A explicação de Fernando Lima
é como o computador de Cavaco:
tem vulnerabilidades
Três meses depois de ter sido afastado da Casa Civil do Presidente da República por causa do seu envolvimento no chamado caso das escutas, e dois meses depois da sua reintegração na Casa Civil do Presidente da República sem que tivesse havido novidades a propósito do seu envolvimento no chamado caso das escutas, Fernando Lima veio a público explicar o seu envolvimento no chamado caso das escutas dizendo que, tendo embora estado envolvido no chamado caso das escutas, na verdade não teve nada a ver com ele. Ora até que enfim, um esclarecimento claro e cabal sobre este estranho processo.
Primeiro, recorde-se, Fernando Lima tinha arranjado sarilhos falando a um jornal. Agora, quis esclarecer tudo escrevendo para um jornal. Não pode dizer-se que tenha aprendido a lição. Sobretudo porque a explicação de Lima é como o computador de Cavaco: tem vulnerabilidades. O ex-assessor de Cavaco e actual assessor de Cavaco diz que o caso foi empolado pelos jornais a partir de um desabafo vago e inofensivo. "Como é que elementos do PS", terá perguntado Lima inocentemente, "sabem o que faz cada um na vida privada? Andam a vigiar os assessores, quem sabe através de escutas instaladas na residência oficial do Presidente, na sequência aliás de um caso em que, ao que suspeitamos todos aqui na Casa Civil, um assessor do governo foi espiar o Presidente para a Madeira?" A partir destas simples declarações, os jornalistas, com a capacidade de efabulação que se lhes conhece, conseguiram supor que o assessor da presidência desconfiava da existência de escutas na residência oficial do Presidente, e acreditava num caso anterior de espionagem do governo a Cavaco Silva. Tudo não passou, portanto, de uma fantasia inventada pela imprensa. Para Fernando Lima, o Público esteve mal em todo este processo. O DN, revelando o modo como o Público esteve mal, esteve ainda pior. E o Expresso, que agora publicou o esclarecimento de Lima, não perde pela demora. É óbvio que também não se terá portado bem.
Em resumo, a Presidência nunca teve suspeitas gravíssimas de estar a ser vigiada, mas à cautela o Presidente mandou examinar as suas comunicações. A hipótese de vigilância aos assessores de Cavaco não passou de um desabafo que não era para ser tomado à letra, mas de facto o computador do Presidente tinha vulnerabilidades. Falar no caso na altura foi um modo de desviar as atenções dos problemas graves que o país atravessava, mas falar no assunto agora é apropriado, até porque o país já se livrou dos problemas graves que atravessava. Estava a ver que nunca mais se esclarecia isto.
Ricardo Araújo Pereira in Boca do Inferno (Visão)
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
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Depois de ler este texto, fiquei cheia de saudades de uma Crónica escrita pelo MEC...
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