sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

XIII - O Dinheiro...é o ópio do Povo


...Acertaram. Era o Telmo Tipógrafo.
Com as suas citações marxistas, actualizadas…e adulteradas.

“Quando entrei pareceste-me um filósofo a olhar para ao ovos mexidos mas lembra-te que os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras e o que importa é modificá-lo.”
Nem sempre tenho paciência para ouvir o bom do Telmo, mas hoje, a sua conversa, que não necessita de muitas respostas, talvez me ajudasse a descontrair enquanto deglutia o banquete que a D.Rosa preparara, com as suas mãos de fada.
Eu a pensar na mãe, e a Rosinha a fazer a sua entrada triunfante no estabelecimento dos progenitores.

A Rosinha é uma daquelas adolescentes, ou jovens mulheres, se preferirem, que me fazem perceber o ‘crime’ do Polanski. Tem apenas 18 anos mas um corpo ágil e sinuoso, uns lábios carnudos iluminados por um olhos onde a candura não habita há muito e adopta umas poses provocantes que, somadas ao diminuto das roupas, sempre dois números abaixo do mínimo exigido, da tatuagem tribal no início das nádegas onde pontificam strings, ou fios dentais para os mais nacionalistas, transparentes e exíguos, dão uma mistura final explosiva e muito, muito mesmo, perturbadora.
Em contrapartida, os decotes que nada deixam à imaginação, têm pouco de exíguos, obrigando mesmo a clientela habitual, entre a qual me incluo, a prodígios com os olhos para estes não se fixarem, mais tempo do que o devido, no atraente rego dos seios juvenis e empinados que a pequena ostenta sem pudor. Tudo em nome do respeito que temos pelos pais da moçoila, com especial deferência pela D. Rosa…

Só o Zeca Cabeleira, meu amigo de longa data, e garanhão compulsivo, é que já levou uma vez a pequena a dar umas voltas no seu BMW, sob o pretexto de a iniciar nas práticas da condução.
Segundo ele, mas o Zeca não é muito credível, quando se trata de histórias que metam gajas, as aulas terminaram de frente para o rio e a moça demonstrou-lhe por a+b que já estava quase licenciada, pelo menos nas matérias que praticaram com os vidros do carro embaciados.

Verdade ou mentira, a realidade é que a Rosinha nunca mais aceitou as ‘lições’ do Zeca, o que parece contradizer a versão dele.
Mas, esqueçamos o fruto da tentação, antes que me meta em mais algum sarilho e ouçamos o Telmo que já vai no seu segundo bagaço matinal, enquanto deita abaixo um prato de couratos e um ovo cozido, carregado de sal.
“Tas com um aspecto terrível pá. Olheirento, com péssimo aspecto e tudo porquê? Pelo trabalho, onde és explorado por um qualquer capitalista e pelo dinheiro, que eu sei que tu tens hábitos caros, mas lembra-te do que dizia o camarada Marx…”

Preparei-me para mais um embate ideológico.
“…O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a…”
E, engolindo o bagaço de um trago “o dinheiro é o ópio dos povos…”
Não resisti “ Então, mas o ópio dos povos não era a religião?”
A resposta não se fez esperar “Dinheiro e religião são tentáculos do mesmo polvo, o polvo do capitalismo.”
As citações, entremeadas pelas garfadas do suculento pequeno-almoço tinham-me distraído, mas apercebi-me de uma figura do meu lado direito.

Era a sempre elegante Cristina, a Foxy Lady, com as suas insinuantes roupas de cabedal.
“ Preciso de falar consigo, Nuno. Posso sentar-me ?”

4 comentários:

  1. Excelente, como sempre !

    :-)

    Uma nota marginal e fica em inglishe, alemão é mais obstruso para quase toda a gente...

    One of the more frequently quoted statements of Karl Marx is Religion is the opium of the people this being a translation of the German statement "Die Religion ... ist das Opium des Volkes".

    Many people, however, take this statement to be a plain and simple condemnation of religion but what Marx actually meant by saying that Religion is the Opium of the People is somewhat more subtle than this:


    ... Religion is the general theory of this world, its encyclopaedic compendium, its logic in popular form, its spiritual point d'honneur, its enthusiasm, its moral sanction, its solemn complement, and its universal basis of consolation and justification.

    It is the fantastic realization of the human essence since the human essence has not acquired any true reality.

    The struggle against religion is, therefore, indirectly the struggle against that world whose spiritual aroma is religion.

    Religious suffering is, at one and the same time, the expression of real suffering and a protest against real suffering.
    Religion is the sigh of the oppressed creature, the heart of a heartless world, and the soul of soulless conditions.

    It is the opium of the people.

    The abolition of religion as the illusory happiness of the people is the demand for their real happiness.
    To call on them to give up their illusions about their condition is to call on them to give up a condition that requires illusions.

    The criticism of religion is, therefore, in embryo, the criticism of that vale of tears of which religion is the halo.

    Criticism has plucked the imaginary flowers on the chain not in order that man shall continue to bear that chain without fantasy or consolation, but so that he shall throw off the chain and pluck the living flower.

    The criticism of religion disillusions man, so that he will think, act, and fashion his reality like a man who has discarded his illusions and regained his senses, so that he will move around himself as his own true Sun.





    Sorry, ligeiramente comprido, o Marx era um chato dum erudito.

    :-)



    Em compensação também era ligeiramente libertino, vcs. haviam de ler as coisas que ele dix das 'boazonas' das banhistas nas praias da Dinamarca (que frio !),
    nas Lettres sur les Sciences de la Nature, éditions du Seuil, Paris

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  2. Galo, essa descrição da Rosinha... só mesmo de quem sabe do que fala, ou do que escreve no caso.Muito bom!

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  3. Verdade ou mentira, e embora apenas sugerida, a "cena" do Zeca Cabeleira e do BMW, também tem pano para mangas...

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  4. Eu pesoalmente gostei mais do Pedante (a saber o 'Telmo ando a fingir que sou "marxista" e que não sou gay' --- 'brigadão Ney ...

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