sábado, 27 de setembro de 2008

Unanimidade

A sala de reuniões tinha uma bela mesa de cerejeira envernizada e dezoito cadeiras forradas a veludo, com pés arqueados em talha dourada.
Nas paredes, os retratos de Freitas do Amaral, Adriano Moreira , Basílio Horta e Manuel Monteiro, entre outros, conferiam uma austeridade institucional à divisão.
O Presidente daquele pequeno partido conservador, levantou-se, pigarreou e declarou, com a sua voz bem colocada, tão característica:
"- Estamos aqui para aprovar um voto de confiança à presidência do nosso Partido, moi même, e definirmos quais os nossos objectivos mais imediatos."
Perante o silêncio geral, aclarou de novo a garganta e continuou, com o seu sorriso faíscante:
"- Não aos casamentos homossexuais.
- Expulsão imediata dos emigrantes clandestinos.
- Guerra feroz às ideias do Governo.
- Veto intransigente dos divórcios Simplex."
Ao arrumar os papéis, olhou em seu redor e concluiu, grave:
"- Vamos proceder, de imediato, à votação !".

O resultado foi 100% favorável às suas ideias.
Correu as cortinas da sala, desligou s luzes, olhou mais uma vez as cadeiras vazias...
...e guardou o voto no bolso, antes de fechar a porta.

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