Cristiano Ronaldo e o pastel de nata - Maria de Lurdes Vale

Um destes dias, numa conversa com uma espanhola de meia-idade que acabava de conhecer, comentei que ia passar o fim-de-semana a Lisboa.
Ah, sim, que fantástico! E como vais? De carro, respondi. De carro? Mas isso são pelo menos umas 11 horas de caminho, não?
Bom, tive de explicar, como tantas outras vezes, que não, que são cerca de cinco horas (sem trânsito) - há sempre filas enormes para sair de Madrid às sextas-feiras - e que é quase o mesmo que até Santander ou Gijón e até menos do que se leva desde a Castellana até Sevilha.

A admiração foi enorme. É que a última vez que esta senhora tinha estado na capital portuguesa fora há mais de 20 anos e, nessa altura, ainda não existam as auto-estradas que facilitam a cada vez maior proximidade ibérica.
Dessa longa travessia, guardava na memória as compras de lençóis e toalhas, as doses bem servidas nos restaurantes, sempre acompanhadas de arroz e batatas fritas, e uma ideia de Lisboa como uma cidade suja, com gente pobre.
Do resto do País, como a grande maioria dos madrilenos, pouco ou nada conhecia. Tinha passado uma vez por Vilar Formoso para ir petiscar uma posta mirandesa e ver uns castelos que há por ali.

Portugal apresenta-se até amanhã na FITUR com o maior stand de toda a Europa.
A mensagem que pretendemos transmitir é que o país está "na moda" e que tem muito para oferecer.
É uma boa aposta, mas não sei se será a melhor para os nuestros hermanos.
Os espanhóis já são, é certo, o segundo mercado mais importante para Portugal, mas a verdade é que, sobretudo em Madrid, continuamos a ser uns ilustres desconhecidos ou a ter uma imagem que não corresponde à realidade.
Falta presença, falta uma mensagem concreta, falta uma campanha agressiva de marketing nas rádios, nas televisões e na rua. Proponho duas soluções.

A primeira passa pela existência de um multiespaço no centro de Madrid em que os nossos melhores produtos possam ser exibidos e comprados e onde o cidadão comum, o que vive ou o que visita a capital de Espanha (o terceiro destino a nível mundial), possa igualmente informar-se, de forma personalizada, sobre o que pode fazer durante uma viagem a Portugal.
Este balcão turístico poderá ser inicialmente patrocinado pelos turismos de Lisboa, do Porto, do Algarve, dos Açores e da Madeira e por todos os hotéis, pousadas e estabelecimentos de turismo rural e de restauração que estejam interessados em captar clientes.
É a lógica do se Maomé não vai à montanha...

A segunda é a de convencer o Cristiano Ronaldo a deixar-se fotografar a comer um pastel de nata e publicar esta imagem em todos os media. Uma doce combinação que traria resultados inesperados ao PIB português.

Maria de Lurdes Vale in Diário de Notícias