sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
XVIII - O encontro com o Major
Afinal havia outro…
Não se assustem porque não vou começar a trautear uma qualquer música pimba.
A frase significa apenas que, de início, tinham sido apresentados dois candidatos ao Comendador.
Eu próprio, e um amigo meu, o António C., também conhecido como Major.
A razão do ‘posto’ deriva, penso eu, dos anos passados no Colégio Militar, ou do facto de ter família no Exército, mas isso, agora, não interessa nada.
O importante é que o António, que eu conheci através de uma amiga comum, homem de interesses vários, e cultura muito acima da média, apesar de envolta em grande anarquia, é um dos grandes especialistas mundiais na obra de Hemingway.
A verdade é que esse meu ‘rival’, durante vários anos presença habitual e constante na noite lisboeta, fazendo do Frágil ou do Papa Açorda os seus locais de eleição, mas publicando, em simultâneo, diversos volumes acerca do ‘Papa’, desaparecera, há algum tempo, de circulação.
Entre os inúmeros boatos que corriam a seu respeito dizia-se que estava a dirigir uma produção agrícola da família, algures na Beira, ou, então, que casara com uma milionária canadiana e zarpara do país, ou, ainda, que vivia agora em Cuba, na casa que pertencera ao grande escritor norte-americano.
De concreto só se sabia que nunca mais editara nenhum livro nem fora visto pelos variados amigos que tinha, espalhados um pouco por todo o lado.
Afinal, a realidade, como acontece muitas vezes, era mais simples…
António C., o Major , fartara-se de uma vida fútil e mundana e passara para uma rotina frugal, na companhia dos seus cães, galgos de estirpe campeã, os seus livros, a sua música e os seus filmes, já que era um cinéfilo dos quatro costados.
A curiosidade é que local onde vivia como um eremita era perto de Sintra, onde acabáramos de chegar…
“ Mas não julgue que é por causa dele que fizemos esta viagem” concluiu a ‘Foxy Lady’, enquanto se encaminhava para São Pedro, na direcção do local onde se efectua a feira.
Perguntei-lhe porque tinham optado pela minha humilde pessoa em comparação com um especialista à escala global.
“ A decisão final coube ao Comendador, que, na altura, afirmou achar o Nuno mais ‘maleável’…”
Não há dúvida que toda esta conversa estava a deixar a minha auto estima de rastos, mas não tive tempo de fazer qualquer comentário, porque junto a um palacete de grossos muros cor-de-rosa e portão com gradeamento de ferro, a minha companheira informou-me” Fixe bem esta moradia. É a casa de um conhecido artista plástico que o Nuno conhece certamente, pelo menos de nome…e que tem tudo a ver com a conversa que vamos ter, enquanto almoçamos. E a propósito, o Nuno que é apreciador de boa comida, recomenda algum restaurante sossegado…e onde se coma bem?”
Contente, por os meus serviços serem, finalmente, solicitados, falei n’O Cantinho de São Pedro, a meia dúzia de passos do local onde nos encontrávamos.
A minha sugestão foi aceite, sem reparos.
Estacionámos o carro e preparávamo-nos para atravessar o terreiro, naquele dia vazio, da Feira de São Pedro quando uma figura conhecida apareceu à nossa frente.
E ainda a outra diz que não há coincidências…
A meia dúzia de metros de nós, o António C., de quem tanto tínhamos falado no trajecto do Guincho para cá, passeava um belo galgo.
Pareceu-me que ele não ficara nada surpreendido por nos ter visto, ou então foi só impressão minha, mas depois de meia dúzia de palavras de circunstância apressou-se a despedir, sob a explicação algo esfarrapada de que o cão não parava quieto.
Quando empurrámos a porta do restaurante e passámos debaixo do arco que a emoldura, a Cristina olhou-me nos olhos, com firmeza:
“ Apesar de ingénuo, o Nuno não acredita que foi por acaso que esse seu ‘amigo’ estava ali, pois não?"
Etiquetas:
A Amante Misteriosa
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Espertinho...
ResponderExcluir:-)
However, tenho uma sugestão p'ra restaurante, o Goucha mudou de ares de Fontanelas para... aí mesmo.
E outra: em 'ralação' a um desgraçado de um comendador, que toda a gente sabe quem ele é, a exposição no museu na Portela que leva o nome da falecida marquesa, nesta altura é sobre a Índia...
Depois próximamente haverá o Rodrigo Leão e os Tindersticks.
Claro, ia-me esquecendo da feira em S. Pedro, creio bem que é aos 2ºs e 4ºs domingos de cada mex...
Bons passeios com a Foxy L. !
:-)
Ok, pronto, está bem! quem mais vai aparecer? agora já não tenho dúvidas acerca da Almeida head hunter...
ResponderExcluir:-)
ResponderExcluirComo é que dixia (salvo erro) o Guilherme Inês numa coisa de já há muito tempo ?
"Secánvasse faziazcáski".
Pois eu se tivesse o fôlego e a inspiração requeridas faria rigorosamente o mesmo que o G. e/ou o velho Hemingway...
Valha-nos deus ao menos, que se é um "palacete de grossos muros cor-de-rosa e portão com gradeamento de ferro" 'atão não foram parar à casa onde aquele anormal pseudo qualquer-coisa vivia com a velhota pseudo isso mesmo.
Uff !!
:-))
Galo...
ResponderExcluirHoje, tu vais ter que desculpar-me, mas o único comentário que consigo fazer... é RIR-ME!!!