na minha modesta opinião). O que não deixa de ser curioso. Num conto onde se fala de defesas e muralhas do que não se aceita em nós, um gato que não consegue esconder aquilo que é.
Mas outras explicações existem, claro. Aguardo. :)
E tive um insight!!! ;)
ResponderExcluirA esfinge. E o Édipo. E o enigma.
Agora fiquei com mais perguntas que respostas... ehehehe