segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Lady d'Arbanville - Cat Stevens

O Grande Mestre do Crime

Este Thomas Crown Affair é o de 1968, do Norman Jewison, com Steve McQueen e Faye Dunaway nos principais papéis, e não o remake de 1999, com Pierce Brosnan e Rene Russo, que, embora agradável, não faz parte deste campeonato.
No filme original, e a palavra aqui utiliza-se com dois sentidos,
desde o genérico à canção "The windmills of your Mind"tudo é perfeito. A montagem ritmada, a interpretação cool dos actores principais, os cenários, paisagens e, principalmente, os diálogos, os olhares, os pequenos gestos ( a cena do jogo de xadrez pertence ao Top 10 de qualquer antologia cinematográfica ) tornam esta película inesquecível e mantem sempre vivo o desejo de a rever vezes sem conta.
Como todos os grandes enredos, este baseia-se numa história simples de um assalto planeado por um milionário (McQueen)que virá a ser perseguido e descoberto por uma bela e inteligente investigadora (Faye). Depois, ao som da magnífica música, vencedora de um Óscar, a acção vai-se desenrolando com suspense e tensão amorosa, até ao final inesperado.

12 Piadas Informáticas


Uma impressora para o outra: "Essa folha é sua ou é impressão minha ?".

Quem tem dedo vai a Roma.com .

Vão-se os arquivos, fiquem os backups .

Quem nunca errou que aperte primeira tecla .

O barato sai caro. E lento .

Quem clica, seus males multiplica .

Não adianta chorar sobre arquivo apagado .

Quem semeia emails, colhe spams .

Diz-me que chat frequentas, dir-te-ei que és .

Quem não tem banda larga, caça com modem .

Lido no blog aminhatshirt.blogspot.com




Tempestade nos ares



Johnny Hazard que em Portugal, com a mania, à época, das traduções, se popularizou como João Tempestade (enquanto Ben Bolt era Luis Euripo e Rip Kirby, Ruben Quirino) foi o personagem mais famoso de Frank Robbins, criado por este extraordinário desenhador em 1944 e tendo tido uma vida superior a 30 anos. Robbins, um ilustrador que dominava a técnica do claro/escuro a pincel de forma ímpar( ganhou a primeira bolsa de estudo de desenho com apenas nove anos de idade) teve, posteriormente, muitos seguidores ,como Hugo Pratt ou Jordi Bernett, entre dezenas de outros de escalões inferiores. As suas "tiras", diárias ou semanais, eram percorridas por vamps inspiradas nas estrelas de Cinema (Ava Gardner , Rita Hayworth ou Laureen Bacall), sinistros vilões ou simpáticos vigaristas, enquanto o nosso ingénuo Johnny lá andava em bolandas por países da Ásia ou sofisticadas capitais europeias, sempre com muito humor , algum erotismo velado e uma grande mestria no desenho. Embora possua várias edições espanholas brochadas e outras cartonadas em inglês, no nosso país este herói foi apenas editado no Mundo de Aventuras ou em pequenos fascículos, geralmente de muito má qualidade.

Uma Família Feliz

Este quadro, na realidade um tríptico, continua na linha do "Ciúme" mostrado abaixo,
e que não mereceu até à data qualquer comentário.
Pretendi retratar uma família típica, composta pelos pais e por três filhos.
Como estou sempre a ouvir dizer que um dos meus filhos é a cara da Mãe,
o outro a minha, e o terceiro uma mistura dos dois
resolvi seguir aqui essa receita.
Assim a filha mais velha é a cara da Mãe, a mais nova a cara do Pai
e, finalmente, o rapaz apresenta uma mescla dos dois progenitores.

Os Candidatos

Os dois candidatos eram muito diferentes.
Um era negro, elegante e aparentava ser mais jovem do que realmente era.
O outro era branco, pesadão e parecia muito mais velho do que era, na realidade.
Um defendia o fim da guerra, mas com cautela e só após um período de preparação.
O outro queria que se continuasse, durante mais algum tempo, com a guerra e só depois esta fosse dada como terminada.
Um apoiava a livre iniciativa e igualdade de oportunidades para todos, enquanto o seu opositor defendia que todos nasciam iguais e deveriam ter liberdade de escolha.
O mais novo queria poder apoiar-se na experiência dos mais velhos e o mais idoso, pedia a todos os jovens que o ajudassem com toda a sua frescura.
As mulheres, para ambos, eram a mola real do sucesso do País e, os dois, contavam com elas.
A abolição da pobreza, o objectivo principal.

No debate, trocaram acusações, farpas e provocações, mas tudo com elegância.
Depois, sentaram-se numa sala resevada, beberam dois cognacs Hennessy Ellipse (a 5000 dólares a garrafa) e fumaram dois Cohibas Coronas Especiales.
Desceram juntos no elevador ,e enquanto um se abrigava no confortável BentleyContinental GT Speed o outro esgueirou-se para o desportivo Ferrari Enzo, acabado de comprar.
Olhando a diferença de estilo das viaturas, os dois tiveram o mesmo pensamento.
" ...E, ainda há quem diga, que somos duas faces da mesma moeda !"

Volta Herman, estás perdoado !

...Quem não se riu alguma vez com o Estebes ou o Toni Silva, com o Nelinho ou o Diácono Remédios, com a Filipa Vacondeus ou a Jaquiná, Jaquiná que atire a primeira pedra.
Quem nunca repetiu Não havia nexessidade, Létes luque ate de trailer ou Ganda pomada
que atire a segunda ...
Quem, por fim, não detestou o Herman da fase cabotina e nova rica dos Bentleys, e dos grandes barcos, dos caviares e das festas pífias com o jet set local, das entrevistas sem qualquer preparação ou interesse, que atire a terceira pedra.
E posto isto, chegamos ao novo Herman, que já tinha sido morto e enterrado , e surge com todo o seu humor anárquico, irreverente e expontâneo na apresentação de dois concursos por quem ninguém dava nada - o Chamar a Música e a renovada Roda da Sorte. Com o cinzentismo deste País e a falta de humor vigente ( e para que o Gato Fedorento ou, melhor dizendo, o Ricardo Araújo Pereira, não se torne monopolista) daqui fica a saudação ao regresso do puto irreverente que ,felizmente, continua a existir debaixo de todo aquele cabelo louro platinado.

Mafalda

Quino (Argentina)

Vinicius de Moraes - Receita de Mulher

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como o âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca húmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar as pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteia em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebal
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37º centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

Vinicius de Moraes

Ex -Citação 7

"Trough violence you may murder a murderer but you can't murder murder. Trough violence you may murder a liar but you can't establish truth. Trough violence you may murder a hater, but you can't murder hate.
Darkness cannot put out darkness.Only light can do that."

Marthin Luther King
Erich Sokol (Áustria)

Sexo, Sexo, Sexo- Luis Fernando Verissimo



Luis Fernando Verissimo, filho do escritor Érico Verissimo, é bem conhecido dos portugueses através das suas crónicas do Expresso, para além de alguns dos seus mais de 60 livros terem já sido editados pela Objectiva.

Aqui ficam uns breves excertos do seu livro"Orgias"(Objectiva)

Merlusa Cavalcante, socialite: "Acho que fui uma adolescente normal.Minhas fantasias sexuais eram com estrelas de cinema.Lembro que as paredes do meu quarto eram cobertas de fotografias de atores e eu me imaginava transando com todos eles...Rin Tin Tin, King Kong, o cavalo do Roy Rogers..."

Dico Tomia, almoxarife e poeta:" Eu acho que o sexo tem que ser entre pessoas que se amam, ou se gostam, ou se respeitam, ou então não se conhecem mas não têm nada para fazer entre as seis e as oito.Senão fica uma coisa mecânica, entende?"

Miro Masaferro, corretor:"Eu e minha esposa temos relações sexuais três vezes por semana, às terças, quintas e sábados. Terças e quintas das dez às dez e vinte e sábados das onze às onze e quarenta, com um intervalo para gargarejo. Religiosamente.É uma rotina que mantemos há vários anos e que não pretendemos mudar, apesar dos protestos que ouvimos quando, por exemplo, estamos jantando num restaurante e eu digo'Querida, são dez horas'e vamos para baixo da mesa.Eu acredito que o segredo para uma vida sexual feliz é o mesmo que para a saúde. a regularidade. O importante é nunca falhar.Não sei como vai ser hoje. Vamos estar num velório..."

domingo, 28 de setembro de 2008

Marilyn, o Pecado mora Aqui.

Norma Jean talvez seja o nome real de uma actriz mais conhecido, num universo em que apenas o apelido artístico chega ao grande público.
Mas com Marilyn Monroe tudo foi sempre diferente...
Nascida de pai desconhecido em Los Angeles, no ano de 1926, e vivendo grande parte da infância em orfanatos e famílias de adopção, Marilyn viria a casar, pela primeira vez, com apenas 16 anos. Tendo o seu marido entrado para a Marinha e sido enviado para o Pacífico Sul, Marilyn que, à data, trabalhava numa fábrica foi descoberta por um fotógrafo e iniciou uma promissora carreira como modelo. Após o regresso do marido da Guerra , divorciaram-se.
Foi então que Norma/Marilyn, assinou o seu primeiro contrato com a Twentieth Century Fox, pintou o cabelo de louro e adoptou, definitivamente, o nome que a viria a consagrar e fazer entrar na História do Cinema.
Apesar de ter começado com pequenos papéis em pequenos filmes, rapidamente a sua sensualidade e presença nos écrans, fizeram com que conseguisse outros que ficariam para sempre na memória dos seus inúmeros admiradores.
Os Homens preferem as Louras, O Pecado mora ao Lado e Quanto mais Quente melhor são algumas das bem dispostas comédias desta loura voluptuosa que ostentava 1,67cm de altura, 94cm de busto, 61cm de cintura e 89cm de anca.
Mas Marilyn protagonizou, igualmente, outro tipo de filmes como Niagara, em que planejava matar o seu velho marido, Joseph Cotten, ou Bus Stop, Paragem de Autocarro.
Entretanto casara-se com Joe Dimaggio, um herói no mundo do baseball , mas o casamento durou apenas 9 meses. Marylin mudou-se, nessa altura, para Nova York, inscreveu-se na famosa escola de actores de Lee Strasberg e abriu a sua própria produtora.
Produziu então O Príncipe e a Corista, contracenando com Laurence Olivier, tendo ganho, igualmente, o Golden Globe para Melhor Actriz de Comédia.
Marylin casaria, ainda, com o dramaturgo Arthur Miller que escreveu para ela o papel de Roselyn Taber, originando o filme Os Inadaptados com Clark Gable e Montgomery Clift, que foi o último filme em que a nossa estrela entraria.
Após novo divórcio, iniciaria, ou continuaria segundo muitos, uma relação tempestuosa com John F.Kennedy, presidente dos Estados Unidos, e o seu irmão mais novo Robert Kennedy.
É dessa época, o célebre " Feliz Aniversário Senhor Presidente" cantado por Marylin, na sede do Partido Democrático.
Foi então considerada"A personalidade feminina favorita de todo o Cinema mundial", tendo, nesse mesmo ano, sido encontrada morta, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas, na sua casa da Califórnia.
Morria assim, com apenas 36 anos, uma das figuras mais carismáticas da 7a Arte...

sábado, 27 de setembro de 2008

Deus, e o Humor, são Brasileiros

Millôr Fernandes é, talvez,
o maior Humorista
de língua portuguesa.
Em mais de sessenta anos
de produção artística
e colaboração diária com O Cruzeiro, Pif-Paf, Pasquim,Veja, Isto É ou o Jornal do Brasil
(e também o nosso Diário Popular)
Millôr escreveu pequenos textos, aforismos, poemas, peças de Teatro ( "É", ficou cinco em cartaz, no Rio),
desenhou milhares de cartoons e apoiou o aparecimento de inúmeros novos valores.
Aqui ficam algumas das suas pequenas maravilhas, só para aguçar o apetite...
" Hoje em dia chama-se mulher fiel aquela que trai sempre o mesmo homem.
Chama-se antropófago um sujeito que chega no restaurante e pede o garçon.
Biquíni é uma coisa que começa de repente e acaba subitamente.
Flagrante é uma suspeita que confere.
Uma mulher perdida não passa de uma mulher muito encontrada.
Pedestre é um indivíduo que pode estacionar onde quiser.
Os homens não fervem à mesma temperatura.
Chama-se entrevista política o acto de falar naquilo que se devia estar fazendo.
A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.
O pobre trabalha para comer.O rico trabalha para comer fora."
Prometo trazer mais coisas de seu Millôr, esperem sentados...

...Onde é que eu já ouvi isto ?

"...A actual conjuntura socio-económica
causada pela crise financeira internacional
e pela subida galopante do custo do petróleo,
a que somos totalmente alheios,
leva-nos a afirmar, com relutância, mas simultaneamente
com uma firmeza inquebrantável
que os nossos objectivos mais imediatos
terão que ser adiados sem prejuízo, porém,
das medidas sociais e alterações comportamentais profundas
que temos vindo a implementar, num esforço acrescido,
que a Oposição não reconhece
continuando numa campanha acéfala de desinformação
a que alguns Meios de Comunicação,
numa atitude completamente irresponsável e anti-patriota,
dão uma cobertura e destaque imerecidos e injustos
que muito nos magoa, não nos impedindo, contudo,
de continuarmos no rumo traçado, apesar das vissicitudes
de que falávamos e que nos farão adiar, mas não suspender,
alguns dos projectos mais ambiciosos e emblemáticos
e tornar impossíveis muitas das nossas promessas eleitorais
que, mesmo não estando esquecidas, terão que aguardar
um momento mais oportuno em que os mercados externos
nos sejam favoráveis e tudo se conjugue
para que possamos realizar esses, e até outros,
objectivos que nos são tão queridos, embora reconhecendo
que o contraciclo em que, involuntariamente
nos vimos envolvidos , nos dificulta, e muito,
toda e qualquer programação mais rigorosa e pragmática
procurando resultados imediatos que,
embora permaneçam bem presentes e firmes
no nosso horizonte mais longínquo, estamos impedidos
de alcançar nos próximos tempos.
Porém, unindo os nossos esforços
e com o espírito de sacrifício que nos é peculiar, estou certo..."

Ex -Citação 6

"A Vida é maravilhosa quando não se tem medo."

Charlie Chaplin

Unanimidade

A sala de reuniões tinha uma bela mesa de cerejeira envernizada e dezoito cadeiras forradas a veludo, com pés arqueados em talha dourada.
Nas paredes, os retratos de Freitas do Amaral, Adriano Moreira , Basílio Horta e Manuel Monteiro, entre outros, conferiam uma austeridade institucional à divisão.
O Presidente daquele pequeno partido conservador, levantou-se, pigarreou e declarou, com a sua voz bem colocada, tão característica:
"- Estamos aqui para aprovar um voto de confiança à presidência do nosso Partido, moi même, e definirmos quais os nossos objectivos mais imediatos."
Perante o silêncio geral, aclarou de novo a garganta e continuou, com o seu sorriso faíscante:
"- Não aos casamentos homossexuais.
- Expulsão imediata dos emigrantes clandestinos.
- Guerra feroz às ideias do Governo.
- Veto intransigente dos divórcios Simplex."
Ao arrumar os papéis, olhou em seu redor e concluiu, grave:
"- Vamos proceder, de imediato, à votação !".

O resultado foi 100% favorável às suas ideias.
Correu as cortinas da sala, desligou s luzes, olhou mais uma vez as cadeiras vazias...
...e guardou o voto no bolso, antes de fechar a porta.

Auto-Retrato - Ary dos Santos

Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.

Cozido à portuguesa
mais as carnes suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.

Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.

Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.

José Carlos Ary dos Santos

James Stewart, o Americano Tranquilo

John Wayne era o símbolo da virilidade ianque,
o sempre penteado Cary Grant,
exemplo de uma sofisticação cosmopolita,
Humphrey Bogart o cínico duro e introvertido
mas, de todo eles, era James Stewart
com um ar meio pateta e desengonçado
que eu escolheria para
representar a sua geração de actores.
Nascido em Indiana, na Pensilvânia, Jimmy Stewart,
como era conhecido , começou a carreira
como actor na Broadway,
antes de chegar a Hollywood, em 1935.
Tendo, quase de imediato, sido nomeado para um Óscar
com "Mr.Smith to Goes Washington" de Frank Capra
continuou na senda dos êxitos
com "Vertigo", A Mulher que Morreu duas vezes,
Anatomia de um Crime, "Rope", A Corda,
"Rear Window", Janela Indiscreta,
O Homem que sabia de mais,
O Homem que matou Liberty Valance, percorrendo géneros que foram
da comédia romântica ao western, e do thriller ao filme de tribunal.
Trabalhou com os maiores realizadores como Alfred Hitchcock, John Ford, Billy Wilder,
Frank Capra ou Anthony Mann e foi eleito o terceiro Greatest Male Star of All Time
pelo American Film Institute.
Menos conhecida foi a sua carreira militar,
pois era Brigadeiro na Força Aérea Norte Americana
onde esteve 27 anos, tendo combatido na 2a Guerra Mundial.

Rear Window - Janela Indiscreta


No seu pequeno apartamento, imobilizado com uma perna partida, o fotógrafo L.B."Jeff"Jeffries observa a vizinhança através das potentes lentes de um par de binóculos
e, também, da sua teleobjectiva.
E é muito o que tem para ver- um compositor frustrado,
uma bailarina que adora fazer exercícios à vista de todos,
um jovem casal em lua de mel e um outro de meia idade
com um cão, uma solteirona cheia de fantasias
e um vendedor com a sua mulher inválida...
Para saberem o resto, terão que ver esta obra prima
que Alfred Hitchcock dirigiu em 1954, com James Stewart
como protagonista, Grace Kelly no papel da sua namorada
modelo de moda, Lisa Carol Fremont, e Wendell Corey como dectetive da polícia. Raymond Burr, mais conhecido da televisão
como Perry Mason o advogado imbatível, é o vilão de serviço.
Considerado, por muitos, um dos melhores thrillers do grande mestre Hitchcock, Rear Widow, A Janela Indiscreta, apela para o voyeur que todos nós somos, em maior ou menor escala,
e transporta-nos para o lugar daquele fotógrafo que , sem mais que fazer, vai "cuscando" a vida
dos vizinhos.
Pegue nuns binóculos, feche as luzes da sala e vá ver se a loura do outro lado da rua já saiu do chuveiro...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Silêncio Estratégico

Aquela líder oposicionista era conhecida pelo seus longos silêncios, pelas parcas palavras, pela, para muitos , ausência de alternativas ao Governo.
Naquele dia, ao chegar a casa, deparou-se com uma multidão de jornalistas que a esperavam.
Ergueu a cabeça e avançou resoluta.
- Senhora Doutora, senhora Doutora, o que pensa da crise financeira?- atirou-lhe o primeiro.
- Hum, hum...-resmungou ela, pulando o canteiro das begónias.
- Por favor, diga-me o que achou do discurso do primeiro-ministro ?- inquiriu outro, de microfone em riste.
- Hemm...Hum,hum -saltando, agora, um vaso de petúnias.
- A sua acção é concertada com o Presidente?- soprou um estagiário, matreiro.
- Huummm...-terminou ela , entrando dentro de casa.

Só então, no sossego do lar, pode terminar descansada a fatia de bolo rei que vinha a comer...
-Safa - pensou para com os seus botões - ia sendo apanhada como o outro !!!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Círculo Vicioso

Com respiração ofegante e um ar certamente alucinado
entrei no gabinete do Ditador.
Em três saltos alcancei-lhe a secretária.
Encostei-lhe a pistola ao rosto surpreendido e disparei.
O documento que ele estava a assinar caiu no chão.
Os soldados da guarda acorreram
e ao verem a cena deram vivas de alegria.
Aclamaram-me.
Despiram a farda do Ditador e vestiram-na em mim.
Sentaram-me à mesa do defunto.
A primeira ordem que assinei
foi a do fuzilamento de todos os Generais.
A segunda, a da expulsão de todos os estrangeiros.
E da prisão em campos de concentração
de todos os jornalistas.
e da expropiação dos bens de todos os burgueses.
E da conversão de todos os herejes.
E.
...De repente parei.

Um homem com a respiração ofegante e um ar alucinado
acabara de entrar no meu gabinete.
Em três saltos alcançou-me a secretária.
encostou-me a pistola ao rosto surpreendido...

Ne me quitte pas, Jacques Brel


No final da década de 60, partilhava eu uma casa
na Av.D.Rodrigo da Cunha, com um estudante de Medicina
e outro de Economia.
Os dias eram muitas vezes agitados, mas as noites, dado os hábitos da época, eram longas , até às cinco, seis da manhã, porém bastante tranquilas.
Era então que bebiamos um vinho verde intragável, mas muito barato,"Três Marias", e petiscavamos chouriço assado à bombeiro com pão casqueiro para dar substracto.
Sentavamo-nos, enrolados em cobertores, no grande terraço da casa e lá íamos discutindo a salvação do Mundo e as alunas dos Cursos de Férias, enquanto escutávamos a Joan Baez, o Joe Cocker, o Leo Ferré, o Brassens ou ...e aí fazia-se um silêncio quase religioso, o Jacques Brel.
Belga, nascido em Schaabeek, este cantautor tem-me acompanhado durante toda a minha vida e continuo a ouvir
com a mesma emoção Les burgeois (...sont comme des cochons),
Quand on a que l'amour, Les biches, La valse à mille temps, Au suivant, Les Flamandes, Ne me quitte pas, Les bonbons, J'arrive ou,o incontornável Amsterdam.
Depois, a importância e influência da música francesa foi desaparecendo, substituida pela anglo-
-saxónica mas para este senhor ficou sempre um lugar dans mon coeur.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Amsterdam - Jacques Brel

O Preço da Verdade

A apresentadora, de rosto comprido e farta cabeleira, perguntou-lhe:
- Está disposto a responder ao polígrafo?
- Sim - murmurou o concorrente, ainda hesitante.
- Roubou alguma vez os seus amigos ?
- Sim
- Enganou a sua mulher, mais de quinze vezes ?
- Sim
- E já lhe bateu ?
- Sim.
- Gosta de trabalhar ?
- Não
- Odeia o seu patrão ?
- Sim - sussurou o homem, com um ligeiro sorriso.
- É jogador compulsivo, bêbado e drogado ?
- Sim - respondeu ele, já mais descontraído.
- Sente amor pelos seu filhos ?
- Não
- Se soubesse que não seria apanhado, mataria a sua sogra ?
- Sim
- Já teve relações homosexuais ?
- Sim
- Quer desistir ?
- É melhor...Sim.

E só então, o homem tendo perdido a mulher e os filhos, o emprego e os amigos, e se tornado motivo de chacota nacional, regressou a casa ...com 5000€, no bolso.

domingo, 21 de setembro de 2008


Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.




La Survivante

Comecemos pelo princípio...não morro de amores por Paul Gillon, o autor dos dois albuns que formam"La Survivante".
O seu desenho demasiado rígido e clássico e as personagens que fazem lembrar manequins de montra, não me deixam apreciar demasiado este artista.
Por isso este texto é para falar especificamente desta obra e não do seu criador.
Uma situação pós caos ( guerra nuclear, epidemia, invasão extraterrestre...) faz
com que apenas(?) um(a) sobrevivente se mantenha no nosso planeta.
Já lemos e vimos esta cena inúmeras vezes ( a última das quais talvez no "I'm a Legend" com o Will Smith). Pois aqui o leit motif é o mesmo, embora com mais de 20 anos de avanço.
Aude é a única sobrevivente dum cataclismo mundial ,que vive em Paris, rodeada de robots que lhe satisfazem todos , mesmo todos, os desejos. Mas será que Aude está só?
A resposta é previsível. Sempre que há um só Adão aparece uma Eva e quando a Eva está só, como neste caso, um Adão prepara-se para surgir no horizonte.
O desfecho é que é inesperado e merece a compra dos dois albuns (ou do integral da imagem).
Procurem na FNAC...

Ex-Citação 5

"Acerca da Moral, o que sei é que é MORAL quando depois te sentes bem e IMORAL quando depois te sentes mal"

Ernest Hemingway

Big Man

Quero apenas dizer umas breves palavras...

Este político é um dos mais brilhantes de toda a história dos Estado Unidos.
Inteligente e cheio de sentido de humor.
Honesto, intelectualmente sobredotado, culto, cosmopolita e amado por toda a gente.
As suas decisões ficarão como grandes momentos da evolução do Homem.
Pacifista, moderado e profundamente democrata, tem um ódio visceral à violência e à resolução bélica dos problemas, preferindo o diálogo e a aceitação das diferenças culturais, religiosas e étnicas entre os diversos povos.
Agora, que se prepara para abandonar o cargo de homem mais poderoso do planeta, irá deixar em todos nós grandes saudades, mágoa pelo seu afastamento e uma profunda admiração pela obra feita.

E pronto, é tudo o que tenho a dizer acerca deste pilar da actualidade.
...Ah, é verdade, já me ia esquecendo de me apresentar.
O meu nome é Pinóquio, João Pinóquio.

Luís Sepúlveda - O Escritor Guerrilheiro

Luís Sepúlveda nasceu no Chile, em 1949, e com 20 anos foi para a Universidade de Moscovo estudar Produção Teatral.
De volta à sua terra natal desenvolveu uma forte actividade política, primeiro como líder estundantil e mais tarde, durante o governo de Salvador Allende, nos Assuntos Culturais.
Preso, durante mais de dois anos, após a tomado de poder por Augusto Pinochet, Sepúlveda viria a ser libertado graças aos esforços da Amnistia Internacional, tendo passado à clandestinidade, de novo condenado a prisão perpétua e, finalmente, mandado para o exílio.
Durante o vôo para a Suécia, fugiu na primeira escala em Buenos Aires e depois de passar pelo Uruguai, Brasil e Paraguai chegou, finalmente ao Equador onde tentou, infrutiferamente, espalhar os seus ideais marxistas.,
Integrou, então, a Brigada Internacional Simão Bolívar que desenvolvia acção militar na Nicarágua. Após a vitória da revolução, Luís Sepúlveda partiu para a Europa, como jornalista.
Começa então, com mais de quarenta anos de idade, a sua actividade como escritor dando-nos pequenas pérolas como "Un Viejo que leía novelas de Amor","Nombre de Torero","Historias Marginales","Hot Line","Cuaderno de Viaje", entre uma vintena de outros títulos.
Por vezes, demasiado panfletário e fundamentalista na defesa dos seus ideais, Luís Sepúlveda é, contudo, capaz de escrever com grande sensibilidade poética e criativa, misturando a sua vivência de intelectual europeu com as sempre presentes raízes latino-americanas.

Alguns dos seus títulos, mencionados acima, são excelentes momentos de leitura, prazer e reflexão...

sábado, 20 de setembro de 2008

Todos iguais, todos diferentes


Aqueles dois irmãos eram gémeos idênticos.
Idênticos, não... eram tirados a papel químico. A mesma altura, cor de olhos e de cabelo, timbre e tom de voz, maneira de andar, de comer, de sorrir, enfim, iguais como duas gotas de água (...perdoem-me o lugar comum!).
Já tinham até namorado, em simultâneo, a mesma rapariga, sem ela notar nenhuma diferença superficial ou, mesmo, mais aprofundada.
Quando estudantes tinham tido as mesmas notas, tirado o mesmo curso, arranjado emprego na mesma empresa.
Tinham comprado carros iguais, casas geminadas, passavam férias juntos.
Tiveram sarampo, tosse convulsa e varicela na mesma altura. Curaram-se no mesmo dia.
Gostavam dos mesmos pratos, da mesma marca de cerveja, dos mesmos restaurantes.
E era assim com os filmes, livros e música. O que agradava a um, era o preferido do outro.
A roupa era comprada em duplicado.Todos os dias combinavam o que vestir.
Jogavam os dois ténis. Praticavam ambos natação.Gostavam de ver futebol...
...E era essa a única diferença!
Enquanto um era doente do Benfica, o outro era fanático pelo Sporting.
Naquele dia, frente ao écran gigante só se diferenciavam pelos cachecóis - vermelho num, verde e branco no outro.
Tentaram controlar-se durante todo o jogo, mas quando o árbitro marcou um penalty inexistente e o mano comemorou ruidoso, Caim não resistiu...
...Foi buscar o revólver e descarregou-o no irmão, enquanto Abel festejava ainda o golo acabado de marcar.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Museu Mexicano



Monterrey é uma grande cidade mexicana sem o charme típico de Guadalajara ou Tlaquepaque mas que soube, de forma harmónica, conjugar as grandes avenidas e arranha céus, influência dos vizinhos Estados Unidos, com as cores e materiais típicos do seu país.

Aqui retratámos um ângulo do Museu de Arte Moderna local, onde decorria uma exposição de Frida Kahlo, mistura kitch de autoretratos, maquetas do quarto da artista, guarda roupa da mesma, esqueletos, flores de papel, numa encenação felliniesca. Gostei !

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Jogging Matinal

O primeiro ministro corria que se fartava.
Principalmente durante as viagens oficiais, rodeado de jornalistas e câmaras de televisão...
Era vê-lo na Muralha da China, com mais de quatrocentos e vinte e oito chineses à sua volta ,sete dos quais vendedores de malas Louis Vuitton de imitação, pisando aquelas pedras centenárias com galhardia.
No Calçadão, em pleno Rio, com dezenas de turistas, vários pivetes, algumas mulatas chegadas do ensaio da Madureira, uma drag queen de regresso a casa, lá vai ele veloz, parando apenas para algumas breves palavras para o Globo Repórter...
Ladeado pelo pequeno Sarskosy e pela bela Bruni, podemos observá-lo , mais uma vez, com passadas largas a descer os Campos Elíseos, no meio dos incentivos dos nossos conterraneos emigrantes -"Anda-lhe José, vê se ganhas uma medalha !".
Até nos trópicos, enquanto son ami Chavez percorre as avenidas no Rolls blindado cheio de autocolantes "Bush go home!", lá temos o nosso homem, suado, ligeiramente cansado, mas sempre de sorriso fascinante a anunciar mais 20000 empregos, dezoito IKEAS, cinco ou seis Simplex variados e um novo computador com apenas três teclas e sem écran.

Não há dúvida nenhuma que o nosso primeiro ministro corre que se farta.
O país é que não o acompanha...Está parado !

Blade Runner

Sou suspeito para falar, ou escrever, acerca do Blade Runner porque é um dos meus filmes preferidos e que já vi mais de vinte vezes.
Filmado em 1982 por Ridley Scott, conta com um elenco de luxo onde se destacam Harrison Ford como Deckard, caçador de replicantes, Rutger Hauer, numa das suas melhores interpretações e, ainda, Sean Young, Daryl Hannah, Brion James...
A acção decorre em 2019 numa Los Angeles gótica e super povoada por orientais, tendo o visual do filme , que é sem dúvida uma das suas atracções maiores , sido concebido por Syd Mead.
A trilha sonora é de Vangelis e ajuda a compor o ambiente decadente que percorre todo o filme desde os mercados de rua, onde se pode comprar literalmente tudo, à magnífica arquitectura , bem presente no decorrer de toda a acção.
É um filme cult, não tendo tido grande aceitação inicial nas salas de cinema, mas que foi um dos primeiros a ser editado em DVD. Mais recentemente, foi lançada uma Director Cut, versão mais pessoal de Ridley Scott.
De cada vez que se visiona este filme , descobrem-se sempre novos pormenores....A não perder!

Jordi Bernet , mestre do humor negro.


Jordi Bernet nasceu em 1944, em Barcelona, tendo durante muitos anos trabalhado em França,Itália, Alemanha e Inglaterra, só voltando a Espanha depois da morte de Franco.
É um dos meus autores de eleição, tendo criado personagens tão díspares como Torpedo 1936, onde retrata o dia a dia de um gangster de meia tijela e do seu disparatado ajudante,com o qual ganhou o Prémio Internacional de Angoulême em 1986, mas também outras séries como Sarvan, Kraken e as divertidas Clara de Noite e Cicca Dum-Dum, em parceria com argumentistas como Carlos Trillo,Horacio Altuna, Enrique Abulí ou Alberto Breccia entre outros.
Ganhou ainda duas vezes o Yellow Kid, como Melhor Autor Internacional no Festival de Lucca, em Itália, em 1978 e 1999, e Melhor Roteirista em Barcelona , entre muitos outros prémios internacionais.

Um autor do qual compro todas as edições que vou tendo a sorte de encontrar...


Ciúme


O marido gordo e pouco atraente olha desconfiado os "avanços"que o galã faz à sua mulher, amante, o que quiserem...
Este é um dos quadros em que a influência cartonista é evidente ,mas embora não sendo político/artisticamente correcto é um tipo de pintura que me dá muito gozo fazer.
Se gostares, dá a tua opinião.
Se não gostares ,dá na mesma...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ex-Citação 4

"Nunca cometa o mesmo erro duas vezes.
...A não ser que tenha sido bom."

Mae West

Curiosidade

Olhei o pelotão de fuzilamento perfilado.
Nunca assistira a um tal espectáculo e estava curioso.
Na minha, já longa, carreira de jornalista estivera presente em inaugurações,
tomadas de posse, cortejos, comemorações mas , realmente,
um fuzilamento era a primeira vez.
Os soldados levantaram as espingardas e encostaram-nas ao ombro.
Senti um frémito de emoção.
Levaram os dedos ao gatilho.
Abri bem os olhos para ver toda a cena.
"Fogo!"- gritou o tenente.

...só quando senti o impacto das balas no meu corpo é que caí no chão
com a curiosidade, finalmente, satisfeita.

Uma burra chamada Pretinha


A Pretinha é uma burra alentejana, com seis meses, que nasceu perto do Redondo.
Os donos são os meus filhos Francisco, Rodrigo e Afonso que me pediram para a colocar aqui no blog.
...Como a anarquia impera por estes lados aqui fica o bicharoco !

Mercado de rua na Coreia do Sul


Foi em Okpo, uma pequena cidade da Ilha Koje-Si, Coreia do Sul, que ao visitar um dos inúmeros "street markets" locais, fiquei surpreendido com a mistura de cores,aromas e texturas,tudo exposto na maior harmonia e grande higiene.
São servidos ?

Ex-Citação 3

"A Televisão é muito educativa...
Sempre que alguém liga uma, eu vou para o meu quarto ler um livro "

Groucho Marx

Milo Manara e as suas mulheres


Milo Manara, Maurílio Manara de seu verdadeiro nome, nasceu em Setembro de 1945 e é um criador italiano de Banda Desenhada, conhecido principalmente pelo arrojo dos seus temas sempre carregados de forte erotismo .Depois de ter estudado Pintura e Arquitectura iniciou uma carreira muito produtiva aparecendo em inúmeras publicações italianas de "Fumetti", mas o seu talento só seria reconhecido internacionalmente aquando da criação do personagem HP( inspirado no seu amigo e igualmente criador de banda desenhada, Hugo Pratt) e nas posteriores colaborações com o grande Federico Fellini.

Mas as mais famosas criações de Manara continuam a ser aquelas em que mulheres, sempre belas ,completamente amorais e muito sensuais, se multiplicam em histórias com pouca lógica, nudez abundante e muito erotismo como é o caso dos vários volumes de Click,O Perfume do Invisível, Mel, Curtas Metragens ou, mais recentemente Gulliveriana, Kama Sutra,Bolero ou a História dos Bórgia.

Mesmo sem dar muita importância aos argumentos, por vezes demasiado fantasiosos e pouco consistentes, é sempre um prazer passar os olhos pelos trabalhos deste artista que nos tem dado excelentes produções plásticas no campo da ilustração, da banda desenhada e até da publicidade.

Nas Ramblas


Em pleno Barrio Gótico de Barcelona, junto às decadentes mas sempre animadas Ramblas ,fotografei este grafiti.
Para muitos um vandalismo , para outros vanguardismo.
Para alguns expressão de arte, para outros apenas sujidade...
Qual é a tua opinião ?

Ex-Citação 2

"Democracia é quando eu mando em você.
Ditadura é quando você manda em mim "

Millôr Fernandes

A Caipirinha

Todos gabavam as suas caipirinhas.

E afinal era simples.

O copo baixo e de boca larga.
A lima bem verde sem manchas na casca.
As duas calotes esféricas cortadas
de modo a eliminar o máximo de película branca.
O restante do miolo dividido em três rodelas
e cada uma separada em quatro partes.
Tudo para o interior do copo, junto com
uma generosa colher de açúcar mascavado.

De seguida ,pisar demoradamente com um pilão.
Acrescentar dois dedos de cachaça popular.
Pitú, de preferência.
Mistura-se com colher de madeira e muito gelo picado.

Levou o copo aos lábios.
Só o cheiro transportou-o logo ao cimo do Corcovado.
À direita a Lagoa com destaque para o Jockey Clube.
Em frente Ipanema e Leblon,
separados pelo Jardim de Alah.
Lá mais ao fundo o Morro dos Dois Irmãos
e depois...

Sentiu o líquido a descer pela garganta.
Via agora as Cataratas de Iguaçu,
logo ali a Argentina, e toda a envolvência frondosa.
Ruído constante num torpor hipnótico.
Tucanos ignorando as leis da aerodinâmica, voavam...

Bebeu mais um trago.
Descia agora de piroga, onde os rios de duas cores se enlaçam
num eterno abraço de amantes.
A humidade amazónica e as ruas barrentas de Manaus ficavam para trás.

A caipirinha estabelecera já uma ponte
unindo a boca ao estõmago.

Imagens múltiplas pipocavam-lhe na mente.
Os cafés da manhã de Canela e Gramado.
As tartarugas gigantes de Jaguanum,as esculturas arquitectónicas de Brasília.
As dunas de Genipabu, em Natal.
Olinda e as igrejas coloniais.
As praias de búzios e a Sintra de Petrópolis.
Parati e Guarujá. Recife e Ouro Preto.
As figuras do Aleijadinho e os Drag Queens do Scala Gay.
Maracanã e o MASP.Favelas e rodízios.
Chá -mate ou limonada.
A Feira Hippy e a Loja Daslu.
O pelourinho em Salvador.
A Tenda dos Milagres,livro e restaurante.
Lula da Silva e o fio dental. Asa delta e Jõ Soares.
Uma mistura de cores,imagens, sabores...
Um caleisdoscópio sensual de vivências.

...Nesse momento a caipirinha chegou ao fim.

Em silêncio,foi até à varanda daquele 3o andar
e contemplou lá em baixo a Praça do Chile
e os prédios velhos e sujos que a rodeavam.

Ex-Citação 1

"O Mundo divide-se em pessoas boas e pessoas más.
As pessoas boas têm um sono tranquilo, as más divertem-se muito mais."

Woody Allen

Capoeira Lusitana

Naquela capoeira coexistiam as mais variadas aves.
Galinhas,patos, perúas, faisões, codornizes, fracas, rolas, cisnes, gansos
e, até, um pavão que já vira melhores dias.
À direita do recinto, a chefe, bastante contestada, era uma perúa magra e envelhecida
que, há muito, não emitia qualquer som.
No extremo, à esquerda da capoeira, havia um ganso esgaseado que, de vez em quando, acordava todos com o seu grasnar irritante.
O perú-bronzeado, também fazia os seus glu-glus amiúde,
tendo perdido, contudo, a criatividade de outros tempos
Mas, de momento, o mais popular era um galarote comprado na feira da Covilhã,
com mau génio e que não gostava de ser contrariado.
Entre bicadas e cacarejos sem sentido, os nossos passarocos lá iam vivendo partilhando o milho, cada vez mais racionado, e as rações que ainda iam chegando de fora,
mas sem a abundância de outros tempos.
Pelo meio, correndo de um grupo para o outro,apressavam-se os patos bravos,
tentando debicar aqui e ali, uma folha de couve, um pedaço de abóbora, o que calhasse.
As antigas glórias da capoeira, uma galinha anã , conhecida como cócó, e o pavão,
com feridas profundas e falta de penas, reuniam-se a um dos cantos mastigando conspirações.
O pavão, principalmente, adorava dar sinais de si, de tempos a tempos, e abrir a sua cauda em leque, mas já só os pequenos pintos se impressionvam, ainda, com todo aquele folclore vazio.
Os mais inteligentes foram dois patos marrecos que, há muito, tinham voado para capoeiras distantes e agora só apareciam ,de quando em vez, entre os seus vôos migratórios.

Foi então que, trazido não se sabe de onde, surgiu um galo como ninguém tinha visto até à data.
Preto com grandes corações pintados a amarelo, vermelho e azul.
Hirto, sem se mexer nem comer e, principalmente, sem emitir qualquer som.
Alguém sussurrou que tinha chegado de Barcelos, ouvira o caseiro dizer...

Logo se iniciou o Movimento do Galo de Barcelos ao Poder !!!

Foi eleito o rei da capoeira, por uma maioria esmagadora...
O pior foi que, depois de uma forte trovoada com relâmpagos à mistura,
foram encontrar o Galo todo partido aos pedaços.

Afinal, tinha pés de barro...